“E agora que vocês viram no que a coisa deu, jamais esqueçam como foi que tudo começou” (Bertolt Brecht)

sábado, 27 de abril de 2013

A França Antártica e Equinocial

Conflitos da França Antártica
Franceses se instalaram na Guanabara em 1555, mas diferenças religiosas enfraqueceram a empreitada. 
      Onde estava, afinal, o testamento no qual o “Pai Adão” legara o mundo às Coroas portuguesa e espanhola? Quem fez esta pergunta foi Francisco I (1494-1547), rei da França, que desafiou o Tratado de Tordesilhas, firmado em 1494 por Portugal e Espanha para assegurar o domínio ibérico sobre as terras do Novo Mundo. O monarca respondeu ao Tratado com uma provocação, declarando a política de mare liberum (em latim, “mar livre”). Como resultado, navios de comerciantes franceses percorreram o litoral brasileiro em meados do século XVI, criando bases de comércio ao longo da costa. Uma delas deu origem à colônia França Antártica, em 1555, situada na Baía de Guanabara, e assim batizada devido à crença de que se localizava perto do polo antártico. Doze anos depois, após um intenso combate, os portugueses conquistaram definitivamente a cidade do Rio de Janeiro.
     As forças portuguesas vitoriosas foram comandadas pelo governador-geral Mem de Sá (1500-1572), que, como o padre José de Anchieta (1534-1597), descreveu a colônia francesa como um ninho de hereges, composto exclusivamente de seguidores da Reforma Protestante. Diziam ainda que tinham sido encontrados livros sobre o protestantismo nas fortificações. Dessa forma, o combate ganhava ares de luta contra a heresia reformada, tornando-se meritório aos olhos de Deus e da comunidade católica. Mais que uma disputa territorial, a expulsão dos franceses se tornava uma guerra santa.
     Esses relatos portugueses foram usados mais tarde pelo historiador Francisco Adolfo Varnhagen (1816-1878) na elaboração de sua obra História do Brasil, escrita no século XIX. A ideia de uma França Antártica formada exclusivamente por protestantes foi confirmada pelo autor e propagada entre diversos historiadores brasileiros. Mas as narrativas francesas sobre o episódio mostram o contrário: a colônia abrigava diferentes tendências religiosas, e essa variedade causara conflitos internos que dividiram a comunidade. De fato, na Europa a Reforma protestante revolucionava a experiência religiosa em diversas terras e gerava grandes oposições. No âmbito francês, destacava-se a liderança de João Calvino (1509-1564), exilado em Genebra, de onde exercia grande influência, principalmente teológica, sendo suas intervenções no campo político pouco significativas.
     A versão dos derrotados diz que, em 1555, o monarca francês Henrique II (1519-1559) concedeu ao experiente militar Nicolas Durand de Villegagnon (1510-1572) a elevada quantia de dez mil libras tornesas para conduzir uma esquadra da França ao Brasil. Nascido em família de nobreza recente, Villegagnon tornou-se cavaleiro da Ordem de Malta, organização militar e religiosa fundada no tempo das Cruzadas. Após uma longa ascensão social, ocupou o posto de vice-almirante da Bretanha.
     Os adversários protestantes de Villegagnon diriam mais tarde que o cavaleiro tinha se convertido à Reforma e desejava fundar um refúgio no Novo Mundo, onde seria possível “melhor servir a Deus”. De acordo com essa ideia, Villegagnon teria aderido ao protestantismo e depois traído a religião. Mas ao partir da Europa, sua companhia não deixava perceber nenhuma predileção religiosa. A bordo estavam o piloto adepto da Reforma Nicolas Barré (? –1562) e o cosmógrafo franciscano André Thévet (1504-1592).
     Após meses de viagem, em março de 1556 os navios franceses comandados por Villegagnon chegaram à Guanabara. Os viajantes ocuparam a ilha de Serigipe, iniciando a construção do Forte Coligny, assim batizado em homenagem a Gaspar de Coligny (1519-1572), almirante de França e um dos incentivadores do projeto.
     Segundo os primeiros relatos de Thévet e Barré, publicados em1557 na Europa, o convívio entre católicos e protestantes foi inicialmente pacífico. A relação amistosa com os índios tupinambás também foi fundamental para a consolidação da colônia. Os nativos forneciam alimentos e água aos franceses, pois a ilha de Serigipe, escolhida por razões puramente militares, não possuía fonte de água doce. Em troca, os indígenas obtinham mercadorias europeias, especialmente instrumentos de ferro.
     A comunicação com os índios era feita pelos trugimães, franceses que conviviam com os indígenas havia anos, tendo aprendido sua língua e seus hábitos. Mas em pouco tempo esses intérpretes entrariam em conflito com os novos colonos. Villegagnon exigiu que todos os homens que desejassem manter relações sexuais com as índias se casassem com elas. Os trugimães, que viviam na terra em contato com as mulheres nativas havia muito tempo, foram contra. Fez-se um complô contra os chefes da colônia para matá-los, mas o plano foi descoberto a tempo, permitindo a captura dos organizadores do motim e a morte dos líderes.
     Os meses seguintes de 1556 transcorreram sem sobressaltos, mas em março de 1557, uma comitiva de adeptos da Reforma, liderada pelo nobre Du Pont e por dois pastores, Pierre Richer e Guillaume Chartier, chegou à Guanabara vinda de Genebra. Eram convidados do almirante francês Gaspar de Coligny, que se convertera ao protestantismo. A iniciativa foi orientada pelo líder reformador João Calvino. Entre os recém-chegados também estava o huguenote Jean de Léry (1534-1611), que, após retornar à Europa, escreveu o relato História de uma viagem feita à Terra do Brasil, uma das mais importantes obras sobre a França Antártica.
     Inicialmente, o relacionamento entre o chefe da colônia e a comitiva de Du Pont foi amistoso, segundo as cartas de Villegagnon e dos pastores a Calvino. Porém, menos de um mês após a chegada dos protestantes, surgiu um conflito relacionado à celebração do culto de Páscoa. Para os católicos, o pão se transformava realmente no corpo de Cristo durante o ritual, enquanto para os protestantes seria apenas um símbolo da presença do filho de Deus. Para Villegagnon, a comunhão era uma das bases do poder real, e a negação da presença do corpo de Cristo abalava as bases em que a monarquia se apoiava.
     Num primeiro momento, os grupos em litígio tentaram chegar a um acordo. O pastor Guillaume Chartier foi enviado de volta à Europa para consultar Calvino sobre o tema. Mas os debates não se resolviam, e a divergência religiosa foi tamanha que no fim de 1557 a comitiva de Genebra retornou à Europa. Contudo, o navio começou a afundar quando estava ainda na altura de Cabo Frio, e cinco genebrinos resolveram voltar de bote. Os náufragos foram recebidos por Villegagnon, que executou três por afogamento poucos dias depois. Segundo Jean Crespin (1523-1572), célebre editor militante reformado, autor de importante martirológio protestante, os três eram mártires da causa reformada, condenados por razões religiosas. Mas para o cavaleiro de Malta, os ditos “mártires” teriam provocado tumultos, incitando os colonos à insurreição e, dessa forma, sua condenação se dava exclusivamente por motivos civis.
     O resto da comitiva seguiu para a Europa num navio em condições precárias. Segundo Jean de Léry, a viagem se prolongou além do esperado e os viajantes foram obrigados a devorar os macacos e papagaios que transportavam e, em seguida, os ratos. Por fim, hidrataram e comeram seus utensílios de couro. Muitos morreram de fome ao longo da tormentosa travessia. De acordo com Léry, apenas a piedade cristã os impedira de praticar a antropofagia.
     Finalmente, chegando à Europa, os huguenotes iniciaram uma campanha difamatória contra Villegagnon, acusando-o de ter se convertido à Reforma e depois traído a causa. Em 1559, o cavaleiro de Malta retornou à França para se defender das acusações e publicou um livro discutindo a teologia de Calvino, convidando o reformador para um debate, que jamais aconteceu. A fidelidade à ortodoxia católica demonstrada por Villegagnon provocou uma guerra de panfletos, com muitas respostas e réplicas por parte dos protestantes. Ele acabou reconquistando a confiança do jovem rei Francisco II (1544-1560), e preparava outra expedição rumo ao Novo Mundo, em 1561, quando chegou a notícia da queda do Forte Coligny, na França Antártica, tomado pelos portugueses em 1560. Villegagnon abandonaria este plano, tratando apenas de obter uma indenização da Coroa portuguesa. E ganhou, apesar das pretensões lusitanas de legitimidade do tratado de Tordesilhas.
     Os franceses ainda persistiram na Guanabara até 1567, quando seriam definitivamente expulsos por Mem de Sá. Embora tenham construído duas fortalezas nesse período, Paranapuã e Uruçumirim, a colônia jamais voltou a ser o que fora antes.
     Pouco se sabe do que se passou nesses últimos sete anos, mas os relatos portugueses apontam que nas fortificações havia muito mais indígenas que franceses.
     Na década de 1570, o debate foi retomado na França, quando André Thévet publicou a Cosmografia Universal, que acusava os protestantes pela perda da França Antártica. Respondendo a essa obra, Jean de Léry escreveu sua História de uma viagem feita à terra do Brasil, em que defenderia os huguenotes dessa acusação, atribuindo o verdadeiro fim da colônia às atitudes de Villegagnon, traidor da confiança de Coligny.
     Independentemente da disputa de versões, as obras de Thévet e Léry constituem preciosos registros sobre o Brasil da época. Embora a experiência da França Antártica tenha sido temporária, legou essas fontes de pesquisa e, mais ainda, a “cidade maravilhosa” de São Sebastião do Rio de Janeiro. Já dizia Jean de Léry que não havia no mundo paisagem mais bela que a Baía de Guanabara. Este talvez seja um dos raros fatos incontestáveis sobre o episódio da França Antártica.

