“E agora que vocês viram no que a coisa deu, jamais esqueçam como foi que tudo começou” (Bertolt Brecht)

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sábado, 26 de outubro de 2013

Sem razão e com força

Fantasma da ditadura de Pinochet continua a povoar o imaginário do Chile 40 anos depois do golpe.
   O início da década de 1970, o Chile era visto como uma exceção na América Latina, e orgulhava-se disto. Desde 1925 mantinha a mesma ordem constitucional e elegia seus representantes democraticamente. Os principais partidos haviam sido fundados há décadas, organizavam-se por padrões ideológicos (esquerda, centro, direita) e tinham sólida base social. Os movi­mentos estudantil e sindical eram fortes. Os governos aplicavam políticas consideradas ainda hoje avança­das, como a reforma agrária promovida no governo do presidente Eduardo Frei (1964-1970). Por fim, acreditava-se no profissionalismo dos militares, que mantinham um distanciamento do ambiente político considerado adequado ao respeito à supremacia da autoridade civil.
     Este contexto levou a maioria da esquerda a crer que era possível avançar em reformas estruturais rumo ao socialismo mantendo a institucionalidade democrática. Seu líder era Salvador Allende, médico, maçom, fundador do Partido Socialista (PS), político de larga experiência e eleito presidente em 1970 pela Unidade Popular (UP), em aliança com o Partido Comunista e o Partido Radical. Allende obteve 36,22% dos votos, seguido pelo candidato da direita, Jorge Alessandri Rodriguez, do Partido Nacional (34,9%), e pelo democrata-cristão Radomiro Tomic (27,81%). O Congresso Nacional, composto por larga maioria oposicionista, ratificou a vitória de Allende - medida exigida pela legislação eleitoral então em vigor.
     Ao contrário do socialismo real - inclusive de Cuba, que vivia em júbilo revolucionário desde 1959 - Allende falava em uma "via chilena ao socialismo", na qual existissem pluralismo, democracia e liberdade. Mas também se diferenciava da social-democracia europeia, que abrira mão do socialismo.
     Os tempos eram turvos para as ideias de Salvador Allende. Vivia-se a Guerra Fria e, desde sua eleição, os Estados Unidos assumiram a tarefa de sufocar o governo da UP, apoiando oposicionistas na criação do que ficou conhecido depois como um "cenário de caos" no Chile. Liberados na década passada, documentos do Departamento de Estado norte-americano comprovam o envolvimento direto do presidente Richard Nixon e de seu secretário de Estado, Henri Kissinger, em tratativas pela derrubada de Allende desde 1970. Foi estreita a participação da embaixada norte-americana na trama golpista. Some-se a isto a indisposição da classe alta e de parte da classe média chilenas com a agenda econômica socialista e com a intensa agitação popular do período. A preocupação com a "ordem" marca a cultura política chilena e, mirando com os olhos de hoje, parece ingênuo acreditar que tal plataforma política, num país conservador cujo lema pátrio é "Pela razão ou pela força", não resultaria num golpe de Estado.
     O golpe de 11 de setembro de 1973 cinde e traumatiza a sociedade chilena, e apresenta ao mundo a soturna personagem de Augusto Pinochet, um militar de trajetória medíocre e dado ao carreirismo, que fora nomeado Comandante-em-Chefe do Exército por Allende poucas semanas antes do golpe. O cenário da violência golpista, com Allende e alguns poucos aliados civis resistindo em armas ao bombardeio do palácio de La Moneda, até o desfecho com a morte do presidente, foi de confronto entre duas personalidades díspares. De um lado, um general que não hesitou em usar da violência e da perfídia para chegar ao poder; do outro, um presidente fiel à ordem constitucional e que pagou com a vida a lealdade do seu povo, como disse no seu discurso de despedida. A truculência militar enterrou o governo democrático e constitucional.
     A primeira marca da ditadura de Pinochet é o terrorismo de Estado e a extrema violência no combate aos opositores. Desde o regresso à demo­cracia, em 1990, foram reconhecidas pelo Estado chileno mais de 40 mil vítimas da ditadura, das quais mais de 3 mil foram assassinadas e boa parte segue desaparecida. Os próprios Estados Unidos se constrangeram em seguir apoiando Pinochet, particularmente após o assassinato do ex-senador socialista Orlando Letelier em plena Washington, em 1976. Tanto o governo liberal de Jimmy Cárter (1977-1980) como o conservador de Ronald Reagan (1981-1989) cobraram explicações do Chile sobre o caso.
     Mas a ditadura chilena também se caracteri­zou pela chamada "modernização conservadora". Junto a economistas ortodoxos influenciados por Milton Friedman, os "Chicago boys", Pinochet fez do Chile um pioneiro laboratório de políticas neoliberais, privatizando, abrindo a economia e reduzindo direitos sociais e trabalhistas a ní­veis apenas possíveis num cenário de extrema repressão política. Como resultado, enquanto os países vizinhos viviam recessões fenomenais, o Chile experimentou altos índices de crescimento econômico, alicerçados na abertura da economia ao mercado externo, na prioridade à produção e à exportação de commodities (como cobre, frutas e salmão) e de produtos industrializados com bai­xa tecnologia agregada (como os vinhos), o que reduziu o seu parque industrial. Para as classes alta e média, a situação representou novas pos­sibilidades de consumo, comparáveis aos países desenvolvidos. Em contrapartida, o índice de po­breza subiu de 20% da população em 1973 para 40% em 1990. Para estes, restava a baixa qualida­de dos serviços públicos, como a previdência, a saúde e a educação.
     Pinochet deixou o governo do Chile em 1990, depois de derrotado em um plebiscito dois anos antes sobre sua permanência no poder por mais oito anos. Sucedeu-o a Concertación, coalizão de partidos de centro-esquerda liderada pelos democrata-cristãos e pelos socialistas. Entretanto, 43% dos chilenos votaram pela permanência de Pinochet no poder em 1988, o que demonstra sua popularidade duradoura e incomum em face de outros ditadores do Cone Sul.
     Durante o governo da Concertación, o Estado chileno promoveu diversas iniciativas em prol da "verdade e da reparação das violações dos direitos humanos cometidas na ditadura", conseguindo, nesta matéria, resultados muito mais importan­tes dos que os vistos até agora no Brasil. Já em 1990, poucos meses após sua posse, o presidente Patrício Aylwin criou a Comissão Nacional de Ver­dade e Reconciliação, que apresentou relatório no ano seguinte, detalhando casos de violação dos direitos humanos ocorridos após 1973. A partir de 1992, a Corporação Nacional de Reparação e Reconciliação, criada pelo governo nacional, deu continuidade ao trabalho de identificação das violações da ditadura e estabeleceu pensões e indenizações para vítimas e familiares de vítimas. Em 2003, o presidente socialista Ricardo Lagos apresentou o documento "Não há amanhã sem ontem", que deu origem à Comissão Nacional sobre Prisão Política e Tortura, que novamente realizou importantes investigações.
     Militares envolvidos nas violações dos direitos humanos durante a ditadura foram punidos por tribunais chilenos, entre eles Manuel Contreras, chefe da Dina, a polícia política de Pinochet. O ditador procurou manter uma segura distância destes casos, imputando responsabilidades ape­nas aos seus antigos subordinados. Mas, em 1998, foi detido enquanto fazia tratamento de saúde em Londres, após pedido de extradição para a Espanha por crimes de genocídio. Tal situação au­mentou a divisão dos chilenos: os partidários de Pinochet alegavam violação à soberania nacional, enquanto seus opositores e vítimas comemora­vam o vexame internacional. Após complicada tratativa diplomática, com o governo chileno atu-ando contra a extradição, Pinochet regressou ao Chile alegando que sua saúde frágil o impedia de responder em juízo.
     Outro 11 de setembro - data do golpe de 1973 - complicaria definitivamente a vida de Pinochet. Após sofrerem o maior atentado terro­rista de sua história, em 2001, os Estados Unidos iniciaram uma varredura bancária atrás de casos de lavagem de dinheiro e de financiamento ao terrorismo. Vieram assim a público contas secre­tas de Pinochet no Riggs Bank, em Washington, abertas com identidades e passaportes falsos. Progressivamente, outras contas do ditador e de sua esposa e filhos apareceram em diversos países. Sem comprovar a origem dos recursos, foram processados por corrupção pela justiça chilena. Quando morreu, em 10 de dezembro de 2006 - Dia Internacional dos Direitos Humanos - Pinochet ainda respondia a processos. No ano seguinte, sua esposa e os cinco filhos foram pre­sos por corrupção.
      Allende e Pinochet ocupam lugares distintos na atual memória chilena. Em pesquisas realizadas no Chile em 2006, 82% dos entrevistados responderam que a imagem que Pinochet lega para a história é a de um ditador, e os que o viam como "um dos melhores presidentes" do país caíram de 27% para 12% em dez anos. Já a presidência de Allende foi considerada como "um bom governo com ideias mal aplicadas" por 63% dos entrevistados em 2003. Em 2008, ano do seu centenário, Allende foi eleito, em um programa de TV, o chileno mais importan­te da história. Em 2010, 67,7% dos entrevistados de uma pesquisa nacional acreditavam que Pinochet sempre soube das violações dos direitos humanos.
     O Chile atual é muito diverso do país deixado por Salvador Allende. Apesar da expressiva redução da pobreza, resultante do aumento dos investimentos sociais nos governos da Concertación, os chilenos desconfiam das instituições, clamam por qualidade da democracia e melhores serviços públicos. O PS de Allende abraçou o reformismo social-democrata, combinando o respeito às regras da democracia e à economia de mercado com políticas públicas redistributivas, mas abandonando a ruptura com a ordem capitalista que caracterizava a estratégia pré-1973.
Rodrigo Freire de Carvalho e Silva é Professor de Ciência Política na Universidade Federal da Paraíba e Autor de A Tranformação da Esquerda Latino-Americana. Um Estudo Comparado do Partido dos Trabalhadores (PT) No Brasil e do Partido Socialista (PSCH) no Chile (Editora UFPB, 2013).

