Animação nacional percorre seis séculos de História do Brasil sob uma
ótica que não está nos livros didáticos.
“Viver sem conhecer o passado é andar no
escuro.” Com seus traços duros e uma linguagem tradicional das revistas de
histórias em quadrinho, o filme tem como mote a internalização do passado, para
que o presente não seja um completo desperdício. Abeguar (Selton Melo), além de
protagonista, é quem conduz a narrativa. É sob sua ótica e perspectiva, que
quatro fases da trajetória do Brasil são desenhadas diante de nossos olhos: a
colonização, a escravidão, o regime militar e o futuro, em 2096.
No comecinho da colonização portuguesa, no
século XVI, a região da Bertioga era considerada a transição entre o território
tupinambá, que ia desde o cabo de São Tomé, no que hoje é o Rio de Janeiro, até
o rio Juqueriquerê, em Caraguatatuba e o território dos tupiniquins, que ia
desde as cercanias de São Vicente, passando por Itanhaém e Peruíbe, até
Cananeia. Sofrendo constantemente com os ataques dos tupinambás de Ubatuba, os
portugueses do núcleo vicentino decidiram construir o forte de São José da
Bertioga.
É mais ou menos neste contexto que se dá o
início do filme. Abeguar atinge sua “maioridade” ou, trocando em miúdos, acaba
de virar “macho” – segundo a tradição tupinambá, o menino vira homem ao matar
sua primeira onça – quando lhe é concedida a “singela” missão de salvar o mundo
da fúria de Anhangá. Opositor direto de Munhã, espécie de guia espiritual
indígena, Anhangá representa a invasão dos portugueses, o extermínio dos índios
e todas as mazelas decorrentes disto, como a prevalência do mais forte sobre o
mais fraco, do mais rico sobre o mais pobre, do poder sobre a justiça.
Durante o período regencial brasileiro, o
Maranhão algodoeiro passava por uma grave crise econômica, devido à
concorrência com os Estados Unidos. Aqui, o protagonista aparece na pele de
Manuel dos Balaios, um vaqueiro benfeitor dos arredores de São Luís, que
ajudava escravos fugidos das plantações e, posteriormente, vem a se tornar
líder da rebelião que ficou conhecida como Balaiada. Os líderes balaios - na
História e no filme - foram mortos em batalha ou capturados. Abeguar/Manuel,
claro, vira pássaro e dá prosseguimento à sua jornada.
Ele só reencontra Janaína – aquela que
parece ser a única força motriz capaz de transformá-lo em homem novamente e no
herói que a História precisa, como previu Munhã – no Rio de Janeiro de 1968, em
plena Ditadura Militar. Abeguar é Cau, um jovem estudante que adentra no dito
(e fictício) Movimento Revolucionário da Ação Democrática, uma fabriqueta de
guerrilheiros esquentadinhos, para ficar mais próximo da garota que de nada se
lembra sobre suas vidas passadas. O velho tupinambá vive em Cau até 1980,
quando é baleado durante uma batida policial na favela em que mora com o amigo
Feijão, antigo companheiro de cela na época do regime militar.
“Meus heróis nunca viraram estátua.
Morreram lutando contra os caras que viraram.” A frase, que parece tentar
resumir, ainda que de forma simplista, a História do Brasil é uma crítica ao
nosso passado e presente, mas também ao futuro. Futuro este que, na visão do
roteirista e diretor Luiz Bolognesi, está perdido. Da década de 80, Abeguar
alça voo para a futurística Cidade Maravilhosa de 2096. E a partir daí são
apenas previsões em tom de alerta. A “cidade mais segura do mundo”, protegida
por milicianos que têm até ações na bolsa de valores é também a cidade do sexo,
a cidade onde a água custa mais caro do que uísque importado.
Diz-se da História que ela é sempre
contada a partir do ponto de vista dos vencedores, este filme é uma boa
oportunidade para conhecer um pouco do amor e da fúria dos derrotados.
Ano: 2012
Áudio: Português
Duração: 74 minutos
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