Luiz Fabiano de Freitas Tavares é professor Universidade Castelo Branco e da Rede Municipal do Rio de janeiro, Autor do Livro entre Genebra e a Guanabara: A discussão política huguenote sobre a França Antártica (TopBooks, 2009).

Saiba Mais - Bibliografia:
LÉRY, Jean de. Viagem à Terra do Brasil. Belo Horizonte: Itatiaia, 1980.
MARIZ, Vasco e PROVENÇAL, Lucien. Villegagnon e a França Antártica. Rio de Janeiro: Bibliex, 2000.
MARIZ, Vasco (org.). Brasil França – relações históricas no período colonial. Rio de Janeiro: Bibliex, 2006.
MENDONÇA, Paulo Knauss de. O Rio de Janeiro da Pacificação. Rio de Janeiro: Secretaria Municipal de Cultura, Turismo e Esporte, Departamento de Documentação e Informação Cultural, Divisão de Editoração, 1991.

Saiba Mais – Filme:
Como Era Gostoso o Meu francês
No Brasil de 1594, um aventureiro francês prisioneiro dos Tupinambás escapa da morte graças aos seus conhecimentos de artilharia. Segundo a cultura Tupinambás, é preciso devorar o inimigo para adquirir todos os seus poderes, no caso saber utilizar a pólvora e os canhões. Enquanto aguarda ser executado, o francês aprende os hábitos dos Tupinambás e se une a uma índia e através dela toma conhecimento de um tesouro enterrado e decide fugir. A índia se recusa a segui-lo e após a batalha com a tribo inimiga, o chefe Cunhambebe marca a data da execução: o ritual antropofágico será parte das comemorações pela vitória.
Direção: Nelson Pereira dos Santos
Ano: 1971
Áudio: Português / Tupi / Francês
Duração: 84 minutos


O protestantismo de Calvino
Noventa e cinco teses contra os abusos da hierarquia eclesiástica afixadas na porta da igreja de Wittenberg, Alemanha, em 1517. Este gesto de denúncia, realizado por Martinho Lutero (1483-1546), geralmente é considerado o início da Reforma Protestante. O monge agostiniano é excomungado. Em resposta, a bula papal é queimada. Como um incêndio, as novas ideias vão se propagando: católicos e reformados se confrontam, sobretudo na Europa Central. O francês João Calvino (1509-1564) adere ao protestantismo, desenvolvendo uma linha particular que enfatiza a predestinação, segundo a qual o homem já nasce escolhido por Deus para a vida eterna ou para a condenação. Do ponto de vista moral, o calvinismo é marcado por um extremo rigor, visível na própria cidade de Genebra, governada por Calvino e seus seguidores, onde danças e jogos são proibidos, e é imposta uma rígida disciplina a todos os habitantes. A doutrina do reformador genebrino se difunde principalmente nos Países Baixos, na Escócia, na Inglaterra (dando origem a duas correntes: os presbiterianos, mais moderados, e os puritanos, mais radicais) e na França, onde os calvinistas recebem o nome de huguenotes. (Equipe RHBN)