Saiba Mais - Bibliografia
BANDEIRA, Luiz Alberto Muniz. A fórmula para o caos. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 2008,
GARCES, Juan. Allende e as armas da política São Paulo: Scritta Editoral, 1993.
MUNUZ, Heraldo. A sombra do ditador. Rio de Janeiro: Zahar, 2010,
VERDUGO, Patrícia. A caravana da morte. Rio de Janeiro: Revan, 2001.

Saiba Mais – Links

Saiba Mais – Filmes
A Batalha do Chile - A Luta de Um Povo Sem Armas
    Considerado um dos melhores e mais completos documentários latino-americanos, A Batalha do Chile é o resultado de seis anos de trabalho do cineasta Patrício Guzmán. Dividido em três partes (A insurreição da burguesia (1975), O golpe militar (1977) e O poder popular (1979)), o filme cobre um dos períodos mais turbulentos da história do Chile, a partir dos esforços do presidente Salvador Allende em implantar um regime socialista (valendo-se da estrutura democrática) até as brutais consequências do golpe de estado que, em 1974, instaurou a ditadura do general Augusto Pinochet.
     Patrício Guzmán foi além dos temas espetaculares, filmando desde assembleias de fábricas, passando por trabalhadores do campo, moradores de bairros construindo um abastecimento alternativo, até militantes de direita. É um registro e uma análise bastante completa do que foi a caminhada chilena pela via democrática ao socialismo, abordando temas difíceis como as nacionalizações, o apoio ambíguo da presidência ao processo de construção do "poder popular" que se dava com as ocupações de fábricas e latifúndios e a construção da participação direta através de assembleias locais e regionais, e as contradições entre este poder popular e um Estado que acabou paralisado pela maioria conservadora do Congresso e as ações de sabotagem apoiadas pela CIA e pelas elites. Com o golpe em 1973, Guzmán se refugiou em Cuba, onde terminou de editar a terceira parte do documentário apenas em 1979. Foram praticamente 10 anos de trabalho.
Direção: Patrício Guzmán
Ano: 1975 - 1977 - 1979
Áudio: Espanhol/Legendado
http://ul.to/jadmreau
A Insurreição da Burguesia (97 min. 482 MB)
“Salvador Allende põe em marcha um programa de profundas transformações sociais e políticas. Desde o primeiro dia a direita organiza contra ele uma série de greves enquanto a Casa Branca o asfixia economicamente. Apesar do boicote, em março de 1973 os partidos que apoiam Allende obtém mais de 40% dos votos. A direita compreende que os mecanismos legais já não servem. De agora em diante sua estratégia será o golpe de estado”. (Patrício Guzmán)
O Golpe de Estado (88 min. 386 MB)
“Entre março e setembro de 1973 a esquerda e a direita se enfrentam nas ruas, nas fábricas, nos tribunais, nas universidades, no congresso e nos meios de comunicação. A situação se torna insustentável. Os Estados Unidos financiam a greve dos caminhoneiros e fomentam o caos social. Allende tenta, sem sucesso, um acordo com as forças da Democracia Cristã. Os militares começam a conspirar em Valparaíso. Um amplo setor da classe média apoia o boicote e a guerra civil. Em 11 de setembro Pinochet bombardeia o palácio do Governo”. (Patrício Guzmán)
O Poder Popular (79 min. 364 MB) 
“A margem dos grandes acontecimentos narrados nos episódios I e II acontecem também outros fenômenos originais, às vezes efêmeros, incompletos, contatos nesta terceira parte. Numerosos setores da população e, em particular, as camadas populares que apoiam Allende organizam e põem em marcha uma série de ações coletivas: armazéns comunitários, cadeias industriais, comitês camponeses etc. com a intenção de neutralizar o caos e superar a crise. Essas instituições, em sua maioria espontâneas, representam um ‘estado’ dentro do Estado”. (Patrício Guzmán)

NO
Chile, 1988. Pressionado pela comunidade internacional, o ditador Augusto Pinochet aceita realizar um plebiscito nacional para definir sua continuidade ou não no poder. Acreditando que esta seja uma oportunidade única de pôr fim à ditadura, os líderes do governo resolvem contratar René Saavedra (Gael García Bernal) para coordenar a campanha contra a manutenção de Pinochet. Com poucos recursos e sob a constante observação dos agentes do governo, Saavedra consegue criar uma campanha consistente que ajuda o país a se ver livre da opressão governamental.
Direção: Pablo Larraín
http://ul.to/9dl78umhAno: 2012
Áudio: Espanhol/Legendado
Duração: 117 minutos


