É lançado na internet o projeto 'Brasil: Nunca Mais', que disponibiliza
mais de 900 mil páginas de documentos produzidos durante a ditadura
civil-militar
Minha jangada vai sair pro mar
Vou trabalhar, meu bem querer
Se Deus quiser quando eu voltar do mar
Um peixe bom eu vou trazer
Meus companheiros também vão voltar
E a Deus do céu vamos agradecer
Dorival Cayimmi, “Suíte do Pescador”
Os versos acima costumavam ser
cantarolados por presos políticos da ditadura militar na tentativa de animar
aqueles que eram chamados da cela para a sala de tortura. Isso foi o que contou
Eliana Rolemberg - presa pela Operação Bandeirantes (Oban) em 28 de fevereiro
de 1970 -, durante o Ato Público de Repatriação dos documentos do projeto Brasil:
Nunca Mais, ocorrido em 2011. A iniciativa, que teve o objetivo de
documentar o que ocorria nas prisões políticas do regime, gerou mais de 900 mil
páginas de documentos que estarão disponíveis online, para consultas e
pesquisas, a partir desta quarta-feira, 9 de agosto.
Em 1979, um grupo de religiosos do
Conselho Mundial de Igrejas (CMI) e uma equipe do escritório de advocacia de
Sobral Pinto deram início ao ambicioso projeto de obter, junto ao Superior
Tribunal Militar (STM), em Brasília, informações e evidências de violações de
direitos humanos praticadas por agentes do aparato repressivo do Estado durante
a ditadura militar, a fim de compilar essa documentação em uma espécie de
livro-denúncia.
Inseridos no contexto de uma delicada
conjuntura nacional – um momento em que a ditadura ainda estava em curso –,
surgiu a preocupação com a apreensão do material pela repressão. A alternativa
encontrada foi microfilmar tudo e enviar a documentação para o exterior. A
reprodução dos 707 processos judiciais consultados totalizou cerca de 1 milhão
de cópias em papel e 543 rolos de microfilmes que, em 2011, foram oficialmente
devolvidos pelo Center for Research Libraries, de Chicago, e que, logo mais,
estarão à disposição de toda a sociedade no site Brasil: Nunca Mais Digital.
A digitalização tem como mote a
preservação de um valioso acervo que integra o patrimônio histórico e cultural
brasileiro. A manutenção, no Brasil, de todo o material relativo ao Brasil:
Nunca Mais é, também, parte fundamental do processo de afirmação do direito
à verdade, à informação e à memória. Nas palavras da advogada Eny Raimundo
Moreira, responsável pelo pontapé inicial no projeto, “a luta contra o poder é
a luta da memória contra o esquecimento”.
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