Outra tentativa
No final do século XVI, franceses quiseram criar outra colônia no Maranhão.
     Muitos navios franceses começaram a frequentar a costa do Brasil logo depois de seu achamento oficial. Do ponto de vista português, eram invasores. Os franceses invocavam debates jurídicos em curso para discutir a exclusividade ibérica sobre as terras do Novo Mundo. Para os tupis da costa, se havia invasores, não eram os franceses, que sempre lhes pediram licença. E nunca deixaram de entrar: em meados do século XVI, já havia dezenas de pontos no litoral brasileiro nos quais súditos do rei da França tinham instalado bases de apoio para um comércio altamente rentável de pau-brasil e de outras madeiras, especiarias, papagaios e micos. Um desses pontos foi a região da Guanabara, base para a fundação da colônia chamada de França Antártica. Depois de serem expulsos pelos portugueses da Guanabara e da costa nordeste do Brasil, os franceses se voltaram para a região do Maranhão. Embora não atingida pela colonização portuguesa, ela  já havia sido brevemente explorada por Aires da Cunha, Diego Nunes e Luís de Mello, a serviço do rei de Portugal.
     No final do século XVI, uma dessas viagens de navios mercantes daria origem à segunda colônia francesa em território hoje brasileiro: a França Equinocial. Em 1596, um nobre francês de nome Charles des Vaux , depois de ter passado dois anos na costa norte da América do Sul, voltou à França para promover a ideia de estabelecer ali uma colônia. Sua estada na região do Maranhão tinha começado por um acidente: o capitão Jacques Riffault, que fazia viagens regulares à região havia alguns anos, perdera ali um de seus navios e fora obrigado a deixar parte de sua tripulação. Des Vaux foi um dos que ficaram com a gente de Uirapive – chefe tupi com quem Riffault tinha selado aliança – e tinha vários argumentos para convencer o rei Henrique IV a fundar uma colônia no Maranhão. A região estava “vazia” – como diziam – de ocupação europeia. Os franceses contavam com a aliança dos nativos, que já haviam declarado a des Vaux sua disposição de receber mais deles em suas terras.  Além disso, o lugar proposto, bem próximo da linha equinocial, ou Equador, tinha um clima abençoado, de temperaturas constantemente amenas, com muito sol e fartas riquezas, além de muitas terras férteis, regularmente regadas por chuvas e cortadas por grandes rios de água límpida. Uma colônia ali tinha tudo para prosperar e só poderia contribuir para a grandeza do reino de França.
     Henrique IV convocou outro fidalgo, Daniel de la Touche, senhor de La Ravardière, e ordenou-lhe que fosse com des Vaux para a região. Partiram em 1607, e La Ravardière pôde comprovar os relatos de des Vaux. Quando voltaram, o rei tinha sido assassinado e o projeto de fundação de uma colônia no Maranhão teve de esperar alguns anos, pois se Henrique IV havia prometido auxílio financeiro, após sua morte a Coroa francesa já não estava disposta a dar a La Ravardière mais do que seu aval.
     Em busca de parceiros, ele encontrou dois outros nobres interessados em investir tempo e recursos numa nova colônia: François de Rasilly e Nicolas Harlay de Sancy. Em 1611, a rainha regente nomeou-os “lugares-tenentes generais nas Índias Ocidentais e terras do Brasil”. Comprometiam-se a fundar no Maranhão uma colônia, para “o engrandecimento da França e a expansão da fé”. O monopólio do comércio na região, concedido pela Coroa, viabilizaria o projeto.
     No dia 19 de março de 1612, zarparam de Cancale, na Bretanha, três navios em direção ao Maranhão, levando nobres, colonos de vários ofícios e quatro capuchinhos que haviam sido escolhidos entre os quarenta que se apresentaram para integrar, a pedido da rainha-mãe, a nova missão no Maranhão: Yves d’Evreux, que era o superior da missão, Claude d’Abbeville, Arsène de Paris e Ambroise d’Amiens. Aos dois primeiros devemos as fontes mais importantes sobre essa colônia que estava para ser fundada.
     A viagem não foi tranquila, mas finalmente chegaram ao Maranhão em agosto. Os três navios lançaram âncora na pequena ilha desabitada – chamada de Sainte Anne pelos franceses e Ypaon miry pelos tupis – ao lado da Ilha Grande do Maranhão, hoje Ilha de São Luís. Charles des Vaux foi encarregado da primeira missão diplomática: confirmar se os índios continuavam dispostos a receber os franceses em sua ilha. Des Vaux convocou o conselho de chefes e anciões e disse-lhes que o rei da França tinha enviado valorosos soldados para lutar com eles nas guerras e padres para ensinar a palavra de Deus, com muitas mercadorias. Disse também que estavam à espera, e perguntou aos tupis se queriam recebê-los, continuar aliados dos franceses e aceitar o batismo. Se não quisessem mais, não desembarcariam e retornariam imediatamente à França. Consta que os tupis teriam respondido que muito os espantava que des Vaux, depois de ter passado tanto tempo com eles, fizesse tal pergunta, pois parecia não conhecê-los; deveria saber que eles nunca faltavam à palavra dada, e já tinham dito sim.
     Os recém-chegados, então, juntaram-se aos seus 400 conterrâneos – muitos deles marujos em uma de suas estadas de meses à espera do carregamento dos navios; outros, residentes – que já estavam na Ilha Grande. Logo iniciaram, com a ajuda dos tupis aliados, a construção das casas destinadas aos novos colonos e de um forte, ao qual La Ravardière deu o nome de São Luís, em homenagem ao menino-rei Luís XIII. Enquanto isso, Rasilly foi com des Vaux a cada uma das aldeias da Ilha Grande para se apresentar, assim como aos padres Claude e Arsène, e confirmar a aliança. Na expressão de d'Abbeville, os lírios – símbolo da realeza francesa – começavam a florescer na região equatorial. Tudo ia bem, mas a colônia precisava de mais gente, mais dinheiro e mais apoio para se manter. Resolveram, então, que Rasilly retornaria à França para prestar conta dos progressos da colônia nascente e buscar meios de sustentá-la. Quando Rasilly retornasse, La Ravardière passaria a ele o comando e voltaria definitivamente para casa.
     Conta d'Abbeville que, ao saberem dos projetos de Rasilly, os chefes da ilha de Maranhão resolveram enviar à França seis dos seus, dos quais apenas três sobreviveriam à umidade e à agitação da estada na terra de seus aliados. A chegada da comitiva que levava François de Rasilly, Claude d'Abbeville e os três Toupinambous Maragnans a Paris, em 12 de abril de 1613, foi marcada por grande comoção entre o povo e interesse na corte: desfilaram nas ruas e salões dançando com seus maracás, foram recebidos como embaixadores no Louvre, vestidos com roupas de tafetá, solenemente batizados – tendo como padrinho e madrinha o rei e a rainha regente – e casados com mulheres francesas. Em 1614, embarcaram de volta para o Maranhão os embaixadores, suas esposas, o padre Claude, doze capuchinhos, dezenas de artesãos e nobres decididos a integrar a nova colônia. Rasilly ficou na França, empenhado em conseguir mais apoio para a colônia.
     Enquanto isso, certos da solidez de suas fortificações na Ilha Grande e de sua aliança com os tupis, os franceses se puseram a explorar a costa e a expandir suas alianças pelo continente. Mas os portugueses, rapidamente alertados, começavam a se preparar para expulsá-los novamente. Gaspar de Souza, governador-geral do Brasil, chegara a Pernambuco em 1613 já com a ordem de reconquistar o Maranhão. La Ravardière voltou para o Forte São Luís assim que foi avisado da aproximação das tropas lusas. As primeiras batalhas entre os portugueses e seus aliados indígenas, de um lado, e franceses e seus aliados indígenas, do outro, ocorreram já no final de 1614. Após um período de trégua e conversações diplomáticas, no dia 1º de novembro de 1615 os portugueses tomaram o forte na batalha de Guaxenduba, após uma vitória por eles considerada milagrosa. Naquele mesmo mês de novembro, Luís XIII se casava com Ana de Áustria, herdeira do trono espanhol. O casamento selava uma aliança entre a França e a Espanha que condenaria a colônia do Maranhão ao abandono e ao esquecimento, em virtude da união das coroas ibéricas, entre 1580 e 1640. La Ravardière foi enviado a Lisboa, onde permaneceu preso na Torre de Belém por alguns anos até ser devolvido à França, onde tentaria recuperar a colônia. Rasilly, que estava na França no momento da tomada do forte, também continuou tentando salvar o projeto no Maranhão. Em vão.
     O projeto de engrandecimento da França e de expansão da fé que animara a fundação da França Equinocial seria realizado, mas na América do Norte, onde, na mesma época, os franceses fundavam duas outras colônias, Acádia e Nova França, hoje no Canadá. No Brasil, que fora destino de tantas viagens de navios franceses, palco de tantas alianças bélicas e comerciais com os tupis e razão de tantos entreveros diplomáticos e batalhas entre franceses e portugueses, essa segunda colônia francesa foi a última.