Missing - Desaparecido
Num restaurante em Santiago do Chile, um jovem jornalista norte-americano, residente nesse país, acaba escutando uma conversa na mesa ao lado, entre um agente da CIA e militares chilenos, que deixa clara a participação do governo norte-americano no golpe militar que depôs o governo socialista de Salvador Allende e inaugurou a ditadura do general Augusto Pinochet.
A obra de Costa Gavras focaliza inicialmente o cotidiano do jornalista no Chile, até seu desaparecimento, dias após o golpe de Estado do general Pinochet. O filme prossegue até o final com a busca desesperada do pai e da mulher do jornalista, na tentativa de encontrá-lo.
O Chile pós-golpe de Estado, os primeiros dias da repressão e todo horror da ditadura chilena, considerada uma das mais violentas da América Latina, são fielmente retratados pelo filme, que venceu a Palma de Ouro e o prêmio de melhor ator no festival de Cannes, além do Oscar de melhor roteiro adaptado...
Direção: Costa Gavras
Ano: 1982
http://ul.to/89uz0bdb
Áudio: Inglês/Legendado
Duração: 117 minutos
Estado de Sítio
Em ousada operação, um grupo de guerrilheiros sequestra diplomata brasileiro e um cidadão americano de nome Philipe Michael Santore (Yves Montand), funcionário de uma agência americana. Ato contínuo passam a exigir a libertação de militantes presos. Desse momento em diante o filme é narrado em flashbacks relatando suas atividades, a grande repercussão internacional e a articulação dos meios de repreensão ao movimento. Filme do mestre Costa-Gravas que esclarece, de forma notável, fatos de nossa história recente.
Direção: Costa Gavras
Ano: 1972
Áudio: Francês/Legendado
http://ul.to/kfj3qcu0Duração: 119 minutos

domingo, 10 de março de 2013

Os fins justificam os meios?

A ‘Hora mais escura’, de Kathryn Bigelow, causa estranheza ao adotar postura neutra diante de um tema tão controverso quanto a tortura de terroristas capturados pelos EUA.
     Apenas uma ida ao cinema não é o suficiente para digerir o novo filme da americana Kathryn Bigelow que – com duas estatuetas (melhor direção e filme) na gaveta, por The Hurt Locker (Guerra ao Terror), de 2008 – entrou na briga pelo Oscar de melhor filme no Academy Awards deste ano, tratando de uma temática bem parecida. Dois ingressos foram o necessário. E não aguentaria ver pela terceira vez. Isto porque A hora mais escura, com sua tentativa de ser documentalmente imparcial, é um espetáculo cinematográfico e gera desconforto do começo ao fim.
     “Baseado em relatos de eventos reais”, o filme narra uma caçada que durou dez longos anos – mas com aquela sensação de vinte, ou trinta, para aqueles envolvidos diretamente no caso, ou os emocionalmente abalados pela perda de ente queridos, ou apenas os fortemente ressentidos com aquele que deve ter sido o mais duro golpe contra o “americanismo”. Dez anos foi o tempo que o centro de operações da CIA levou para capturar e matar o inimigo número um dos Estados Unidos da América. Segundo a versão oficial, Osama Bin Laden, líder da Al-Qaeda, foi mandante do atentado terrorista de 11 de setembro de 2001, que deixou cerca de 3 mil mortos e deflagrou a chamada “guerra ao terror”.
     A história, nós já conhecemos. Quem não se lembra do que estava fazendo (ou do que parou de fazer quase que instantaneamente) ao ouvir a notícia dos atentados na TV, em 2001? Ou das horas e horas esperando pelo pronunciamento do presidente Barack Obama, no dia da morte de Bin Laden, em 1º de maio de 2011? Isto, por si só, já justificaria o caráter documental do filme de Bigelow. Mas ela vai adiante e explora cada tracinho de informações (confidenciais ou não) – a CIA, de verdade, chegou a investigar os produtores do filme para saber de onde eles tiraram algumas delas – as quais teve acesso, na trama assinada por Mark Boal, que também levou um Oscar de melhor roteiro por Guerra ao Terror.  O roteiro começou a ser escrito antes da morte do líder terrorista e teve que ser modificado depois.
     O primeiro soco no estômago do filme vem de algo tão realista que é quase inacreditável. Uma tela preta se ergue frente ao telespectador, logo no início, e as vozes desesperadas das pessoas presas nos escombros das Torres Gêmeas naquele 11/9 ecoam. No cinema, as pessoas se remexem inquietas em suas poltronas tão paradoxalmente confortáveis. Estão incomodadas. Resguardadas as devidas proporções de pânico, é como se estivéssemos presos num horror sem fim, implorando inconscientemente para que tudo termine logo, para que as vozes cessem. Se esta era a intenção de Kathryn Bigelow, parabéns para ela.
     A partir daí, A hora mais escura dá início à obsessão que tomou conta dos Estados Unidos por todos esses anos, personificada pela protagonista Maya (Jessica Chastain), que foi inspirada em um punhado de agentes reais da CIA. Recrutada pelo serviço secreto antes mesmo de ingressar numa universidade, em 2001, Maya fez da caçada aos talibãs seu objetivo de vida, e de Osama seu pote de ouro no fim do arco íris. 
     A agente representa, portanto, a guerra declarada ao terrorismo. E descansa sobre ela a controvérsia perturbadora, e o viés ambíguo e perigoso, do filme: a tortura como um meio justificado pelo fim. Intercalando cenas fictícias – que, ainda assim, carregam sobre si o peso da legenda inicial do filme, de que ele é baseado em fatos reais – com imagens verídicas de interrogatórios promovidos durante a “caça às bruxas” de George W. Bush, Bigelow escancara a trilha que levou à captura de Bin Laden.
     Num dos momentos cruciais de Zero Dark Thirty – no jargão militar, esta expressão significa meia-noite e meia, horário em que começou a operação que culminou com a morte de OBL –, discursos de caráter mais “brando” proferidos por Barack Obama mostram a ruptura no regime político vigente.  Mas a mensagem é clara: o governo atual pode até ter cumprido missão de forma mais humana (e quanto a isso, há controvérsias), mas não se pode esquecer do que os levou até ali.
     Entre as críticas sofridas por Bigelow, uma das mais contundentes foi a de Slavoj Zizek, que a acusa de estar “aliada à normalização da tortura”, já que esta é representada, no filme, de forma neutra. De fato, o sentimento que fica é de constante desconforto e dúvida: “mas ela está defendendo ou criticando a prática?”. No fim das contas, a tentativa de ser imparcial incomoda.
A Hora Mais Escura (Zero Dark Thirty)
Direção: Kathryn Bigelow
Ano: 2012
Áudio: Inglês/Legendado
Duração: 157 minutos
Tamanho: 493 MB

