"O QUE NÓS QUEREMOS DE FATO É QUE AS IDEIAS VOLTEM A SER PERIGOSAS" 1968, lido nos muros de Paris
“E agora que vocês viram no que a coisa deu, jamais esqueçam como foi que tudo começou” (Bertolt Brecht)
domingo, 25 de setembro de 2011
sexta-feira, 9 de setembro de 2011
Aprofundamento: Cultura Anos 50 e 60
A Terceira República (1945-1964)
Retomar o período da experiência liberal-democrática
de 1945-64 é uma oportunidade de explorar o momento em que a sociedade
brasileira viveu sua primeira experiência de eleitoralização da política. Ou
seja, o período em que conheceu partidos políticos nacionais e de massa; em que
experimentou eleições sistemáticas para o Executivo e o Legislativo (federal,
estadual e municipal); enfim, em que realizou o que se chama "aprendizado
da política" eleitoral, em novos e mais amplos marcos. (...)
Durante essas duas décadas aconteceram
quatro eleições presidenciais e seis para o Congresso, além de muitas eleições
estaduais e municipais. Todas elas evidenciaram um bom grau de correção e
competitividade, o que em grande parte se atribui à existência e ao
funcionamento da Justiça Eleitoral, além do aperfeiçoamento da legislação
eleitoral existente.
Evidentemente e ainda mais uma vez, não se
quer dizer com isso que inexistissem fraudes, violência, clientelismo etc.
Porém, tais eventos não chegaram a alterar significativamente quaisquer
resultados eleitorais, o que é compatível com dinâmicas políticas como a de
eleições. Mas é claro que não se vivia um mar de rosas. O Código Eleitoral
existente excluía os analfabetos e, desde 1947, alijou-se o Partido Comunista,
que continuou existindo e tendo papel importante. De toda forma, no Brasil de
1946-64, estabeleceu-se um sistema multipartidário de âmbito nacional, atuando
em condições de sufrágio universal e eleições competitivas, com efetiva
alternância de poder.
GOMES, Angela de Castro. "Jango e a República de 1945-64: da
República populista à Terceira República". In: SOIHET, Rachei (et. aI.)
Mitos, projetos e práticas políticas. Memória e historiografia. Rio de Janeiro:
Civilização Brasileira, 2009. p. 36 e 49.
A Batida da Bossa Nova
Nos anos JK surgiu uma inovação: a Bossa
Nova. Até então, a música brasileira era dominada pelo samba-canção e por
boleros, cujas letras geralmente falavam de amarguras e tristezas. No início
dos anos 1950, cantores influenciados pela música norte-americana atraíram a
atenção da juventude de classe média do Rio de Janeiro. Espalhou-se um
sentimento de que era preciso ser moderno e estar atualizado com as novidades
do mundo.
O movimento de renovação da música
brasileira ocorreu em 1958, quando a cantora Elizeth Cardoso lançou um disco
com a música "Chega de saudade", de Tom Jobim e Vinicius de Moraes. João Gilberto
acompanhava tocando com uma batida de samba inovadora no violão, que foi
chamada de Bossa Nova. No ano seguinte, João Gilberto lançou seu primeiro
disco, a partir do qual a Bossa Nova caiu no gosto da classe média até se
tornar mundialmente conhecida.
A "batida da Bossa Nova" atraiu
muitos jovens, que abandonaram o estudo do acordeão – um gosto da época - para
aprender a tocar violão. Influenciados por estilos musicais norte-americanos
adaptados ao ambiente cultural brasileiro, principalmente o jazz e suas
variações, os jovens artistas recriaram a maneira de tocar, cantar e compor o
samba. As letras não falavam de tragédias, mas ressaltavam temas como o amor, a
natureza e a alegria. A parceria de Tom Jobim com Vinicius de Moraes produziu
músicas cantadas até hoje, como a própria "Chega de saudade", "Se todos fossem iguais a você" e "Garota de Ipanema" - uma das canções mais reproduzidas no mundo.
"Bossa nova é ser
presidente
Desta terra descoberta por
Cabral
Para tanto basta ser tão
simplesmente
Simpático, risonho,
original.
Depois desfrutar da
maravilha
De ser o presidente do
Brasil,
Voar da Velha-Cap pra
Brasília,
Ver a Alvorada e voar de
volta ao Rio.
Voar, voar, voar, voar,
Voar, voar pra bem distante, a
Té Versalhes onde duas mineirinhas valsinhas
Dançam como debutante, interessante!
Voar, voar pra bem distante, a
Té Versalhes onde duas mineirinhas valsinhas
Dançam como debutante, interessante!