Beatriz Perrone-Moisés É Professora Do Departamento De Antropologia Da Universidade De São Paulo E Autora Da Tese “Relações Preciosas: Franceses E Ameríndios No Século XVII” (Ppgas-Usp, 1996).

Saiba Mais - Bibliografia:
D'ABBEVILLE, CLAUDE. História da missão dos padres capuchinhos na Ilha de Maranhão e terras circunvizinhas. São Paulo: Edusp/Itatiaia, 1975.
D'EVREUX, YVES. Viagem ao norte do Brasil, feita nos anos de 1613 a 1614. São Paulo: Siciliano, 2002.

Saiba Mais – Links

sábado, 20 de abril de 2013

Antropofagias: a amorosa tapuia e a vingativa tupi.

“Viagem à Terra do Brasil”
Jean de Léry
Capítulo XV

De como os americanos tratam os prisioneiros de guerra e das cerimônias observadas ao matá-los e devorá-los.
     Resta saber agora como são tratados os prisioneiros. Logo depois de chegarem são não somente bem alimentados, mas ainda lhes concedem mulheres (mas não maridos às prisioneiras), não hesitando os vencedores em oferecer a própria filha ou irmã em casamento. Tratam bem o prisioneiro e satisfazem-lhe todas as necessidades. Não marcam antecipadamente o dia do sacrifício; se os reconhecem como bons caçadores e pescadores e consideram as mulheres boas para tratar das roças ou apanhar ostras conservam-nos durante certo tempo; depois de os engordarem matam-nos afinal e os devoram em obediência ao seguinte cerimonial.
     Todas as aldeias circunvizinhas são avisadas do dia da execução e breve começam a chegar de todos os lados homens, mulheres e meninos. Dançam então o cauinam. O próprio prisioneiro, apesar de não ignorar que a assembleia se reúne para seu sacrifício dentro de poucas horas, longe de mostrar-se pesaroso enfeita-se todo de penas e salta e bebe como um dos mais alegres convivas. Depois de ter comido e cantado durante seis ou sete horas com os outros, é ele agarrado por dois ou três dos personagens mais importantes do bando e sem que oponha a menor resistência, é amarrado pela cintura com cordas de algodão ou de fibra de uma árvore a que chamam vyire, semelhante à nossa tília. Deixam-lhe os braços livres e o fazem passear assim pela aldeia, em procissão, durante alguns momentos.
     Não se imagine, porém que o prisioneiro com isso se deprima. Ao contrário, com audácia e incrível segurança jacta-se das suas proezas passadas e diz aos que o mantém amarrado: "Também eu, valente que sou já amarrei e matei vossos maiores".
     Cada vez mais feroz volta-se para ambos os lados exclamando para uns e outros: "Comi teu pai, matei e moqueei teus irmãos; comi tantos homens e mulheres, filhos de vós outros tupinambás, a que capturei na guerra, que nem posso dizer-lhes os nomes; e ficai certos de que para vingar a minha morte os maracajás da nação a que pertenço hão de comer ainda tantos de vós quantos possam agarrar".
     Em seguida, após ter estado assim exposto às vistas de todos, os dois selvagens que o conservam amarrado afastam-se dele umas três braças de ambos os lados e esticam fortemente as cordas de modo a que o prisioneiro fique imobilizado. Trazem-lhe então pedras e cacos de potes; e os dois guardas, receosos de serem feridos, protegem-se com rodelas de couro de tapiruçu e dizem-lhe: "Vinga-te, antes de morreres". Começa o prisioneiro a atirar projéteis com todas as suas forças contra os que ali se reúnem em torno dele, algumas vezes em número de três ou quatro mil. E é desnecessário dizer que não escolhe suas vítimas.
     Com efeito, estando eu numa aldeia chamada Sariguá, vi um prisioneiro lançar uma pedra com tanta violência na perna de uma mulher que supus havê-la quebrado. Esgotadas as provisões de pedras e cacos e de tudo que o prisioneiro pode apanhar junto de si, o guerreiro designado para dar o golpe, e que permanecera longe da festa, sai de sua casa, ricamente enfeitado com lindas plumas, barrete e outros adornos; e armado de um enorme tacape aproxima-se do prisioneiro e lhe dirige as seguintes palavras: "Não és tu da nação dos maracajás, que é nossa inimiga? Não tens morto e devorado aos nossos pais e amigos?"
     O prisioneiro mais altivo do que nunca, responde no seu idioma (maracajás e tupiniquins se entendem reciprocamente) "pa, che tan tan ajucá atupavé"- "Sim, sou muito valente e realmente matei e comi muitos".
     Em seguida, para excitar ainda mais a indignação do inimigo, leva as mãos à cabeça e exclama: "Eu não estou a fingir, fui com efeito valente e assaltei e venci os vossos pais e comi". E assim continua até que seu adversário, prestes a matá-lo, exclama: "Agora estás em nosso poder e serás morto por mim e moqueado e devorado por todos". [...] a vítima ainda responde: "Meus parentes me vingarão".
     Embora os selvagens temam a morte natural, os prisioneiros julgam-se felizes por morrerem assim publicamente no meio de seus inimigos, não revelando nunca o mínimo pesar [...].
      [...]. O selvagem encarregado da execução levanta então o tacape com ambas as mãos e desfecha tal pancada na cabeça do pobre prisioneiro que ele cai redondamente morto sem sequer mover braço ou perna. [...] O executor costuma bater com tal destreza na testa ou na nuca que não se faz necessário repetir o golpe e nem a vítima perde muito sangue.
     Imediatamente depois de morto o prisioneiro, a mulher (já disse que a concedem a alguns) coloca-se junto do cadáver e levanta curto pranto; [...] lamenta-se e derrama fingidas lágrimas sobre o marido...
     Todas as partes do corpo, inclusive as tripas depois de bem lavadas, são colocadas no moquém, em torno do qual as mulheres, principalmente as gulosas velhas, se reúnem para recolher a gordura que escorre pelas varas dessas grandes e altas grelhas de madeira; e exortando os homens a procederem de modo que elas tenham sempre tais petiscos, lambem os dedos e dizem: iguatu, o que quer dizer “está muito bom”.

LÉRY, Jean de. Viagem à Terra do Brasil. Belo Horizonte: Itatiaia, 1980.

