“E agora que vocês viram no que a coisa deu, jamais esqueçam como foi que tudo começou” (Bertolt Brecht)

sábado, 29 de setembro de 2012

À sombra de um delírio verde

Entre a população indígena e o agronegócio, quem tem prioridade? O lucro, claro. Os índios Guarani Kaiowá lutam pela sobrevivência na região Sul do Mato Grosso do Sul, onde a prioridade é a monocultura da cana-de-açúcar, principal matéria-prima do tão falado etanol. Essa batalha é o tema do documentário À Sombra de um Delírio Verde, dirigido por An Baccaert, Cristiano Navarro e Nicola Munõz.
Os Guarani Kaiowá são a maior população indígena ainda existente no Brasil. São 40 mil pessoas que vivem em um espaço correspondente a menos de 1% do seu território original. Hoje, a luta não é contra o colonizador, e sim contra as multinacionais que usam milhares de hectares para plantar cana-de-açúcar. O poder das multinacionais sobre o território é apoiado pelo Governo, que tem imenso interesse no combustível “limpo” e ecologicamente correto que é o etanol.
No entanto, tal negligência das autoridades com relação aos indígenas provocou a atual epidemia de desnutrição que atinge as crianças Guarani Kaiowá. Sem espaço para viver de suas atividades de subsistência, os adultos e adolescentes são obrigados a aceitar o trabalho desumano dos canaviais, constantemente autuados pelo Ministério Público do Trabalho devido às práticas de trabalho infantil e escravo. Os que resistem e enfrentam os grandes fazendeiros são praticamente condenados à morte.
O premiado “À Sombra de um Delírio Verde” mostra o lado sombrio da febre do ouro verde (nome dado à cana-de-açúcar) e busca chamar atenção para o drama dos Guarani Kaiowá. Até quando o lucro vai se sobrepor aos direitos humanos?
Veja o filme:

sexta-feira, 28 de setembro de 2012

Especial: O Golpe de 1964

Não à guerra civil 
Sem resistir ao golpe, João Goulart partiu para o exílio e evitou uma luta sangrenta entre reformistas e golpistas.
Jorge Ferreira 
     Manhã do dia 31 de março de 1964. No Palácio Laranjeiras, no estado da Guanabara, o presidente João Goulart (1919-1976) acordou cedo. Na noite anterior, ele discursara para cerca de 2.000 sargentos no Automóvel Clube. Assustado, Jango leu as manchetes. O Jornal do Brasil e o Correio da Manhã pediam a sua deposição. O presidente do Senado, Auro de Moura Andrade, divulgou manifesto rompendo com o governo e incitando as Forças Armadas a restabelecer a ordem no país.
     As crises políticas e militares se sucediam desde setembro do ano anterior, quando sargentos tomaram Brasília pelas armas. Mas a Revolta dos Marinheiros no dia 25 de março e a anistia que receberam provocaram enorme insatisfação nas Forças Armadas. A presença de Jango no Automóvel Clube agravou a crise militar. Para grande parte da oficialidade, inclusive a que defendia a legalidade, o governo estava subvertendo os pilares básicos da instituição: a hierarquia e a disciplina.
     Depois de ler os jornais, o presidente soube que o general Olímpio Mourão Filho, vindo de Juiz de Fora, marchava com recrutas para a Guanabara com o objetivo de derrubá-lo da Presidência da República. Mourão participava do grupo conspirador de Minas Gerais, cujo líder civil era o governador Magalhães Pinto.
     A primeira atitude de Goulart, com o apoio de seus ministros, foi resistir ao golpe. Jango ordenou que o Regimento Sampaio, na Vila Militar, o Grupamento de Obuses, no bairro de Deodoro, e o 1º Batalhão de Caçadores, em Petrópolis, tropas profissionalizadas do Exército, detivessem Mourão. A seguir, planejou sustar a tentativa de golpe depondo Magalhães Pinto do governo de Minas Gerais e nomeando um interventor.
     Poucas horas antes, San Tiago Dantas, deputado federal e amigo de Goulart, soubera que o governo dos Estados Unidos apoiava o movimento e que reconheceria o “estado de beligerância” de Minas Gerais, fornecendo suporte financeiro, diplomático e militar a Magalhães Pinto. As informações que Dantas recebeu do governo mineiro eram de que os Estados Unidos poderiam interferir militarmente na crise política, se necessário. Navios de guerra norte-americanos estavam se dirigindo para o litoral brasileiro. A intervenção em Minas Gerais, portanto, poderia deflagrar uma guerra civil com intervenção estrangeira. Após conversa com San Tiago Dantas, Goulart recuou, e o decreto de intervenção em Minas Gerais foi sustado.
     Na tarde do dia 31, os governadores Carlos Lacerda (GB) e Ademar de Barros (SP) defendiam o golpe nas rádios, com o apoio do governador Ildo Meneghetti (RS). O Comando Geral dos Trabalhadores (CGT) declarou greve geral, mas a iniciativa paralisou os transportes, impedindo que a população fosse para as ruas.
     Jango tentou convencer os comandantes das quatro jurisdições do Exército a garantir a legalidade. Ele encontrou apoio dos comandantes do I (GB, RJ, ES e MG) e do III Exército (PR, SC e RS), mas não do IV (estados do Nordeste). Restava conversar com o comandante do II Exército (SP), general Amaury Kruel, seu amigo. Kruel declarou que só o apoiaria se o CGT fosse declarado ilegal e os comunistas perseguidos. Jango recusou.
     Naquele momento, decisões pessoais dos comandantes militares valiam pouco. O que contava eram as inclinações do conjunto da oficialidade e dos generais que formavam o Estado-Maior de cada um dos quatro Exércitos.
     No fim da noite, tropas do II Exército marcharam para a Guanabara. Os comandantes do Regimento Sampaio, do Batalhão de Caçadores e do Grupamento de Obuses decidiram apoiar Mourão, que continuaria sua marcha acompanhado por tropas profissionais.
     Nas primeiras horas do dia 1º de abril, diversos comandos militares declararam apoio ao movimento de deposição do presidente. Quando amanheceu, o editorial do jornal Correio da Manhã era “Fora”.
     Na Guanabara, os fuzileiros navais esperavam ordens do presidente para prender Lacerda – seria uma resposta do governo aos golpistas. Mas a ordem não veio. Naquela manhã, San Tiago Dantas dissera a Jango que a frota norte-americana invadiria a Baía da Guanabara se Lacerda fosse preso.