Saiba Mais – Links:

sábado, 12 de janeiro de 2013

Especial - Alejandro Gonzáles Iñárritu

     Mexicano nascido a 15 de agosto de 1963, na Cidade do México, apelidado de El Negro, faz parte do seleto grupo de diretores latino-americanos a atingir reconhecimento mundial nos últimos anos. Em 1984, porém, ele era apenas um DJ de uma rádio da Cidade do México. Nessa época, estudava teatro e cinema, o que o ajudou a se tornar, no final da década de 80, um produtor da Televisa, uma das maiores redes de televisão do continente. Com bons contatos e muito talento, ele conheceu o roteirista Guillermo Arriaga, com o qual assinou o script de Amores Brutos. Foi a sua primeira experiência ao dirigir um longa-metragem e se tornou também a primeira vez que ele apresentou um filme no Festival de Cannes. O filme foi também indicado ao Oscar, na categoria Melhor Filme Estrangeiro.
     Junto com Win Wenders, Sean Penn, Amos Gitai e outros grandes cineastas, dirigiu um dos onze episódios de 11´09´´01 - September 11, no qual 11 diretores faziam interpretações do atentado ao World Trade Center, em Nova York. Consagrado após apenas duas obras, ele conseguiu acesso a Hollywood e fez 21 Gramas, com o porto-riquenho Benicio Del Toro e Naomi Watts. O filme também foi aclamado. Em 2006, com Babel, o terceiro trabalho da dupla, ele venceu o Festival de Cannes.
PREMIOS:
·         Prêmio da Crítica no Festival de Cannes, por Amores perros (2000)
·         Prêmio da Crítica na Mostra Internacional de São Paulo, por Amores perros (2000)
·         Ganhou o BAFTA de Melhor Filme Estrangeiro, por Amores perros (2000)
·         Palma de Ouro em Cannes como Melhor Diretor por Babel (2006)
Filmes:
Amores Brutos (Amores Perros)
Em plena Cidade do México, um terrível acidente automobilístico ocorre. A partir deste momento, três pessoas envolvidas no acidente se encontram e têm suas vidas mudadas para sempre. Um deles é o adolescente Octavio (Gael García Bernal), que decidiu fugir com a mulher de seu irmão, Susana (Vanessa Bauche), usando seu cachorro Cofi como veículo para conseguir o dinheiro para a fuga. Ao mesmo tempo, Daniel (Álvaro Guerrero) resolve abandonar sua esposa e filhas para ir viver com Valeria (Goya Toledo), uma bela modelo por quem está apaixonado. Também se envolve no acidente Chivo (Emilio Echevarría), um ex-guerrilheiro comunista que agora atua como matador de aluguel, após passar vários anos preso. Ali, em meio ao caos, ele encontra Cofi e vê a possibilidade de sua redenção.
Direção: Alejandro G. Iñárritu
Ano: 2000
Áudio: Espanhol/Legendado
Duração: 145 minutos

21 Gramas
A exemplo do filme anterior de Arriaga e González Iñarritu, Amores brutos (2000), 21 Gramas entrelaça vários enredos, ao redor das consequências de um trágico acidente automobilístico. Penn interpreta um matemático acadêmico em estado crítico de saúde, Watts interpreta uma mãe ferida pelo luto, e del Toro interpreta um ex presidiário, convertido ao cristianismo, cuja fé é impiedosamente testada, com o resultado do acidente.
21 Gramas é apresentado em uma estrutura não-linear, onde as vidas dos personagens são retratadas antes e depois do acidente. Cada um dos três personagens principais tem 'passado', 'presente' e 'futuro', os quais são mostrados como fragmentos não-lineares que pontuam elementos da história como um todo, todos aproximando-se um dos outros e aderindo-se enquando a estória avança.
O título refere-se a uma teoria propagada na pesquisa de 1907 do físico dr. Duncan MacDougall, que se propunha a fornecer evidências científicas da existência da alma humana, através do registro de uma pequena perda de massa corpórea (representando a partida da alma) imediatamente após a morte. A pesquisa, mostrou grandes variações de resultados (21 gramas é uma quantia arbitrária; os verdadeiros resultados de MacDougall não apresentaram média confiável), e foram firmemente rejeitados pela comunidade científica, mesmo em sua época. O filme apresenta as descobertas de MacDougall como aceitas cientificamente em forma de licença poética.
Direção: Alejandro G. Iñárritu
Ano: 2003
Áudio: Dublado
Duração: 119 minutos

Babel
Um ônibus repleto de turistas atravessa uma região montanhosa do Marrocos. Entre os viajantes estão Richard (Brad Pitt) e Susan (Cate Blanchett), um casal de americanos. Ali perto os meninos Ahmed (Said Tarchani) e Youssef (Boubker At El Caid) manejam um rifle que seu pai lhes deu para proteger a pequena criação de cabras da família. Um tiro atinge o ônibus, ferindo Susan. A partir daí o filme mostra como este fato afeta a vida de pessoas em vários pontos diferentes do mundo: nos Estados Unidos, onde Richard e Susan deixaram seus filhos aos cuidados da babá mexicana; no Japão, onde um homem (Kôji Yakusho) tenta superar a morte trágica de sua mulher e ajudar a filha surda (Rinko Kinkuchi) a aceitar a perda; no México, para onde a babá (Adriana Barraza) acaba levando as crianças; e ali mesmo, no Marrocos, onde a polícia passa a procurar suspeitos de um ato terrorista.
Direção: Alejandro G. Iñárritu
Ano: 2006
Áudio: Inglês, Espanhol, árabe.../Legendado
Duração: 144 minutos

Biutiful
Catalunha. Uxbal (Javier Bardem) coordena vários negócios ilícitos, que incluem a venda de produtos nas ruas da cidade e a negociação do trabalho de um grupo de chineses, cujo custo é bem menor por não serem legalizados e viverem em condições precárias. Além disto, ele possui o dom de falar com os mortos e usa esta habilidade para cobrar das pessoas que desejam saber mais sobre seus entes que partiram há pouco tempo. Uxbal precisa conciliar sua agitada vida com o papel de pai de dois filhos, já que a mãe deles, Marambra (Maricel Álvarez), é instável. Até que, após sentir fortes dores por semanas, ele resolve ir ao hospital. Lá descobre que está com câncer e que tem poucos meses de vida.
Direção: Alejandro G. Iñárritu
Ano: 2011
Áudio: Dublado
Duração: 148 minutos