Vingança e frenesi no banquete tupi
Ronald Raminelli

     Depois de morto, a carne era dividida entre músculos e entranhas. As partes duras eram moqueadas (secadas) e consumidas pelos homens; mulheres e crianças ingeriam as partes internas cozidas em forma de mingau. O matador, sempre masculino, não participava do banquete, entrava em resguardo e trocava de nome. Com a colonização, esse rito foi paulatinamente abandonado, provocando, segundo Eduardo Viveiros de Castro, a perda de uma dimensão essencial da sociedade tupinambá: a identidade. O antropólogo ainda comenta que a repressão ao canibalismo não foi o único motivo para o abandono. Os europeus passaram a ocupar o lugar e as funções dos inimigos, alterando a lógica do ritual.
     As mulheres exerciam importantes tarefas durante as festas canibalescas. Alemão quinhentista preso pelos tupinambás, Hans Staden escreveu que as índias pintavam os prisioneiros ainda vivos e depois exibiam-nos mortos, percorrendo a aldeia com suas pernas e braços retalhados. O sacrifício provocava nas mulheres muito prazer e ansiedade, queriam logo provar da carne do guerreiro inimigo. Para demonstrar tais sentimentos, elas gesticulavam, mordiam as mãos e braços, se contorciam, cantavam e bailavam, enquanto as demais espetavam com paus as partes decepadas sob a fogueira.
     O padre José de Anchieta, jesuíta do século XVI, descreveu como as nativas untavam mãos, caras e bocas com as gorduras desprendidas do "assado", colhiam o sangue com as mãos e o lambiam. Para os religiosos da época, por certo com uma visão depreciativa da mulher; a ingestão de carne humana deixava marcas profundas na fisionomia das mulheres canibais que logo envelheciam. As rugas e os odores malcheirosos tinham origem nesses "costumes abomináveis". A decrepitude e a decadência físicas das velhas revelavam o "terrível hábito" de comer carne e roer ossos humanos. Seios caídos, rostos enrugados, corpos em franco processo de degeneração somavam-se a dentes mais do que deteriorados. A alma pecadora provocava a degradação do corpo enquanto os santos, quando mortos, exalavam odores de rosas. Esse preconceito, por certo, dificulta nossa compreensão da real participação das mulheres no canibalismo, embora nos permita entender a cultura europeia na época da conquista da América.

Canibalismo em nome do amor
Mães devoravam filhos mortos, viúvas comiam os maridos, filhos banqueteavam-se com os pais. Nem sempre a antropofagia originava-se da luta entre rivais, poderia ser cerimônia fúnebre.

     Segundo os cronistas do século XVII, ao nascer uma criança, cortava-se o cordão umbilical com um caco afiado e depois cozinhava-o para que a mãe o comesse juntamente com o pelico (placenta). Caso uma mulher abortasse, imediatamente o feto era devorado, pois alegavam que não poderiam dar-lhe melhor túmulo. Por certo, as entranhas de onde veio - o corpo da mãe - eram preferíveis a cova na terra. Depois da morte de uma criança, os índios choravam a perda, em seguida, cortavam a cabeça e retalhavam o corpo, inserindo tudo em uma panela. Muitos parentes eram convidados para o evento e juntos comiam a falecida. Ao termino da refeição, punham -se a gritar e a chorar.
     Aos sacerdotes cabia talhar, membro a membro, os mortos, fossem eles abatidos nas guerras ou acometidos por morte natural. Enquanto isso, as velhas acendiam a fogueira para assar os membras e todos juntos celebravam o "enterro" com lagrimas e lamentações. As mulheres comiam as carnes do esposo, as raspavam até os ossos, não em sinal de inimizade, mas de afeto e fidelidade. Os cadáveres dos grandes chefes eram consumidos pelos demais chefes. Não ingeriam todo o corpo e guardavam cuidadosamente os ossos ate a celebração do festim solene seguinte, pois somente em rituais era possível a antropofagia. Na ocasião, os ossos tornavam-se carvão, raspados em seguida para serem reduzidos a pó e dissolvidos em agua. O mesmo se fazia com os cabelos do defunto. Os parentes bebiam essa mistura e não voltavam a suas danças e cantos depois de consumirem todos os restos do cadáver.
     Os cronistas procuram enfatizar as fronteiras entre a antropofagia amorosa tapuia e a vingativa tupi. O dado permite entender a tela de Albert Eckhout de modo diverso. A índia tarairiu carrega consigo partes do corpo humano e próxima à nativa encontrasse uma cena de guerra. Em principio, a mão e o pé decepados, em poder da mulher, pertenceriam ao inimigo morto no combate. Os relatos sabre a antropofagia tapuia permitem, porem, traçar outras relações. Assim, as partes do corpo pertenciam a um parente: irmão, marido ou filho da índia. O campo de guerra é o local de morte de um guerreiro da tribo e a índia carrega seus restos mortais para serem consumidos na aldeia em sinal de afeto e fidelidade.

RONALD RAMINELLI é professor de História Moderna, História da América e do Brasil Colonial na Universidade Federal Fluminense (UFF) e autor de Imagens da colonização. Rio de Janeiro: Jorge Zahar Editor, 1996.

Saiba Mais - Filmes
Como Era Gostoso o Meu francês
No Brasil de 1594, um aventureiro francês prisioneiro dos Tupinambás escapa da morte graças aos seus conhecimentos de artilharia. Segundo a cultura Tupinambás, é preciso devorar o inimigo para adquirir todos os seus poderes, no caso saber utilizar a pólvora e os canhões. Enquanto aguarda ser executado, o francês aprende os hábitos dos Tupinambás e se une a uma índia e através dela toma conhecimento de um tesouro enterrado e decide fugir. A índia se recusa a segui-lo e após a batalha com a tribo inimiga, o chefe Cunhambebe marca a data da execução: o ritual antropofágico será parte das comemorações pela vitória.
Direção: Nelson Pereira dos Santos
Ano: 1971
Áudio: Português / Tupi / Francês
Duração: 84 minutos


Hans Staden
Hans Staden (Carlos Evelyn) é um imigrante alemão que naufragou no litoral de Santa Catarina (1550). Dois anos depois, chegou a São Vicente, concentração da colônia portuguesa no Brasil, onde trabalhou por mais dois anos, visando juntar dinheiro para retornar à Europa. Neste tempo em que viveu em São Vicente, Staden passou a ter um escravo da tribo Carijó, que o ajudava. Preocupado com seu sumiço repentino após ter ido pescar, Staden parte em sua procura, sendo encontrado por sete índios Tupinambás, inimigos dos portugueses, que o prendem no intuito de matá-lo e devorá-lo. É a partir de então que passa a ter que arranjar meios para convencer os índios a não devorá-lo e permanecer vivo. O filme aborda os primórdios da colonização, envolvendo o povo indígena Tupinambá, que então habitava o litoral brasileiro. Conta a história do alemão capturado pelos Tupinambás da Aldeia de Ubatuba, litoral de São Paulo, onde seria devorado em ritual antropofágico. O projeto do filme começou em janeiro de 1996. Da preparação para as filmagens constaram, entre outras coisas, os ensaios com os atores para o aprendizado da língua Tupi e a construção de uma réplica de Aldeia Tupinambá do século XVI em Ubatuba. Também foram rodadas cenas no Forte Bertioga, em trilhas, rios, matas, em canoas no mar e em Lisboa, Portugal, na Caravela Boa Esperança.
Direção: Luiz Alberto Pereira
Ano: 1999
Áudio: Português / Tupi / Alemão
Duração: 92 minutos

sábado, 6 de abril de 2013

Sem intermediários: evangélicos e protestantes no Brasil.

