Oscar Niemeyer fundou uma
imagem do Brasil e elevou ao máximo a expressão de sua arte.
Nascido em 1907, o
arquiteto se envolveu com os princípios do movimento modernista desde cedo. Aos 29 anos, já participava do projeto de
construção do prédio do MEC, na antiga capital brasileira, Rio de Janeiro. A
obra ainda refletia, segundo o professor de arquitetura da PUC-Rio João Masao
Kamita, um Modernismo mais ligado ao que se fazia fora do país. Um indício
disso seria a consultoria prestada pelo arquiteto franco-suíço, Le Corbusier.
O Modernismo nasceu em um contexto de
industrialização e racionalidade. O movimento reivindicava uma racionalização
da arquitetura. A forma deveria ser criada priorizando a funcionalidade, de
maneira direta, sem enfeites ou ornamentação. A noção de design e de formas
limpas, trazida especialmente pela escola alemã Bauhaus, foi um dos motores da
ação dos artistas.
Com o tempo, Oscar Niemeyer tentou
incorporar os preceitos a outros elementos, desta vez, nacionais, para a
construção de um Modernismo brasileiro. Nessa busca, foi imprimindo formas tão
próprias, tão peculiares, que se tornaram sua marca registrada. “O traço dele é
muito individual. Ninguém consegue extrair dali algum exemplo para fazer
parecido, porque fica com cara de imitação”, afirma Kamita.
“A Pampulha foi a grande surpresa. Niemeyer
mostrou como dominar a ideia de espaço, a forma moderna e produzir boa
arquitetura”, comenta o professor. “Ele não só entendeu o que era a arquitetura
moderna, como fez algo diferente. Foi um recado: ‘O Brasil consegue ser moderno
sem imitar ninguém’. Esse foi o grande fenômeno”, observa Kamita.
O segundo grande divisor de águas na
carreira de Niemeyer foi a maior de suas obras: os edifícios que compõem
Brasília. A capital do país destaca-se pela singularidade de ser a utopia
máxima da arquitetura e do urbanismo. Uma cidade erguida no meio do nada e
partir do nada com liberdade total de implementação de um modelo técnico e
artístico.
Não é unanimidade
O professor da PUC-Rio afirma que, por
mais que o arquiteto tenha sido, de fato, um gênio, não pode ser uma
unanimidade. “Ele foi tão importante e tão marcante, que precisa ser objeto de
estudos críticos, e não de aceitação passiva. Tem que ser discutido, debatido e
questionado”. “Ninguém nega sua importância, mas isso não quer dizer que ele tenha
sido perfeito. Foi um grande arquiteto, sim, mas não pode mistificar demais”,
conclui o pesquisador.
Gustavo Rocha-Peixoto, professor de
Arquitetura da UFRJ, indica que Brasília é a imagem do país. “Niemeyer
conseguiu juntar toda sua habilidade para inventar uma imagem do Brasil que se
estabeleceu definitivamente. Um Brasil poderoso, otimista, pujante, ousado. É a
própria imagem da República brasileira. É a imagem quase natural para se falar
das grandes instituições, do Brasil republicano e capaz de inventar sozinho”,
exalta o pesquisador.
Comunista que era, Oscar Niemeyer teve uma
fase na vida em que chegou a recusar diversos projetos para a iniciativa
privada. Preferia trabalhar com governos, projetando prédios públicos, de uso
democrático. E exemplos de museus, teatros, monumentos, praças e igrejas feitos
pelo arquiteto não faltam no país. Entre suas obras mais importantes no mundo
estão a sede da ONU, em Nova York, a sede do Partido Comunista Francês, em
Paris, e a Universidade Mentouri de Constantine, em Argel.
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