Mandar parente a jato pro
dentista,
Almoçar com tenista campeão,
Também poder ser um bom artista exclusivista
Tomando com Dilermando umas aulinhas de violão.
Almoçar com tenista campeão,
Também poder ser um bom artista exclusivista
Tomando com Dilermando umas aulinhas de violão.
Isto é viver como se
aprova,
É ser um presidente bossa nova.
Bossa nova, muito nova,
Nova mesmo, ultra nova!"
É ser um presidente bossa nova.
Bossa nova, muito nova,
Nova mesmo, ultra nova!"
Juca Chaves. Presidente bossa nova - 1956.
Cinema e o Estilo da Chanchada
A Atlântida, empresa cinematográfica
fundada em outubro de 1941, chegou a seu auge na década de 1950, tendo como
principal gênero de filmes as chamadas chanchadas, produções de baixo custo e
roteiro simples. Baseados nos filmes de Hollywood, os diretores utilizavam como
recursos a paródia e a comédia, criando identificação do trabalhador de baixa
renda com os personagens.
O cinema nacional era uma forma de
diversão que não exigia a leitura de legendas - era elevado o número de
analfabetos na época. Os ingressos eram baratos. Assim, com público garantido e
salas sempre cheias, o cinema tornou-se uma diversão de massa.
Ainda nos anos 1950, a carioca Atlântida
teve de concorrer com empresas paulistas, sobretudo a Vera Cruz, que tinha como
proposta realizar filmes com sofisticação técnica e artística, no mesmo nível
de Hollywood. Nas décadas de 1950 e 1960, o cinema nacional produziu cerca de
300 filmes. No entanto, sem condições de concorrer com a indústria
cinematográfica norte-americana e com o início da difusão da televisão no
Brasil, as principais empresas de cinema fecharam suas portas.
A Busca de Novos Caminhos
Cinema,
Teatro, Literatura.
Nos anos 1950 e 1960, a sociedade
brasileira conheceu movimentos culturais inovadores. Durante os anos JK, o
diretor Nelson Pereira dos Santos lançou o filme Rio 40 graus. A originalidade do filme foi a de mostrar a realidade
urbana no Brasil, influenciando outros cineastas. As inovações também ocorreram
no teatro. Em 1956, no Teatro Municipal do Rio de Janeiro, estreou uma peça
marcada pelo experimentalismo. Com adaptação de Vinicius de Moraes, cenários de
Oscar Niemeyer e atores negros, Orfeu da
Conceição transportava o drama grego para as favelas cariocas.
Em São Paulo, jovens atores que militavam
no Partido Comunista estrearam em 1958 a peça Eles não usam black-tie, drama sobre conflitos em uma família operária de São Paulo
no decorrer de uma greve. A partir daí, o grupo que trabalhava no Teatro de
Arena encenou textos de autores nacionais, em um esforço para nacionalizar e
popularizar o teatro no Brasil.
Houve inovações ainda na literatura. Em
1956, Fernando Sabino publicou o livro O
encontro marcado, que teve grande repercussão na época. No mesmo ano, João
Guimarães Rosa tornou-se conhecido mundialmente com o livro Grande sertão: veredas, enquanto Jorge
Amado, abandonando os rígidos padrões estéticos do PCB, inovou com Gabriela, cravo e canela. Muitos
artistas participaram de um influente movimento chamado de concretismo.
Durante o governo de Goulart, jovens
ligados à UNE fundaram o Centro Popular de Cultura (CPC). Percorrendo o
interior do Brasil, nas praças das pequenas cidades, em teatros improvisados e
circos, os estudantes encenavam peças, cantavam suas músicas e liam seus poemas
com o objetivo de levar ao povo o que eles chamavam de "arte
revolucionária”.
Um grupo de cineastas, ainda durante o
governo JK, inovou o cinema nacional. Mas o movimento conhecido como Cinema
Novo amadureceu durante o governo Jango. Três filmes marcantes foram produzidos
entre 1963 e 1964: Vidas secas, de Nelson Pereira dos Santos; Os fuzis, de Ruy Guerra; e Deus e o Diabo na Terra do Sol, de Glauber Rocha. O CPC da UNE patrocinou o
filme Cinco vezes favela, revelando o
talento dos diretores Carlos (Cacá) Diegues, Joaquim Pedro de Andrade e Leon
Hirszman. Também patrocinado pelo CPC, Eduardo Coutinho começou as filmagens de
Cabra Marcado Para Morrer,
somente concluído anos depois. O CPC também lançou uma coleção de pequenos
livretos intitulada Cadernos do povo
brasileiro.