Sem intermediários
Teorias de Lutero romperam com a autoridade católica pregando o contato direto entre o homem e Deus pelo poder da fé.
     Evangélicos, batistas, presbiterianos, adventistas, pentecostais, protestantes, anabatistas e congregacionistas. Muitas vezes a discussão sobre a doutrina protestante se concentra no problema de classificar e diferenciar suas diferentes denominações. Mas, para além das definições dogmáticas e das confissões de fé, todas estas Igrejas – e outras que se desenvolveram ao longo da fragmentação religiosa da cristandade ocidental – têm o mesmo ponto de partida: o núcleo doutrinal luterano da justificação pela fé.
     Entender o protestantismo significa compreender o que era a fórmula da “salvação pela fé”, tal como foi elaborada pelo frade agostiniano Martinho Lutero, na primeira metade do século XVI, e retomada sucessivamente pelos demais movimentos reformados.
     Martinho Lutero (1483-1546) cresceu e se formou na fronteira eslava da cristandade, na Saxônia, Alemanha, ingressando aos 22 anos no Convento de Erfurt. Sete anos depois, tornou-se doutor em Teologia em Wittenberg, onde passou a lecionar Teologia e Exegese Bíblica. Este mergulho direto nas Sagradas Escrituras, entre 1513 e 1517, permitiu que ele formulasse uma nova interpretação do conceito de Deus e do Homem, condensada na sua doutrina da Teologia da Cruz.
     O impulso definitivo rumo a esta nova doutrina foi a chamada “experiência da torre”, na qual Lutero elaborou o seu conceito de justiça passiva, refletindo sobre um trecho da Epístola aos Romanos, de Paulo: “o justo viverá pela fé”. Muitos haviam meditado sobre o sentido daquelas palavras, mas em Lutero elas dispararam uma reviravolta teológica: o homem era justificado apenas pela fé e de nada valiam as ações individuais, já que não poderíamos modificar a natureza pecaminosa. Lutero, portanto, desenvolveu uma visão muito pessimista da natureza humana, que, em seu entender, permanecia corrompida mesmo após a redenção, a remissão dos pecados que se realiza, para a humanidade, após o sacrifício de Cristo na Cruz.
     Neste caso, a justificação do homem só poderia ocorrer por iniciativa divina: Cristo toma para si o fardo dos pecados dos homens, concentrando os rigores da justa e terrível cólera do Pai. Por mais que o homem fosse pecador, se tivesse uma fé maior que o pecado, Cristo o justificaria.
     Ter fé, no sentido luterano do termo, significava compreender o valor do sacrifício de Cristo e crer em sua graça redentora para abrir o horizonte da salvação. Como era um dom totalmente gratuito, sem nenhum correspondente nas ações humanas, implicava a recusa da noção de “obras meritórias” – sobre as quais o papado havia construído sua própria autoridade, inclusive pela teoria das indulgências (remissão das penas cabíveis para os pecados cometidos).
     Em suas 95 Teses (1517), Lutero condenava as indulgências, pois elas forneciam aos pecadores uma falsa segurança. Se o homem pecador não pode realizar obras boas, as indulgências são inúteis. O que salva o homem é somente a fé.
     Sua luta contra os “abusos” da Igreja Católica não nascera com o objetivo de provocar um rompimento. Tornar laica a vivência religiosa – independente de instituições, de rituais e da presença em locais de culto – e abolir a separação entre o clero e os fiéis eram vistos como um retorno à forma primitiva e apostólica da Igreja, baseada na pregação e na relação direta do crente com Deus, pelas Escrituras.
     No sentido católico do termo, ter fé era outra coisa: aderir à mensagem divina da Revelação do modo como os bispos e os párocos a ensinavam aos fiéis. A fé que salva era um sentimento subjetivo de misericórdia divina, a resposta para o problema angustiante da salvação, que seria alcançada, segundo a Igreja, quando se seguiam os seus ditames: confessar-se, arrepender-se e obter a absolvição libertadora, para realizar boas obras. A confissão, para ter valor, deveria ser completa, e os erros discriminados por quantidade, qualidade e circunstância. Era como contar as gotas de água em um oceano!
     Nos séculos XVI e XVII, aos olhos de mercadores, artesãos, soldados e camponeses, a Bíblia traduzida para uma linguagem familiar e acessível ao fiel, sem cortes e sem precisar da mediação de intérpretes, significava poder encontrar o que buscavam avidamente: por um lado, um Deus vivo, fraterno e humano para com suas fraquezas, e, por outro, uma nova concepção do sacerdócio.
     A definição reformada do sacerdócio universal, expressa pelo lema “Cada homem é pastor de si mesmo”, respondia a este desejo de contato direto com a Palavra de Deus e a uma recusa de todo tipo de intermediação. Para o mercador itinerante, por exemplo, o papel da Igreja como intermediária apagava seu mérito de ter obtido êxito em seu ofício graças ao empenho e a uma educação cultivada privadamente. O gosto pela autonomia e pelo governo de si mesmo não se manifesta apenas nas coisas políticas, refletindo-se também em uma religiosidade mais ativa. Fossem livres, rendeiros, assalariados ou servos, eles traduziam a atuação eclesiástica como mais uma forma de exploração senhorial ou como sua legitimação.
     Para a maioria dos fiéis, a Reforma não era um protesto contra os “abusos” das autoridades eclesiásticas, mas uma revolução de sentimentos. A vida deixava de buscar na morte o seu ponto de referência, e os vivos se empenhavam em usar seus méritos aqui na Terra mesmo.

Silvia Patuzzié professora da PUC-Rio e da Fundação Getulio Vargas e autora de “Humanistas, príncipes e reformadores no Renascimento”, no livro Modernas Tradições. Percursos da Cultura Ocidental, séculos XV-XVII (Editora Access/Faperj, 2002).

Saiba Mais - Bibliografia
BAINTON, RolandH. Erasmo da Cristandade. Lisboa: Fundação Calouste Gulbenkian, 1988.
FEBVRE, Lucien. Martinho Lutero, um destino. São Paulo: Três Estrelas, 2012.
MAFRA, Clara.  Os Evangélicos. Rio de Janeiro: Jorge Zahar, 2001.

Saiba Mais - Filmes
Lutero (Luther)
Após quase ser atingido por um raio, Martim Lutero (Joseph Fiennes) acredita ter recebido um chamado. Ele se junta ao monastério, mas logo fica atormentado com as práticas adotadas pela Igreja Católica na época. Após pregar em uma igreja suas 95 teses, Lutero passa a ser perseguido. Pressionado para que se redima publicamente, Lutero se recusa a negar suas teses e desafia a Igreja Católica a provar que elas estejam erradas e contradigam o que prega a Bíblia. Excomungado, Lutero foge e inicia sua batalha para mostrar que seus ideais estão corretos e que eles permitem o acesso de todas as pessoas a Deus.
Direção: Eric Till
Ano: 2003
Áudio: Português
Duração: 121 minutos


