Por onde andam os calceteiros, tropeiros e
funileiros? Varridas do mapa desde que as grandes indústrias começaram a
pipocar pelo mundo, profissões como essas deixaram seu rastro no Museu de Artes
e Ofícios (MAO). Com ferramentas que fazem as novas gerações franzirem a testa,
o acervo conta a história da labuta desde o século XVIII aos dias de hoje.
São mais de dois mil objetos
confeccionados em madeira, ferro, couro e cerâmica. Tudo feito na munheca,
conforme pediam aqueles tempos. A localização do museu é adequada: fica na
Praça Rui Barbosa, s/n, Centro, colado à Estação Central de Belo Horizonte, por
onde passam milhares de trabalhadores todos os dias. Visitas às terças, quintas
e sextas, das 12h às 19h, fins de semana das 11h às 17h e quartas-feiras das
12h às 21h. Ingressos a R$ 4 (meia-entrada para estudantes e idosos). Aos
sábados, a entrada é franca.
Mais informações no site do MAO ou pelo telefone: (31) 3248-8600.
Mais informações no site do MAO ou pelo telefone: (31) 3248-8600.
Telefonista
Além de solícitas, as telefonistas tinham que ser discretas: afinal,
precisavam ouvir a conversa inteira dos assinantes para que, após a despedida,
encerrassem a ligação.
A profissão que empregou milhares de mulheres
no Brasil durante a primeira metade do século XX surgiu nos Estados Unidos em
1876: no início, eram homens que faziam a conexão para as conversas quando
notavam a luz piscando no painel da central telefônica. Depois a função passou
a ser predominantemente feminina. Além de terem a voz suave, facilmente
reconhecível nas chamadas ainda cheias de ruídos, as damas eram consideradas
mais educadas e “faladoras”. Num momento em que a mulher começava a entrar no
mercado de trabalho, ser telefonista não trazia muitos problemas em casa, já
que o expediente tinha horário fixo e a tarefa era executada em espaço fechado,
junto a outras moças.
Durante a Segunda Guerra (1939-1945),
telefonistas do mundo inteiro trabalharam dia e noite para transmitir recados urgentes,
que poderiam salvar vidas. “Nesses instantes dramáticos em que o seu esforço é
incompreendido, a telefonista lança ao mundo a súplica dos heróis humildes,
obscuros, esquecidos”, escreveu um repórter na revista Sino Azul,
em maio de 1943. Nos anos 1970, com a difusão de aparelhos eletrônicos, o
serviço de telefonista começou a cair em desuso, assim como boa parte do
romantismo da profissão original. Migrando para “centrais de atendimento ao
cliente” de empresas, e em vez de ouvirem conversas de outras pessoas, aturam
irritadas reclamações, quase sempre passando o problema adiante.
Acendedor de lampiões e Cocheiro
Profissões que desaparecem ou se transformam podem ajudar a contar a
história de uma sociedade. Relembre os ofícios de acendedor de lampiões e
cocheiro.
Acendedor de lampiões
“Lá vem o
acendedor de lampiões da rua!/ Parodiar o sol e associar-se à lua”, saudava o poeta Jorge de Lima em 1909. Hoje poucos
sabem, mas antes de as cidades serem amplamente iluminadas pela luz elétrica,
lampiões eram colocados em pontos estratégicos da cidade. E acendê-los era uma
função muito apreciada.
Os acendedores de lampiões entravam em
cena no finzinho da tarde, com uma vara especial dotada de uma esponja de
platina na ponta. Ao amanhecer, apagavam, limpavam os vidros e abasteciam,
quando necessário. Em 1830, na cidade de São Paulo, usavam azeite como
combustível. Somente na metade do século o gás chegou à capital paulista. No
Rio de Janeiro, em 1850, o célebre barão de Mauá iluminou a atual Av.
Presidente Vargas da mesma maneira.
O lampião a gás foi inventado em 1792, na
Inglaterra, e serviu para aumentar a jornada de trabalho nas fábricas. Mas seu
impacto foi ainda maior no dia a dia das cidades. Com eles, a noite ganhou
vida. Teatros, cafés, restaurantes – a vida social passou a não depender mais
da luz do sol. Nas noites de lua cheia, quando era possível aproveitar a luz
natural, os acendedores eram dispensados de sua função. Até que em 1879 a
iluminação elétrica foi anunciada em grande escala. Durante um bom tempo, os dois
sistemas coexistiram, mas, pouco a pouco, a novidade ganhou mais espaço. No
último dia de 1933, seguindo o curso inevitável da modernidade, apagou-se o
último candeeiro na cidade do Rio de Janeiro. Junto com ele desaparecia a
simpática profissão de acendedor de lampiões.
Antes da chegada da família real, não era
fácil se deslocar no Brasil. Andava-se a pé, em carros de boi ou no lombo de
animais. A partir de 1808... continuou difícil. Mas, em compensação, que
classe! Junto com a nobreza europeia vieram coches, carruagens, seges e cabriolets,
que fizeram a alegria dos mais abastados. Para o resto da população, a única
maneira de utilizar os novos meios de transporte era conseguindo o emprego de
cocheiro.
Nas décadas seguintes, a profissão ganhou
espaço, com o surgimento de novas opções de transporte, como veículos coletivos
e carroças. Os cocheiros estavam por toda parte, mas não tinham vida fácil. Em
protesto contra os baixos salários, multas e excesso de horas trabalhadas, eles
organizaram várias greves. João do Rio, em A alma encantadora das
ruas (1908), descreve outros problemas: “O ofício, longe de tornar
ágeis os corpos, faz lesões cardíacas, atrofia as pernas, hipertrofia os
braços”.
A chegada dos automóveis, produzidos em larga
escala, praticamente decretou o sumiço dos cocheiros nos centros urbanos. Hoje
eles são vistos naquelas cerimônias metidas a chiques que resolvem ressuscitar
as carruagens. Provavelmente, meros atores contratados para o papel. Para
encontrar um mais próximo do “original”, melhor buscar, numa cidade do
interior, o clássico passeio de charrete.
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