Além disso, brasileiros também obtiveram
projeção mundial em outras áreas nessa época. A tenista brasileira Maria Ester
Bueno venceu importantes torneios em, Wimbledon
e Roland Garros. Em 1961, o pugilista Éder Jofre ganhou título mundial dos
pesos galo pela National Boxing
Association. Em 1963, Ieda Maria Vargas foi eleita mulher mais bela do
mundo no concurso de Miss Universo.
Nacional-Desenvolvimentismo
Nacional-desenvolvimentismo é uma
expressão que traduz um projeto para o país: o desenvolvimento nacional. Grupos
políticos que governaram o Brasil após 1930 interpretaram que o atraso
econômico brasileiro era resultado da sua condição de agroexportador de café e
dependente dos grandes centros capitalistas. Assim, o desenvolvimento econômico
não seria alcançado apenas pela atuação das leis de mercado regidas pelo
liberalismo econômico.
O projeto desenvolvimentista implicava na
necessidade de o Estado atuar no planejamento econômico e no financiamento da
produção; incentivar a industrialização por meio da substituição das
importações; diversificar e modernizar a produção agrícola; reorientar a
produção visando formar um mercado interno de consumidores.
Fizeram parte desse processo: a legislação
social dos anos 1930; a expansão do setor público, com uma série de
ministérios, conselhos e autarquias; a fundação de empresas estatais, como a
Companhia Siderúrgica Nacional, a Companhia Vale do Rio Doce e a Petrobras; a
criação de bancos de investimentos, a exemplo do Banco Nacional de
Desenvolvimento Econômico (BNDE), Banco do Nordeste e Banco da Amazônia.
O projeto nacional-desenvolvimentista não
excluía o capital estrangeiro ou os setores vinculados à agricultura. A meta
era alterar profundamente as estruturas econômicas e sociais da sociedade brasileira:
transformar a economia
agrária em industrial; superar a dependência do mercado internacional,
alcançando maior autonomia; reorientar o modelo econômico do Brasil,
privilegiando o mercado interno e não somente as exportações. Por fim, o
projeto de crescimento econômico visava distribuir melhor a riqueza gerada com
a industrialização.
História: O
mundo por um fio: do século XX ao XXI, vol. 3/Ronaldo Vainfas... (et al.). SP:
Saraiva. 2010
Conexões com
a história, vol.3/Alexandre Alves... (et al.) SP: Moderna 2010
quinta-feira, 8 de setembro de 2011
DOCUMENTÁRIOS SOBRE A DITADURA MILITAR NO BRASIL
O Dia Que Durou 21 Anos
Em clima de suspense e
ação, o documentário apresenta os bastidores da participação do governo dos
Estados Unidos no golpe militar de 1964 e instaurou a ditadura no Brasil. Os 3
episódios mostram como os Estados Unidos agiram para planejar e criar as
condições para o golpe. E, depois, para sustentar e reconhecer o regime militar
do governo do marechal Castelo Branco. As cartas e o áudio dos diálogos de
Gordon com o primeiro escalão do governo americano são expostos. Entre os
interlocutores, o presidente Lyndon Johnson, Dean Rusk, Robert McNamara. Além
de conversas telefônicas de Johnson com George Reedy, Dean Rusk; Thomas Mann e
George Bundy, entre outros. Textos de telegramas, áudio de conversas
telefônicas, depoimentos contundentes e imagens inéditas fazem parte dessa
série iconográfica, narrada pelo jornalista Flávio Tavares.
Tempo de Resistência
Direção: André Ristum
Áudio: Português
Duração: 115 minutos
Condor
Condor foi o nome dado à sinistra conexão entre governos militares sul-americanos, com o apoio da CIA, que culminou com a morte de cerca de 30 mil pessoas nos anos 70. Outros 400 mil foram presos e 4 milhões exilados. Roberto Mader conta essa história através de depoimentos emocionantes e surpreendentes de generais e ativistas políticos, torturadores, vítimas e parentes dos desaparecidos.
Condor foi filmado em quatro países e traz um material de arquivo, acompanhado de belas composições de Victor Biglione.
quinta-feira, 1 de setembro de 2011
PARA REFLETIR
”Os animais lutam, mas não fazem guerra. O homem é o único primata que planeja o extermínio dentro de sua própria espécie e o executa entusiasticamente e em grandes dimensões. A guerra é uma de suas invenções mais importantes;...” (ENZENSBERGER, Hans M. Guerra civil. SP. Cia das Letras. 1995.)
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