Documentário:
11 de Setembro (11’9″01 – September 11)
Após os acontecimentos de 11 de setembro de 2001, o produtor artístico Alain Brigand pediu a 11 diretores que contribuíssem cada um com um curta-metragem para uma coletânea que seria exibida internacionalmente. Inspirados naquele dia, todos os realizadores tiveram liberdade artística para refletir sobre o atentado, obedecendo à duração de 11 minutos, 9 segundos e 1 frame - ou 11'09''01.
Onze curta-metragens abordando diversos aspectos dos ataques terroristas aos Estados Unidos, ocorridos em 11 de setembro de 2001. Danis Tanovic e Ken Loach relacionam a data do atentado a outros acontecimentos. Tanovic lembra-se do dia 11 de julho de 1995, quando ocorreu o massacre em Srebrnica e Loach rememora que Salvador Allende foi deposto do governo chileno em 11 de setembro de 1973. Idrissa Ouedraogo realizou uma comédia reflexiva sobre Burkina Faso. Samira Makhmalbaf mostra uma professora que tenta explicar o ataque a um grupo de crianças. Sean Penn evoca a vida de uma viúva que morava à sombra das duas torres desabadas. Claude Lelouch descreve as reações de vários surdos ao evento ou que testemunharam o evento. Shonei Imamura recorre às memórias japonesas da Segunda Guerra Mundial e Mira Nair mostra os problemas das minorias étnicas. Amos Gitai dá a sua interpretação sobre o papel da mídia em uma informação de significado internacional. Alejandro González Iñárritu apresenta 11 minutos de preces na escuridão, enquanto Youssef Chahine reflete a perspectiva do Oriente Médio.
Direção: Alejandro González Iñárritu, Youssef Chahine, Amos Gitai, Shohei Imamura, Claude Lelouch, Ken Loach, Samira Makhmalbaf, Mira Nair, Idrissa Ouedraogo, Sean Penn, Danis Tanovic
Ano: 2002
Áudio: espanhol, inglês, francês, árabe, hebraico, persa/Legendado
Duração: 128 minutos

sexta-feira, 6 de julho de 2012

Desgaste, desencanto e suicídios no exército dos EUA.

Um soldado a cada dia acaba com a própria vida. Suicídios já são duas vezes maiores que mortes em combate. Angústia, convocações sucessivas e dificuldades econômicas parecem ser as causas.
     Nos primeiros 155 dias do ano, foram reportados 154 suicídios de soldados americanos na ativa, o que quer dizer que, em média, entre Janeiro e Junho de 2012 o Exército norte-americano perdeu uma pessoa por dia.
     No mesmo período, o número de soldados que morreram no Afeganistão foi inferior: menos 50%, de acordo com o Pentágono; 139, segundo o site: icasualties.org/, que reúne a contabilidade das mortes em combate.
     Os dados do Pentágono apontam uma alta extraordinária da taxa de suicídio de tropas, que se encontra agora num nível histórico – face aos valores do período homólogo de 2011, a taxa de suicídio disparou 18%, e 25% quando comparada com 2010. Nunca, na última década em que os Estados Unidos estiveram envolvidos em duas guerras (no Iraque e Afeganistão), o ritmo de suicídios entre militares foi tão elevado.
    O Departamento de Defesa manifestou extrema preocupação com a tendência de subida do número de suicídios, que se tem verificado desde 2006, até atingir um pico em 2009 e novamente agora. Antes de ter sido feita a contagem do primeiro semestre do ano, o próprio secretário da Defesa, Leon Panetta, tinha alertado as chefias para a questão, escrevendo numa nota interna que “o suicídio de militares é um dos problemas mais complexos e urgentes” a necessitar de atenção e soluções.

Exército combate estigma
    “Há que continuar a trabalhar para eliminar o estigma de quem sofre de stress pós-traumático ou outros problemas mentais para que esses indivíduos procurem ajuda especializada”, dizia o documento, citado pela Associated Press.
     Panetta escreveu ainda que os comandantes têm uma responsabilidade adicional e “não podem tolerar qualquer ação que leve ao desprezo, humilhação ou isolamento de qualquer indivíduo, principalmente daqueles que necessitem de tratamento”.
     Num esforço para gerir os problemas individuais e sociais provocados pelo esforço de guerra da última década — além do aumento dos suicídios, verifica-se também uma subida nos casos de toxicodependência, de violência sexual e doméstica e de outros crimes praticados por soldados —, o exército norte-americano lançou programas de saúde mental, de prevenção do abuso de álcool e drogas, assim como de aconselhamento jurídico e financeiro para os soldados e as suas famílias.
      Como comentava o diretor-executivo da associação de Soldados Veteranos da América e do Afeganistão, Paul Rieckhoff, o número de suicídios entre militares na ativa é apenas “a ponta visível do icebergue” — um inquérito conduzido junto dos 160 mil membros da sua organização revelava que 37% tinha conhecimento pessoal de alguém que tinha posto fim à própria vida.
     As causas para o problema estão identificadas: os estudos realizados pelo Pentágono com o seu pessoal demonstram que os anos de convocações sucessivas para o teatro de guerra elevam a probabilidade de os soldados desenvolverem um quadro de stress pós-traumático. Especialistas dizem que a situação económica dos Estados Unidos também pode estar contribuindo para o aumento da angústia e desespero das tropas americanas e respectivas famílias.

Saiba Mais: Documentários
11 de Setembro (11’9″01 – September 11)
Após os acontecimentos de 11 de setembro de 2001, o produtor artístico Alain Brigand pediu a 11 diretores que contribuíssem cada um com um curta-metragem para uma coletânea que seria exibida internacionalmente. Inspirados naquele dia, todos os realizadores tiveram liberdade artística para refletir sobre o atentado, obedecendo à duração de 11 minutos, 9 segundos e 1 frame - ou 11'09''01.
Onze curta-metragens abordando diversos aspectos dos ataques terroristas aos Estados Unidos, ocorridos em 11 de setembro de 2001. Danis Tanovic e Ken Loach relacionam a data do atentado a outros acontecimentos. Tanovic lembra-se do dia 11 de julho de 1995, quando ocorreu o massacre em Srebrnica e Loach rememora que Salvador Allende foi deposto do governo chileno em 11 de setembro de 1973. Idrissa Ouedraogo realizou uma comédia reflexiva sobre Burkina Faso. Samira Makhmalbaf mostra uma professora que tenta explicar o ataque a um grupo de crianças. Sean Penn evoca a vida de uma viúva que morava à sombra das duas torres desabadas. Claude Lelouch descreve as reações de vários surdos ao evento ou que testemunharam o evento. Shonei Imamura recorre às memórias japonesas da Segunda Guerra Mundial e Mira Nair mostra os problemas das minorias étnicas. Amos Gitai dá a sua interpretação sobre o papel da mídia em uma informação de significado internacional. Alejandro González Iñárritu apresenta 11 minutos de preces na escuridão, enquanto Youssef Chahine reflete a perspectiva do Oriente Médio.
 Direção: Youssef Chahine, Amos Gitai, Alejandro González Iñárritu, Shohei Imamura, Claude Lelouch, Ken Loach, Samira Makhmalbaf, Mira Nair, Idrissa Ouedraogo, Sean Penn, Danis Tanovic
Ano 2002
Áudio: espanhol, inglês, francês, árabe, hebraico, persa/Legendado
Duração:128 minutos