A rainha Margot
Filme inspirado na obra de Alexandre Dumas apresenta as intrigas por trás da noite de São Bartolomeu, um dos principais massacres da França, acontecido há 440 anos.
     Ao olhar pela janela, as ruas de Paris parecem calmas, vazias. O silêncio, no entanto, engana. Pouco antes da meia noite, os sinos de uma igreja próxima ao palácio do Louvre dão o sinal para tropas que avançam na sombra. Os momentos seguintes são de pânico, gritos medonhos, lutas de espada, corpos seminus espalhados pelo chão, pescoços degolados e eventuais fugitivos, que correm ensanguentados e atônitos. Na passagem de 23 para 24 de agosto de 1572, há exatos 440 anos, acontecia a noite de São Bartolomeu, um dos principais massacres da história da França. Sob ordens do rei Carlos IX, católicos assassinaram cerca de três mil protestantes. O episódio ocorrido durante as guerras de religião (1562-1592) foi retratado pelo romance A rainha Margot (1845), de Alexandre Dumas,  adaptado fielmente para o cinema pelo diretor Patrice Chéreau, em 1993.
     Margot, interpretada pela encantadora atriz Isabelle Adjani, é o apelido de Margarida de Valois (1553-1615), irmã de Carlos IX e filha do rei Henrique II com Catarina de Médecis. A posição nobre fez com que ela testemunhasse e fizesse parte – ainda que forçosamente – das disputas por poder alimentadas pelos conflitos religiosos. Menos de uma semana antes da noite de São Bartolomeu, Margot havia sido obrigada a se casar com o líder protestante Henrique de Navarra (Daniel Auteil), numa tentativa de manter a paz no reino. Logo no início do filme, Margot avisa ao marido: “É um casamento pela paz. Ninguém me obriga a dormir com você”.
     A união, idealizada por Catarina de Médecis, de nada adiantou para diminuir a tensão no reino. O filme não mostra, mas a rainha-mãe já havia feito Carlos IX assinar, dois anos antes, o tratado de Paz de Saint-Germain, concedendo liberdade de culto aos protestantes em regiões específicas e permitindo que eles fossem admitidos em empregos da administração pública. No entanto, os católicos não gostaram das concessões e os protestantes não as acharam suficientes. E o conflito continuou.
     A origem das disputas, que aconteciam também em outros países da Europa, está no ano de 1517, quando Martinho Lutero proclamou seu rompimento com a Igreja Católica. João Calvino, em Genebra, logo o seguiu, inspirando e coordenando os protestantes franceses. Os massacres pelo reino foram generalizados.
     Catarina de Médecis foi uma figura importante na busca pela paz. No filme, no entanto, o destaque é dado a seu lado manipulador, brilhantemente encarnado pela atriz italiana Virna Lisi. Ela aparece como culpada pela morte de pelo menos três importantes personagens históricos, incluindo o próprio filho, Carlos IX.
     No longa-metragem, na obra de Dumas e, possivelmente, também na vida real – como ilustram livros como Histoire de France, de Pierre Miquel -, a rainha-mãe teria encomendado o assassinato do almirante Coligny, importante chefe protestante. Dumas relata a grande admiração que Carlos IX tinha pelo almirante, chamando-o inclusive de “meu segundo pai”. Na adaptação para o cinema, fica claro que Catarina não teria gostado da aproximação, que permitia a Coligny ter forte influência sobre o rei. No dia 22 de agosto, a tentativa de assassinato acabou falhando e, ao ser descoberta pelos protestantes, gerou grande revolta.
     A partir deste ponto, outro personagem que ganha espaço no filme é o estranho rei Carlos IX (Jean-Hugues Anglade). Instável, infantil e certamente despreparado para o posto, ele vive cansado da influência da rainha-mãe e dos interesseiros à sua volta. Sem saber como reagir à provável revolta protestante depois do atentado a Coligny, é influenciado por Catarina e ordena que todos os chefes da religião sejam assassinados. Henrique de Navarra é um dos únicos a escapar da morte ao abandonar o protestantismo e se tornar católico. Ele repetiria o gesto alguns anos depois, já como Henrique IV da França, e diria a famosa frase: “Paris bem vale uma missa”.

Dumas e a pesquisa histórica
     Alexandre Dumas tinha o hábito de criar suas narrativas baseado em documentos e, neste caso, não o fez de outra maneira. Apesar de florear e acrescentar novas situações, A Rainha Margot é um de seus romances que mais se aproxima dos fatos narrados pelos historiadores – e, em tese, pela própria Margot em um livro de memórias atribuído a ela.
     A cena (tanto no livro de Dumas, quanto no filme) em que o quarto de Margot é invadido por um protestante ferido durante a noite de São Bartolomeu, por exemplo, pode ser mais do que uma invenção do escritor francês. O fato foi inspirado nas memórias da própria Margot. Dumas, no entanto, substituiu o nome citado por ela – Monsieur de Teian – pelo de Joseph La Môle, conhecido como um de seus amantes.
     O problema ao se tentar entender a história oficial é que há dúvida, entre alguns historiadores, se essas memórias de Margarida de Valois foram realmente escritas por ela. A francesa Éliane Viennot, professora de literatura da Universidade de Saint-Étienne, por exemplo, publicou em 1996 um artigo defendendo a veracidade das memórias. Seja como for, o documento utilizado por Dumas tem posicionamentos importantes: Margot tira boa parte da culpa de sua mãe Catarina em relação ao massacre, e afirma que os idealizadores teriam sido seu irmão duque de Anjou (futuro Henrique III) e o duque de Guise. Este último também estaria na origem do atentado contra Coligny.

Sangue e luxúria
     Dumas se apropria das informações fornecidas por Margot e por outros memorialistas, acrescentando detalhes sórdidos, enfatizados na película de Patrice Chéreau. O longa-metragem pode surpreender os fãs mais tradicionais do escritor, não acostumados a tantas cenas de violência e nudez - acentuadas por fortes insinuações de incesto e banhos de sangue sobre roupas mais brancas do que em comercial de sabão em pó (como no cartaz francês, acima). Margot seria uma libertina: dormiu com seus três irmãos, além do marido Henrique de Navarra, o duque de Guise e o conde de La Môle. Em uma das cenas mais marcantes do filme, ela é assediada pelos irmãos, que a deixam praticamente nua enquanto mostram marcas deixadas por La Môle em seu pescoço e coxas. O duque de Alençon, mais novo dos irmãos, escancara: “Se não fosse estéril, teríamos um bastardo”.
     Talvez com medo de afastar as plateias mais tradicionais, o cartaz do filme foi alterado em muitos países, mostrando apenas o casal apaixonado Margot e La Môle. No entanto, mesmo os desavisados que buscam um romance calmo, segundo parece indicar o cartaz ou a capa do DVD, dificilmente se decepcionarão. Além das excelentes atuações, que renderam o prêmio de melhor atriz em Cannes para Virna Lisi, o filme consegue cativar o espectador e incentivar o interesse pelas guerras de religião.
     Teria Margot relações sexuais com seus próprios irmãos? Catarina de Médicis seria a responsável por uma série de envenenamentos? Para Dumas, isso pouco importava. Ele já havia sido acusado por seus adversários de violar a história de forma insolente em outros de seus romances. Sua resposta era simples e irônica: “Reconheço que a violento, mas faço lindos filhos com ela”. 
     Assim sendo, Patrice Chéreau apropriou-se de uma das maiores obras de Dumas, e fez um filme que pode ser considerado, facilmente, um lindo bastardo do escritor francês.
Direção: Patrice Chéreau
Ano: 1994
Áudio: Francês/Legendado
Duração: 137 minutos

