Onda de protestos contra aumento das passagens de ônibus em São Paulo
provoca reação exagerada da polícia e declarações polêmicas por parte dos
governantes.
“Se a
passagem não baixar, a cidade vai parar.” E parou. Não uma, mas várias vezes.
Na última semana, uma série de protestos levou milhares de pessoas às ruas de
São Paulo contra o reajuste de R$ 0,20 na tarifa cobrada pela passagem de
ônibus. O aumento gerou uma onda de insatisfação tão grande que foi capaz de
tirar até mesmo a tal geração Y da frente de seus computadores. Encabeçados
pelo Movimento Passe Livre, os
manifestantes deram nó no trânsito ao fechar as principais avenidas da cidade.
O fato foi encarado pelas autoridades como crime contra a ordem pública e a
resposta dos governantes veio por meio de um truculento aparato de “segurança”,
expandindo o movimento para além dos próprios limites.
O reajuste das passagens na capital
paulista foi anunciado pelo prefeito Fernando Haddad (PT) em maio deste ano e
entrou em vigor no último dia 2 de junho, num domingo. Na quinta-feira da mesma
semana, a população já tomava conta das ruas e uma faixa, entre tantas outras,
com os dizeres “vamos repetir Porto Alegre” deixava claro: a onda de protestos
iniciada na capital gaúcha tomaria conta do Brasil. Porto Alegre foi o primeiro
caso em que as manifestações conseguiram barrar o reajuste da tarifa, reduzindo
o valor da passagem de R$ 3,05 para R$ 2,85 e mostrando que lutas populares, ao
contrário do que pensa o senso comum, têm lá sua força.
Na última terça-feira (11), em Paris, o
governador do Estado de São Paulo, Geraldo Alckmin (PSDB), afirmou que a
interrupção do trânsito durante um protesto é “ato de vandalismo” e, portanto,
deve ser tratado como "caso de polícia". E como caso de polícia ele
vem sendo tratado. Só nesta quinta-feira (13), a polícia deteve ao menos 235
pessoas durante o quarto dia de manifestações, que reuniu cerca de 5.000
manifestantes, segundo a polícia. Entre os presos estavam um repórter da Carta Capital e outras 40 pessoas, levadas para a 78º DP, nos Jardins, por
porte de vinagre (que, em tese, ameniza os efeitos do gás lacrimogênio). Quatro
jovens seguem presos, sem direito a pagamento de fiança. O motivo? Formação de
quadrilha. Aos afiançáveis, a bagatela é de R$ 20 mil.
Em entrevista no Palácio dos Bandeirantes realizada nesta sexta-feira (14), Alckmin
disse que a corporação tem o dever de "proteger a população, garantir o
direito de o comércio abrir e preservar o patrimônio público". Além disso,
o governador afirmou que os batalhões de choque da Polícia Militar agem desta
forma no intuito de evitar manifestações mais violentas.
Não é de
hoje que “questão social é caso de polícia”. A célebre expressão foi atribuída
ao ex-presidente brasileiro Washington Luís e resumiu sua postura frente às
revoltas populares que incomodavam o governo, entre 1926 a 1930.
Aparentemente, 80 anos se passaram e a ação truculenta do Estado diante
de movimentos sociais permanece. Para o historiador Paulo Terra, a conivência
da grande imprensa com o discurso marginalizante acompanha este processo.
“Ambas as formas de criminalização, por
parte do Estado e por parte da imprensa, não são novidade na história do país.
Desde o primeiro movimento contra o aumento do valor das passagens, ainda no
século XIX, é possível observar a forte repressão policial e a cobertura,
muitas vezes, detratora nas folhas dos jornais”, diz ele referindo-se à chamada Revolta do Vintém, de 1879.
Em ação semelhante a das autoridades
paulistas, o governador do Rio de Janeiro, Sérgio Cabral (PMDB) tentou deslegitimar as manifestações ao afirmar, nesta
quinta-feira, que os protestos têm um “ar político” e “não espontâneo”.
Segundo ele, os “baderneiros” não estavam ali para defender interesses
públicos, mas para gerar um clima de confusão.
A postura de Alckmin e Cabral – assim como
do prefeito Haddad que negou qualquer redução nas tarifas - conta, ainda, com o
apoio do Governo Federal. O ministro da Justiça, José Eduardo Cardozo (PT),
também andou tecendo críticas às manifestações e pediu à Polícia Federal o
acompanhamento dos protestos. “O governo federal está à disposição do governo
de São Paulo e de qualquer outro estado em que isso aconteça para apoiar
naquilo que for solicitado”, disse.
Para o
historiador Rafael Lima, da PUC-Rio, não há justificativa plausível para a
truculência do poder público que – independente da filiação partidária – acusa
os manifestantes de vandalismo e formação de quadrilha. “É deplorável que a
maioria dos meios de comunicação subestime nossa inteligência e acusem as
mobilizações de constituírem veículo de interesse político-partidário”,
argumenta.
E conclui: “As
mobilizações ganham as ruas porque é nelas que a população se sente mais
ultrajada, mais usurpada em sua cidadania, mais desrespeitada enquanto
coletividade. Na rua está a alma da cidade, para usar a feliz expressão de João
do Rio. E se causam transtornos, paciência. Significa que, felizmente, a cidade
ainda dá sinais de vida em meio a tanta especulação e espetacularização.”
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A revolta da farinha
Ótima matéria ! Te convido a ler o texto a seguir , postado no Blog do Juca Kfouri. Abraço.
ResponderExcluirPOR ROBERTO VIEIRA
Tapajós e Blanc se divertem.
Samba e futebol didáticos.
Golbery recomenda calma.
Em quinze minutos eles se calam.
Mas lá fora, nas ruas…
O Brazil que não conhece o Brasil toma um susto.
Filas no metrô.
Sardinhas nos ônibus.
O Brasil diz:
‘Welcome!’
Brasil dos doentes atendidos no chão.
Das mães de maio, junho e julho.
Filhos nos braços em febre.
Brazil do Sírio Libanês.
Brasil do Amapá e Amazonas,
recordistas em óbitos infantis.
Welcome!
Brasil da escolas públicas de pau a pique.
Brasil dos professores descalços.
Brasil dos analfabetos funcionais.
Brazil do Colégio São Bento.
Brasil do Grupo Escolar Antonio Carlos Magalhães.
Welcome!
Brasil dos massacres.
Brasil dos fuzilamentos.
Brasil sem lei para fracos e oprimidos.
Brazil do patrício assassino liberto.
Brasil do ladrão de galinha encarcerado.
Welcome!
Brazil dos 100% com esgotos no Distrito Federal.
Brasil dos 95% sem esgoto no Piauí.
Brazil dos carros blindados.
Brasil dos craques da seleção.
Welcome!
Por vezes os dois Brasis se encontram.
No dilúvio Petrópolis.
Na queda do avião da TAM.
Na tragédia da Boate Kiss.
O Brazil imagina que vive longe do outro.
Mas o Brasil está bem pertinho
Do outro lado da esquina
Aparece quando menos se espera
Corrupto, desorganizado, escravagista
A bagunça na Copa das Confederações
A luta pelo passe livre
Os Cara Pintada de Collor
As Diretas-Já
A indignação mostrando que não se pode ser Brazil com ‘Z’.
Esquecendo que Brasil se escreve com ‘S’
Brasil, mostra tua cara
Brazil!
Welcome to Brasil!