Razões Para A Guerra (Why We Fight)
Vencedor do Grande Prêmio do Júri no Sundance Film Festival de 2005, Razões Para a Guerra proporciona uma visão reveladora sobre como a América tem se preparado para a batalha e o que os obriga tão frequentemente a travar guerras ao redor do mundo.
Produzido em meio à segunda guerra do Iraque, o documentário é uma agressiva análise das forças que alimentam a máquina militar norte-americana por mais de meio século e suas consequências globais.
O filme começa com o discurso de despedida do presidente Dwight D. Eisenhower em 1961, no qual ele alertou os norte-americanos quanto ao crescimento do poder do "complexo industrial militar."
Expandindo a partir da advertência de Eisenhower, Jarecki conta ainda com entrevistas de soldados norte-americanos, oficiais do governo, informantes militares, empregados da área de Defesa, congressistas, acadêmicos, iraquianos e muitos outros que fornecem análises pessoais, políticas e econômicas sobre os últimos 50 anos da expansão militar dos Estados Unidos, guerras e intervenções.
O que surge é um retrato esclarecedor e arrepiante de como os interesses políticos, corporativos e militares se tornaram progressivamente ligados através do negócio que é uma guerra.
Se nós queremos defender e promulgar a paz, precisamos conhecer as razões para a guerra! “Por que nós lutamos?”. “Lutamos pela liberdade”. Essa resposta faz parte de uma cultura que tentou justificar a guerra pelos melhores motivos. A boa propaganda é muito eficiente em montar mentalidades...!
Direção: Eugene Jarecki
Ano: 2005
Áudio: Inglês/legendado
Duração: 99 minutos

Táxi Para A Escuridão (Taxi to the Dark Side)
Um taxista afegão, preso por líderes militares locais, morre 4 dias depois na Base Aérea de Bagram, por consequência das torturas sofridas. Meses de investigação levam uma jornalista do New York Times até a vila remota da vítima. Lá, encontra o atestado de óbito em inglês, entregue pelo Exército Americano para a família da vítima, que só fala Pashtu. Causa oficial da morte: homicídio. Documentos oficiais revelam como o exército norte-americano e o FBI gastaram meses de pesquisas, aperfeiçoando seus métodos para “dobrar” os prisioneiros.
Na base de Guantánamo, em Cuba, a CIA e o exército desenvolveram e criaram métodos de tortura e testaram nos detentos. Os presos ali, sem direito a habeas-corpus e sem saber o motivo pelo qual haviam sido presos, tiveram corpos e mentes moídos com a anuência do alto escalão do governo. Um dos detentos, sob tortura, disse que Saddam Hussein havia treinado a Al-Qaeda no uso de armas químicas. O documentário revela que uma pessoa torturada diz o que o torturado deseja ouvir. E tudo o que os EUA queriam era um motivo para invadir o Iraque. Com ou sem provas.
Direção: Alex Gibney
Ano: 2007
Áudio: Inglês/legendado
Duração: 106 minutos

A Caminho de Guantánamo (The Road to Guantánamo)
10 de setembro de 2001. A mãe de Asif Iqbal (Afran Usman), um jovem de 19 anos, retorna do Paquistão anunciando que encontrou uma noiva para ele. Nove dias depois Asif segue para o Paquistão, para encontrá-la e também conhecer a terra de seus pais. Asif convida Ruhel (Farhad Harun), Shafiq (Riz Ahmed) e Monir (Waqar Siddiqui), seus amigos, para acompanhá-lo. Em Karachi, após 2 dias de viagens turísticas, eles vão rezar em uma mesquita. Lá ouvem de um líder local que o Afeganistão precisa de voluntários, o que faz com que sigam para Kandahar. Porém a cidade logo é bombardeada pelos americanos, como represália pelos atentados terroristas de 11 de setembro. Eles tentam retornar ao Paquistão, mas Monir desaparece e os demais são capturados pelas forças aliadas. É o início de uma série de torturas que os amigos sofrem, já que ninguém acredita que são turistas europeus. Em janeiro de 2002 eles são enviados à prisão americana de Guantánamo, em Cuba, onde durante 2 anos e meio tentam convencer os guardas sobre suas verdadeiras identidades. Filme polêmico ganhou o Urso de Prata de melhor direção no Festival de Berlim de 2006.
Direção: Michael Winterbottom, Mat Whitecross
Ano: 2006
Áudio: Inglês/legendado
Duração: 91 minutos

Saiba Mais: Links
Passaram-se oito anos e os Estados Unidos fecharam a porta do Iraque deixando um desastre atrás dela. Durante o conflito, morreram mais de 100 mil civis, 4.800 soldados da coalizão perderam a vida (4.500 dos EUA), junto com 20 mil soldados iraquianos. Para os iraquianos, o legado da invasão é morte, dezena de milhares de mutilados, insegurança, desemprego, falta de água potável e eletricidade. A democracia exportada com bombas ultramodernas não mudou o curso das coisas.
Da Revolução Francesa, passando pelos carbonários, o século XX com as guerras, e o XXI, com Bin Laden: o terrorismo foi encarado de formas até antagônicas.
Em "Incêndios", um casal de gêmeos, após a morte da mãe, parte em busca de uma família desconhecida no Oriente Médio, descobre o passado da família e os horrores da guerra - revelados não por cenas violentas, mas por diálogos intensos.

terça-feira, 3 de janeiro de 2012

O legado dos EUA no Iraque, oito anos depois da invasão.