Henrique IV: O Grande Rei da França
França, 1563. Protestantes e católicos lutam por terras e poder, usando a religião como justificativa.
No comando dos protestantes está Henrique de Navarra, que conduz seus homens contra a poderosa rival de sua mãe, Catarina de Médici, rainha da França. Catarina oferece a Henrique a mão de sua filha, Margot, em sinal de reconciliação, mas o casamento termina num banho de sangue. Ele sobrevive ao Massacre do dia de São Bartolomeu, mas é feito prisioneiro durante quatro anos.
Embora recorrendo a qualquer tática para obter o trono, Henrique se torna um rei que, pela sua liberdade de religião e de opinião, pode genuinamente dizer que é um dos verdadeiros humanistas.
Direção: Jo Baier
Ano: 2010
Áudio: Português
Duração: 148 minutos


O fim de um monopólio
Só com a vinda da família real os protestantes conseguiram instalar-se e disseminar sua diversidade religiosa no Brasil.
     Poucas décadas após a morte de Martinho Lutero (1483-1546), seus ideais desembarcaram no Brasil. A chamada França Antártica, que ocupou o Rio de Janeiro entre 1555 e 1560, foi a primeira experiência protestante em nossas terras. No século seguinte haveria um episódio mais duradouro: os holandeses que governaram parte do atual Nordeste brasileiro de 1630 a 1654 também compartilhavam da religião protestante.
     Mas os dois casos foram exceções. Depois de expulsos os franceses e os holandeses, a estrutura religiosa da Igreja Reformada foi desfeita, e o Brasil voltou ao monopólio da catequização católica. Assim permaneceria até o século XIX.
     A transferência da família real portuguesa, em 1808, foi um marco para a entrada de estrangeiros, e suas crenças, na nova sede do governo português. O Tratado de Comércio e Navegação assinado em 1810, que garantiu a abertura dos portos brasileiros para produtos ingleses, assegurava também, em um de seus artigos, a liberdade de consciência e culto, permitindo igrejas protestantes com aparência discreta e sem buscar a conversão dos católicos. No ano seguinte, já se instalava, no Rio de Janeiro, a primeira igreja protestante, de denominação anglicana. Atendia os súditos ingleses, que antes tinham que se reunir para os cultos em residências ou navios britânicos ancorados. Em 1824, a nova Constituição reafirmou o catolicismo como religião do Império, mas reconhecia outras crenças cristãs, desde que não houvesse catequese nem ataques à religião oficial.
     A imigração alemã trouxe as primeiras comunidades luteranas, instaladas em 1824 em Nova Friburgo (RJ) e em São Leopoldo (RS). A forte imigração no Sul contribuiu para o aparecimento de diversas outras colônias. As igrejas luteranas eram simples, sem sinos, torres ou qualquer identificação, construídas e organizadas pelo esforço dos colonos.
     Na mesma época, formaram-se também colônias suecas, suíças, holandesas, escocesas, inglesas e norte-americanas, espalhando diversas vertentes dos cultos reformados Brasil afora. A influência dos protestantes norte-americanos foi importantíssima. Com a Guerra Civil nos Estados Unidos (1861-1865), muitos vieram em busca de refúgio e de terras. Incentivavam e financiavam a expansão de missões, enxergando no Brasil uma seara fértil para a conversão. Fundaram templos presbiterianos (o termo deriva da organização governada por uma assembleia de presbíteros ou anciãos), batistas (que enfatizam o batismo de adultos como exposição bíblica e pública da fé) e metodistas (que pregam o estudo metódico da Bíblia e a relação pessoal entre o indivíduo e Deus). Essas igrejas contaram com a simpatia dos que viam no protestantismo sinais do progresso norte-americano e dos preceitos republicanos, ao mesmo tempo que viam o atraso do Brasil e da monarquia como influência do catolicismo.
     Os protestantes divulgaram sua mensagem nas cidades e nos campos, atendendo os mais diversos grupos sociais e distribuindo Bíblias de Norte a Sul. Aos poucos, eles se estruturaram e aumentaram o raio de ação, difundindo ideias e criando missões, centros de auxílio, hospitais, obras assistenciais e escolas. A educação sofreu transformações fundamentais ao incorporar experiências de outros países, como jardins de infância, classes mistas de meninos e meninas, prédios projetados especificamente para o ensino, salas próprias para aulas práticas, novos conteúdos e disciplinas.
     A evangelização protestante teve, portanto, diferentes etapas no Brasil: os franceses visavam os índios; no período holandês, alcançou índios, negros e brancos; com as migrações do século XIX, os brancos e negros. O século XX, por fim, veria o avanço pentecostal, logo após seu surgimento nos Estados Unidos.
     Embora “evangélico” e “protestante” sejam vistos como sinônimos, os termos têm significados distintos. Em sua origem, “evangélico” diz respeito àquele que se submete ao ensinamento do Evangelho, sendo apenas a Bíblia sua fonte de revelação. O termo “protestante”, por sua vez, advém de um documento de protesto apresentado pelos luteranos na segunda Dieta de Spira (1529), que declarava a fé católica como a única legal. No Brasil, em geral, “protestante” se refere aos fiéis das igrejas oriundas da Reforma, como os presbiterianos, luteranos e anglicanos, enquanto “evangélicos” abrange os seguidores das igrejas pentecostais e neopentecostais.
     O Pentecostes é uma data importante do calendário cristão: comemora a descida do Espírito Santo sobre os apóstolos de Jesus Cristo e é celebrada 50 dias depois do domingo de Páscoa. A doutrina pentecostal se caracteriza pela crença no Espírito Santo e na plenitude da vida moral. Sua primeira igreja no país foi instaurada em 1910, em Belém do Pará, pelos suecos Daniel Berg e Gunnar Vingren. Chamada de Missão da Fé Apostólica, mais tarde ganharia o nome com que alcançou todo o Brasil: Assembleia de Deus. Também em 1910, o italiano Luigi Francescon deu início à Congregação Cristã, que teve forte presença ao Sul do país, a partir de São Paulo.
     Novas denominações pentecostais ganharam espaço a partir dos anos 1970, como as igrejas Deus é Amor, O Brasil para Cristo, Internacional da Graça e a Universal do Reino de Deus. Todas enfatizam o batismo com o Espírito Santo, recorrem a cânticos de louvor, sessões de cura e de libertação, incentivam a prosperidade, dão testemunhos de graças e milagres alcançados e promovem o assistencialismo. Assim multiplicaram seus fiéis e aumentam cada vez mais sua influência.

Angelo Adriano Faria de Assis é professor da Universidade Federal de Viçosa e autor de Macabeias da colônia – criptojudaísmo feminino na Bahia (Alameda, 2012).

Saiba Mais - Bibliografia
CÉSAR, Elben M. Lenz. História da Evangelização do Brasil. Viçosa: Ultimato, 2000.
MENDONÇA, Antônio Gouvêa, VELASQUES FILHO, Prócoro. Introdução ao protestantismo no Brasil. São Paulo: Loyola, 2002.
VAINFAS, Ronaldo. Traição: um jesuíta a serviço do Brasil holandês processado pela Inquisição. São Paulo: Companhia das Letras, 2008.

Saiba Mais - Links