Cartas de Leopoldina no Museu Imperial destacam sua importância como protagonista política
Déborah Araujo
Há mais de 50 arquivos e coleções no Museu
Imperial com documentos que fazem referência à imperatriz, de acordo com Thais
Martins Lepesteur, pesquisadora do setor de Arquivo Histórico. São cartas
escritas por D. Leopoldina para parentes, clérigos, naturalistas, políticos,
entre outras personalidades de sua época, bem como correspondências endereçadas
a ela e a seu marido, D. Pedro I. Além desses manuscritos, a lista de itens do
rico acervo inclui documentos oficiais de Estado, diários de viagens, cadernos
de pesquisas em ciências naturais – tanto da imperatriz quanto de seu marido –
e notas sobre aquisições de bens e sobre a herança da monarca. “Não foi
elaborado um catálogo definitivo da documentação sobre D. Leopoldina, e sim uma
listagem preliminar que ainda passará por revisão”, ressalta Thais. Ainda
assim, a museóloga garante que a documentação tem sido frequentemente
consultada ao longo dos 70 anos da instituição.
Segundo Viviane Tessitore, mestre em
História Social pela Universidade de São Paulo (USP), o estudo das cartas
relacionadas à D. Leopoldina permitem a visualização de traços da personalidade
da imperatriz, aspectos de seu cotidiano e da Corte em parte do período joanino
e do Primeiro Reinado, bem como sua relação com o marido, familiares e amigos.
“Podemos visualizar também algo do significado político de seu casamento com D.
Pedro I e muito do seu protagonismo no cenário político da Independência e do
primeiro Reinado”, ressalta a pesquisadora. Seus textos demonstram o grande
carinho e parceria na relação com seu marido.
Em carta a Dom Pedro I, de 19 de agosto de 1822 (São Cristóvão, Rio de Janeiro), D. Leopoldina escreveu: “Meu querido e prezado esposo. Mesmo sendo privada de notícias suas, que é muito custoso a meu coração, acho meu dever e único meio de aliviar as minhas saudades escrever-lhe. (...) Chegou um navio de Nantes [França], que trouxe a notícia de que o exército francês forte de 1.000.000 de homens passou os Pirineus; que os austríacos e os prussianos são na Itália fortes de 2.000.000 de soldados, para fazer guerra à Península, e que o Marechal Beresford [militar inglês, comandante-chefe do exército português na luta contra os franceses] saiu da Inglaterra com 20 navios”.
Os conhecimentos da imperatriz eram
valiosos para D. Pedro I e para a política externa e interna do Brasil. “Ela
desempenhou papel importante na cena política da época, intermediando a vinda
de colonos e soldados germânicos e servindo de intérprete na chegada dos
mesmos, além de se empenhar junto ao pai, o imperador Francisco I, pelo
reconhecimento da Independência e proclamação do Império do Brasil”, declara a
pesquisadora Maria de Lourdes Viana Lyra, do Instituto Histórico e Geográfico
Brasileiro. A pesquisadora também chama a atenção para a importância documental
das centenas de cartas escritas por D. Leopoldina encontradas em arquivos da
Áustria e de Portugal, “por ressaltar o perfil de agente atuante e plenamente
consciente do papel assumido com o casamento que lhe cabia desempenhar em prol
do fortalecimento da forma de governo monárquica instalada no Novo Mundo desde
1808”.
Entre as cartas do acervo do Museu
Imperial de Petrópolis, destacam-se muitas notas de condolências enviadas ao
imperador em decorrência da enfermidade, e posterior falecimento, de D.
Leopoldina, após sofrer o aborto de sua nova gravidez, em dezembro de 1826. Um
número imensurável de pessoas lamentou a morte da primeira imperatriz do
Brasil, “que morreu no exercício do cargo de Regente do Império e cujo papel de
protagonista no contexto das relações e dos interesses estabelecidos em prol da
consolidação do Brasil monárquico e imperial era então reconhecido e
pranteado”, argumenta Maria de Lourdes. Para ela, isso mostra a necessidade de
“urgente revisão do perfil da D. Leopoldina, usualmente retratada como
personagem secundária e sem a devida importância em muitos trabalhos historiográficos”.
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