     Passaram-se oito anos e os Estados Unidos fecharam a porta do Iraque deixando um desastre atrás dela. Durante o conflito, morreram mais de 100 mil civis, 4.800 soldados da coalizão perderam a vida (4.500 dos EUA), junto com 20 mil soldados iraquianos. Para os iraquianos, o legado da invasão é morte, dezena de milhares de mutilados, insegurança, desemprego, falta de água potável e eletricidade. A democracia exportada com bombas ultramodernas não mudou o curso das coisas.
Eduardo Febbro
     Passaram-se oito anos. Como pedras impiedosas que semearam a morte. Como aquelas horrendas imagens que surgiam à beira das estradas no caminho em direção a Bagdá. Fumaça, destruição, cadáveres e silêncio. Parece ontem. O cruzamento de estradas assinalava duas direções: Basra ou Bagdá. Através da estrada até Bagdá, as sucessivas batalhas da ofensiva emergiam como cogumelos despedaçados: ônibus bombardeados, veículos calcinados, tanques arrebentados e crateras imensas cavadas pelos mísseis. Os tanques iraquianos dispostos em fila à beira da estrada pareciam latas de sardinha queimadas. Frente a eles, os tanques Abrams norte-americanos tinham o aspecto de mastodontes invencíveis. “Quando começamos a avançar por esse trajeto, os soldados iraquianos saíam dos tanques para nos pedir água e comida”, contava com lástima um oficial norte-americano.
     Os primeiros grandes subúrbios de casas baixas pareciam emergir de um pesadelo. As casas e as lojas tinham virado trincheiras e havia centenas de pessoas caminhando pelas ruas, levando colchões, cadeiras, roupas, televisões, máquinas de lavar roupa, velhas máquinas de costura. Bagdá, ao longe, estava envolta em uma espessa nuvem de fumaça escura. Os poços e as trincheiras de petróleo seguiam ardendo. Saddam Hussein havia mandado incendiá-los para impedir que os satélites norte-americanos obtivessem imagens precisas do estado de Bagdá. Depois, a cidade aparecia finalmente. Ferida e assustada.
     Em cima do capô de um automóvel que havia avançado sobre a calçada, um livro de capa azul exibia suas páginas milagrosamente intactas. Dentro do veículo, o corpo de um homem com o corpo tombado para a frente tinha a cabeça partida e parte do cérebro esparramado em cima do porta-luvas. Ninguém prestava atenção. A cem metros do automóvel, um grupo de homens tentava, em vão, derrubar uma imensa estátua de Saddam Hussein erguida no centro de uma rótula. Do outro lado, três mortos jaziam à margem da rua. Um grupo de cachorros sarnentos disputava a propriedade do corpo de um dos mortos: um menino de seis anos estava ali também, sem um sapato e sem a metade do rosto.
     Saddam Hussein havia desaparecido. O exército ocupante se instalava em tendas nos territórios de sua nova conquista, ocupava os palácios de quem tinha sido seu aliado, se apoderava das ruas da cidade transformada e restaurada pelo ditador com a ajuda dos arquitetos enviados pelo Ocidente nos anos em que Saddam era um sócio confiável e ninguém se importava que ele afogasse seu povo em uma lagoa de sangue. O choque de civilizações acabava de se plasmar em sua versão mais violenta: a de um país milenar e reprimido, a de uma potência ocidental que havia enviado do céu uma chuva de democracia comprimida em cachos de bombas.
     Há lugares cujo nome e os símbolos que evoca sobrevivem aos estragos do tempo e das guerras. Bagdá tinha esse dom. Horrível e mágica. Histórica e contemporânea. Ameaçadora e hospitaleira. As Mil e uma Noites, uma grande livro onde, a cada virada de página, havia muitos mortos. O soldado Higins tinha visto inúmeras fotos de Bagdá antes da invasão, mas nunca havia imaginado a cidade real que encontrou quando sua unidade entrou na capital depois do que qualificava como “um combate épico” contra um inimigo “inferior, mas disposto a tudo”. Higins dizia que, até sua chegada a Bagdá, não havia conhecido a morte e tampouco imaginado como seria. Agora já tinha se acostumado ela, mas o primeiro morto seguia fazendo companhia a ele em sua memória. “A primeira vez que matei um homem foi à noite. Fiquei com uma sensação estranha, irreal. Não posso esquecer.
     Minha unidade encontrava-se na periferia de Bagdá. Fazíamos parte de uma patrulha avançada que estava por penetrar na capital desde o sul. Tínhamos recebido a ordem de consolidar a zona e seguir adiante. Seguimos as instruções e no início da madrugada começaram a nos atacar. Choviam tiros de metralhadoras e bazucas. Como não se via nada usamos os fuzis com visão noturna. O primeiro homem que apareceu na mira avançava por uma rua lateral, ocultando-se entre as portas. Era um alvo fácil. Deixei que avançasse. Apontei e disparei. Ele cai no chão e voltou a se levantar, cambaleante. Disparei mais duas vezes. Não posso dizer que nesse momento senti que o tinha matado. Com as miras de visão noturna tudo é visto de um modo distinto, como se fosse um jogo informático. A realidade é mais lenta e as coisas têm a forma de silhueta”.
     “Sei que está por aí, Saddam é eterno. Um império não pode com ele. Saddam vive até no silêncio”, dizia o empregado de um hotel que havia desaparecido em um incêndio. A única coisa que estava ali, pulsando no meio da fumaça, era o futuro. O futuro já estava escrito nas múltiplas sequências da queda de Bagdá na indolência e ignorância dos ocupantes. Essa ignorância brutal era a matéria prima da ação de Paul Bremer, o ineficiente e teimoso responsável pela CPA, a Autoridade Provisória da Coalizão encarregada de administrar o Iraque com estatuto de autoridade governamental.
     A guerra começou em 19 de março de 2003. Cerca de três semanas mais tarde, Bagdá caiu nas mãos da coalizão. No dia 1° de maio de 2003, o presidente George W. Bush deu por encerrada essa fase com a expressão triunfalista “missão cumprida”. No dia 6 de maio, Bush nomeou Paul Bremer. O “vice-rei” Bremer chegou a Bagdá e abriu a caixa de Pandora com um projeto político, econômico e administrativo delirante: converter o Iraque em uma representação dos Estados Unidos no Oriente Médio : liberal, democrática, permissiva, um centro de negócios ao melhor estilo dos falcões da Casa Branca.
     Ele não tinha a menor ideia do chão em que estava pisando. Sua primeira decisão consistiu em decretar a “desbaasificação” da sociedade iraquiana. Bremer pretendia sanear o sistema político com uma ordem inaplicável: fazer desaparecer o partido Baas e seus representantes em uma sociedade onde, para conseguir trabalho ou ser membro da administração pública, era obrigatório aderir ao Baas. Paul Bremer decretou a demissão de milhares de empregados e executivos da administração pública, dos organismos encarregados do petróleo, dos bancos, das universidades. Onze dias depois de ter assumido suas funções, Bremer assinou outro decreto enlouquecido: dissolveu o exército, a aviação, a marinha, o Ministério da Defesa, os serviços de inteligência. Seu frenesi ignorante chegou ao ponto de, em um país que saía de um prolongado embargo internacional, que estava em guerra, onde os hospitais estavam destruídos e faltava até algodão, lançar uma campanha contra o tabagismo e elaborar um projeto para distribuir rações alimentares com cartões de crédito.
     Passaram-se oito anos e os Estados Unidos fecharam a porta do Iraque deixando um desastre atrás dela. Durante o conflito, morreram mais de 100 mil civis, 4.800 soldados da coalizão perderam a vida (4.500 dos EUA), junto com 20 mil soldados iraquianos. “Depois de todo o sangue derramado, o objetivo de que o Iraque governe a si mesmo e seja capaz de garantir a segurança se cumpriu”, disse o secretário de Defesa estadunidense, Leon Panetta. O legado da invasão é outro: morte, dezenas de milhares de mutilados, insegurança, desemprego, falta de água potável e eletricidade. A democracia exportada com bombas ultramodernas não mudou o curso das coisas. A queda do déspota permitiu que os xiitas, majoritários no país e reprimidos até a barbárie por Saddam Hussein, tomassem as rédeas do poder sem que isso implicasse unidade ou estabilidade. O Iraque segue sendo um país em carne viva onde as feridas da ocupação não se fecharam.
     Passaram-se oito anos e o espelho de ontem está intacto, a voz de Fatima ainda ressoa naquela cidade em chamas. As lágrimas brotavam de seus olhos e, ainda assim, era capaz de sorrir e chorar ao mesmo tempo. Um sorriso de anjo, de criança, o sorriso da desnudez de um despossuído. Fatima observava os militares norte-americanos com um incessante sinal de pergunta. Eles a tomavam por louca. Quando passava diante dos soldados, a mulher os saudava e perguntava: “por quê?” Às vezes, davam-lhe comida, água e um pouco de dinheiro. Fátima aceitava, mais para se aproximar daqueles que tinham destroçado sua realidade do que por fome.
     Ninguém entendia sua pergunta. Por trás de seu sorriso tenro e luminoso, a tristeza marcava seus traços. Fátima estava vencida. Enquanto contemplava as ruínas do que uma vez foi sua casa, a mulher voltava a perguntar “por quê?”. Quando falava, uma careta infantil e piedosa se desenhava como um relâmpago.
     Fátima tinha perdido tudo. Dias após dia, com um empenho obstinado, a mulher escavava os escombros do edifício familiar destruído por uma bomba, buscando os restos de seus pertences passados. Seu filho menor a acompanhava sempre. Ia de um lado a outro de Bagdá apegado a ela como um animal indefeso. Fátima revolvia as entranhas de pedras destroçadas e retirava uma frigideira, um retrato intacto, um cachecol, um par de sapatos, alguma cadeira desconjuntada pela explosão, pedaços de recordações e bens devastados. O living, a sala de estar, a cozinha, o quarto, os espaços de sua intimidade estavam soterrados por toneladas de pedra e poeira.
     Fátima mostrava o que havia sobrado de sua casa : um monte de ferro e cimento sobre o qual se superpunha seu eterno sorriso. Ela também tinha no olhar essa marca feita de solidão, de luz, de incompreensão, de pura intempérie: a marca da injustiça. A mulher dizia que, talvez, o futuro de seu filho não seria parecido com o seu, que talvez ele conheceria a liberdade, um trabalho decente e a democracia. Fátima se projetava no filho que restou porque seu presente era um lugar inabitável. Era escombros e a gaveta de uma cômoda miraculosamente intacta de onde tirava, assombrada e agradecida, duas fotos de seu marido e de sua filha morta, esmagada com seu pai nas ruínas, um par de meias e uma caixa de costura.