     Jango percebeu que não eram grupos civis e militares minoritários que tentavam golpear as instituições, como ocorrera em episódios anteriores. Era um movimento conjunto das Forças Armadas com apoio de empresários, de amplos setores das classes médias e dos meios de comunicação. O movimento ainda contava com os governadores da Guanabara, de Minas Gerais, de São Paulo e do Rio Grande do Sul, com suas polícias civis e militares. No Congresso Nacional, grande parte dos parlamentares deu aval ao golpe. O Supremo Tribunal Federal calou-se diante da crise política. Além disso, o movimento golpista tinha o apoio do governo norte-americano. Jango compreendeu a extensão do golpe que estava em curso. A convocação para a resistência deflagraria uma guerra civil com consequências imprevisíveis. Na manhã do dia 1º de abril, ele iniciou o recuo. Ao meio-dia, partiu para Brasília – atitude interpretada como capitulação.
     No final da tarde, Arthur da Costa e Silva (1899-1969), general pouco conhecido, entrou na sede do Ministério da Guerra e declarou-se ministro. A seguir, instituiu o “Comando Supremo da Revolução”.
     Em Brasília, Jango emitiu comunicado denunciando os golpistas. Alegou que as medidas nacionalistas e populares que tomou em seu governo uniram forças políticas e econômicas impatrióticas cujo objetivo era “impedir que ao povo brasileiro fossem assegurados melhores padrões de cultura, de segurança e de bem-estar social”. Depois, partiu para Porto Alegre. Enquanto o avião seguia para o Sul, nas primeiras horas do dia 2 de abril, o presidente do Senado, Auro de Moura Andrade, impedindo debates, declarou vago o cargo de presidente da República. Um pouco mais tarde, com a presença do presidente do Supremo Tribunal Federal, Andrade empossou o presidente da Câmara dos Deputados, Ranieri Mazzilli, na Presidência da República. A participação ativa das lideranças do Poder Legislativo e a omissão do Poder Judiciário foram decisivas para o sucesso do golpe.
     Em Porto Alegre, o comandante do III Exército, general Ladário Telles, e Leonel Brizola (1922-2004) tinham esperança de reverter o golpe. O III Exército era mais poderoso do que os outros juntos, e Brizola planejava reeditar a Campanha da Legalidade. Naquele episódio, ocorrido em agosto e setembro de 1961, os três ministros militares, diante da renúncia do presidente Jânio Quadros, tentaram impedir a posse do vice-presidente João Goulart. Brizola reagiu e, utilizando cadeia de rádio, mobilizou o país em defesa da Constituição. Com a adesão do III Exército à causa da legalidade, o golpe contra a posse de Jango fracassou. Brizola, portanto, acreditava que poderia repetir em 1964 o que ocorrera em 1961. Às 8 horas da manhã do dia 2 de abril, reuniram-se Goulart, Brizola, Ladário Telles e os generais do Estado-Maior do III Exército. Telles demonstrou otimismo, mas a maioria dos generais do III Exército comunicou lealdade ao novo ministro da Guerra, enquanto a Brigada Militar obedecia ao governador do estado. Jango percebeu que não havia como resistir.
     Hoje sabemos que o golpe resultou em 21 anos de ditadura. Mas os personagens que participaram daqueles conflitos não conheciam o futuro. Ditadura militar não estava nos planos dos líderes civis golpistas, como Carlos Lacerda (1914-1977) e Magalhães Pinto, ambos presidenciáveis nas eleições de 1965. Jornais que defenderam a deposição de Goulart, como o Correio da Manhã, também não apoiavam a instituição de governos militares. Entre os próprios militares golpistas não havia planos de poder. Seus depoimentos confirmam que não existia um projeto a favor de algo, apenas contra. Os planos imediatos eram depor Goulart e fazer uma “limpeza”, retirando do cenário político os comunistas, os trabalhistas e os sindicalistas identificados com ele.
     Jango, por sua vez, acreditou que o golpe repetia o que acontecera com Vargas em outubro de 1945: o presidente é deposto, fica exilado no próprio país e depois o processo político retorna à normalidade.
     Nos anos que se seguiram, Goulart foi bastante criticado por não resistir ao golpe. Atualmente, admite-se a extensão destrutiva que o chamado de resistência provocaria na sociedade brasileira. O jornalista Paulo Markun afirma que “Jango deve ser valorizado por aquilo que não fez: jogar o sangue de outros na luta política”. Zuenir Ventura concorda: “Jango teve um dos seus momentos mais bonitos ao evitar aquilo que imaginava que viria a ser uma guerra civil com um milhão de mortos”. Goulart compreendia que guerra civil é algo que se sabe como começa, mas não como termina. Como ocorre nesses conflitos, toda a sociedade padece, mas são os trabalhadores e a população mais pobre os maiores prejudicados. Esta foi a principal razão para o gesto de Goulart de não resistir aos golpistas.