(Eduardo Febbro - Correspondente da Carta Maior em Paris - Tradução: Katarina Peixoto)
SAIBA MAIS:
DOCUMENTÁRIOS
Sem Fim à Vista
     Como não é difícil encontrar pessoas desfavoráveis a Guerra do Iraque, que fizeram inúmeros documentários contra a batalha, o americano Charles Fergunson decidiu fazer um filme contando o lado daqueles que apoiaram a decisão de Bush desde o começo, analisando o que aconteceu para que a disputa ficasse Sem Fim à Vista. O cineasta tenta entender em que pontos o governo americano errou para que a guerra se tornasse a segunda mais cara da história, perdendo apenas para a Segunda Guerra Mundial.
     Fergunson fala com soldados que combateram no Iraque, com membros do governo Bush e analistas, todos eles pessoas que aceitaram voluntariamente participar daquele momento histórico com a certeza de que a invasão seria a melhor coisa a se fazer. Cada um conta o que viu e o que sentiu no decorrer dos anos, apontando os inúmeros erros cometidos principalmente por Donald Rumsfeld e Paul Bremer, além de outros membros do governo, para que a situação acabasse saindo do controle.
     O diretor analisa cronologicamente a guerra até 2007, quando ela já havia custado quase US$ 2 trilhões, além de um grande número de vidas, entre americanos e iraquianos, com destaque para o brasileiro Sérgio Vieira de Melo, que representava uma esperança de solucionar o problema. Mesmo ainda acreditando que a guerra deveria ter acontecido, os entrevistados contam o que sabem para que o espectador entenda o ódio que os iraquianos sentem pelos americanos e perceba que é difícil achar uma solução para o problema.
     Descontente com o governo de George W. Bush, o milionário Charles Fergunson decidiu bancar de seu próprio bolso um documentário que explicasse a Guerra do Iraque de uma forma que nenhum outro tinha feito. Desta forma ele decidiu procurar não aqueles que sempre se mostraram desfavoráveis, mas aqueles que apoiaram e ainda apóiam a medida. O filme, primeiro de Fergunson, foi um dos indicados ao prêmio de melhor documentário do Oscar 2008.
Direção: Charles Fergunson
Duração: 102 minutos
Ano: 2007
Áudio: Inglês - Legendado

 Guerra Feita Fácil – Como presidentes e peritos nos enrolam para a morte
     Narrado por Sean Penn, o filme mostra como a imprensa americana e os Governos estadunidense praticaram a mentira, e, as mensagens belicistas para justificar uma guerra após a outra durante os últimos 50 anos.
     Distorções nos noticiários, mensagens pró-guerra levaram os EUA a ser o país com mais poder bélico sozinho que todas as outras noções juntas, consolidando seu status de Império. Imagens reveladoras que mostram a maneira sórdida que vários presidentes enganaram seu povo através da mídia corporativa.
Direção: Loretta Alper & Jeremy Earp
Duração: 73 min.
Ano: 2007
Áudio: Inglês/Legendado


 FILMES
Zona Verde
     O filme é inspirado no livro de não ficção “A vida imperial na cidade Esmeralda”, do repórter Rajiv Chandrasekaran, que é um relato sobre os indicados para administrar o Iraque, pelo governo Bush, após a invasão. Matt Damon se inspirou em um oficial do exército americano, Richard Gonzalez, que chefiou uma equipe encarregada de procurar armas de destruição em massa (ADM) durante a invasão.
     Durante a ocupação liderada pelos EUA em Bagdá, em 2003, o primeiro subtenente Roy Miller (Damon) e sua equipe foram enviados para encontrar armas de destruição em massa, que acredita-se estarem armazenadas no deserto iraquiano.  Mas, indo de um lugar cheio de armadilhas e trincheiras a outro, os homens que buscam agentes químicos mortais esbarram em uma farsa que subverte o propósito da missão. Agora Miller precisa vasculhar os serviços secreto e de inteligência escondidos em terra estrangeira para encontrar respostas que ora acabarão com um regime nocivo ora propagarão uma guerra em uma região instável. Nesse momento delicado e nesse lugar inflamável, ele descobre que a arma mais ilusória de todas é a verdade.
Direção: Paul Greengrass
Duração: 105 min.
Ano: 2010
Áudio: Português

Jogo de Poder
     O filme foca em duas histórias (Baseado nas memórias de Valerie Plame). Uma é o casamento entre Joe Wilson (Sean Penn) e Valerie Plame (Naomi Watts). Ele é um ex-embaixador do governo. Ela é uma agente secreta trabalhando para a CIA. Wilson escreve um relatório para a agência (onde ela trabalha), onde atesta ser impossível Niger ter importado urânio para o Iraque para poderem construir uma bomba nuclear. Mas como o governo fazia questão da invasão, seu relatório foi forjado para parecer que ele falou o contrário e a invasão aconteceu. Para expor a fraude, Wilson escreve um artigo para o jornal, New York Times, dizendo que o relatório apresentado é uma mentira. Em contrapartida, o governo vaza a informação que sua esposa é uma agente. O que transforma a vida dos dois em um inferno.
     A outra história é sobre os bastidores do que aconteceu para que chegassem a decisão de invadir o Iraque. Não apenas por causa do relatório de Wilson, mas também por causa de vários outros fatos apresentado, fica claro que a CIA sabia que o Iraque não tinha armas de destruição em massa. Além disso, a Casa Branca também sabia e tudo foi ignorado para justificar a invasão.
     O que mais impressiona é a coragem com que o filme foi feito. Não há nomes fictícios. Plame, Wilson e vários outros agentes aparecem descritos com seus nomes reais. Nenhum deles deve ter ficado particularmente feliz de ser retratado como um falso ou mesmo traidor, mas está tudo lá. Inclusive há uma cena em que o próprio Cheney (vice-presidente de George W. Bush) aparece pedindo para falsificar documentos.
Direção: Doug Liman
Duração: 107 min.
Ano: 2010
Áudio: Português