Jorge Ferreira é professor da Universidade Federal Fluminense e autor de Jango, uma biografia. Civilização Brasileira, 2011.

Saiba Mais - Bibliografia
BANDEIRA, Luiz Alberto Moniz. O governo João GoulartAs lutas sociais no Brasil – 1961-1964. Edição revista e ampliada. São Paulo: Editora da Unesp, 2010.
D'ARAÚJO, Maria Celina, SOARES, Gláucio A. D. e CASTRO, Celso (orgs.). Visões do Golpe. A memória militar de 1964. Rio de Janeiro: Relume-Dumará, 1994.
MORAES, Dênis. A esquerda e o golpe de 64. São Paulo: Expressão Popular, 2011.
OTERO, Jorge. João Goulart. Lembranças do exílio. Rio de Janeiro: Casa Jorge Editorial, 2001.

Saiba Mais – Documentário
Jango – Como, quando e porque se depõe um Presidente. 
O documentário de Sílvio Tendler acompanha a vida política de João Belchior Marques Goulart (1918-1976), o Jango, de 1950 a 1976, de seu primeiro cargo importante, como Ministro do Trabalho no governo de Getúlio Vargas, até o exílio no Uruguai e Argentina, depois do golpe de 1964. Tendler explora a vida de Jango, gaúcho de São Borja e único presidente brasileiro a morrer no exílio, apresentando imagens de filmes caseiros, documentários antigos, fotos e entrevistas, e, depoimentos importantes, como os do general Antônio Carlos Muricy, de Leonel Brizola, de Aldo Arantes, de Afonso Arinos, de Magalhães Pinto, de Frei Betto, de Celso Furtado, entre outros.
Há uma grande quantidade de imagens inéditas, como as viagens de Goulart à Russia e à China, Jango discursando na ONU,  e do comício da Central do Brasil, em 13 de março de 1964, que, antecede ao golpe militar de 31 de março.
Documentário vencedor dos prêmios: Música Original (Milton Nascimento e Wagner Tiso), Melhor Filme (Júri Popular) e Prêmio Especial do Júri, XII Festival do Cinema Brasileiro de Gramado, RS, 1984. Prêmio Especial do Júri para Documentário, Festival Novo Cinema Latino-Americano, Havana, Cuba, 1984. Melhor Filme do Público, Festival de Nova Delhi, Índia, 1985.
Direção: Sílvio Tendler
Ano: 1984
Áudio: Português
Duração: 117 minutos

quinta-feira, 27 de setembro de 2012

Especial: O Golpe de 1964

A salvação da pátria 
Para os jornais paulistanos, o golpe militar foi a defesa da lei e da ordem 
Luiz Antonio Dias

      “Os comunistas invadiram o Brasil”. Era esta a impressão de qualquer leitor de jornais no início dos anos 1960. Desde a posse de João Goulart na Presidência, em 1961, setores militares já planejavam sua queda. Matérias, manchetes e editoriais veiculados pela imprensa nesse período dão ideia do clima tenso, e é importante entender que essas informações divulgadas pelos jornais paulistanos Folha de S. Paulo e O Estado de S. Paulo não eram neutras ou meramente “informativas”.
     Defendendo a “ordem”, a Folha teceu fortes críticas ao comício pelas Reformas de Base, ocorrido no dia 13 de março de 1964 na Guanabara, afirmando que foi organizado por extremistas que tentavam subverter a ordem. No dia seguinte ao comício, publicou um editorial sobre o assunto: “preferiu o Sr. João Goulart prestigiar uma iniciativa vista com justificada apreensão por toda a opinião pública (...). Resta saber se as Forças Armadas (...) preferirão ficar com o Sr. João Goulart, traindo a Constituição, a pátria e as instituições”. O Estadão também exigiu um posicionamento das Forças Armadas no episódio. O editorial “O presidente fora da lei”, do mesmo dia, acusa João Goulart e alega que isso é apenas uma parte: “É, evidentemente, a última etapa do movimento subversivo que (...) é chefiado sem disfarces pelo homem de São Borja. E é também o momento de as Forças Armadas definirem, finalmente, a sua atitude ambígua ante a sistemática destruição do regime pelo Sr. João Goulart, apoiado nos comunistas”.
     A Marcha da Família com Deus pela Liberdade, ocorrida em São Paulo em 19 de março, foi uma resposta ao comício da Guanabara, e sobre essa manifestação a Folha apresentou a seguinte manchete: “São Paulo parou ontem para defender o regime”. Já O Estado de S. Paulo dizia em 20 de março: “Meio milhão de paulistanos e paulistas manifestaram ontem em São Paulo, no nome de Deus e em prol da liberdade, seu repúdio ao comunismo e à ditadura e seu apego à lei e à democracia”. Nesse editorial, o jornal buscou resgatar a memória de 1930 e 1932 [Ver RHBN nº 82], “da luta contra os caudilhos e a ditadura”, mostrando que o povo de São Paulo saberia lutar bravamente para garantir a Constituição de 1946.
     A Revolta dos Marinheiros, em 26 de março, nada mais foi do que a gota d’água de um movimento golpista que já vinha caminhando a passos largos. Nesse episódio, mais uma vez, a Folha se colocou ao lado da “ordem”, criticando o movimento e lançando ataques à ação do presidente no incidente. “A solução dada pelo presidente (...) tem todas as características de uma capitulação.”
     Na noite de 30 de março, o presidente compareceu ao Automóvel Clube, na Guanabara, para a comemoração do 40° aniversário da fundação da Associação dos Subtenentes e Sargentos da Polícia Militar. Nesta solenidade, Goulart proferiu o seu discurso mais radical. No dia seguinte, a repercussão na imprensa foi negativa: os jornais se levantaram novamente contra o presidente. O discurso de João Goulart acabou sendo a senha para o início do golpe militar, que seria deflagrado na madrugada seguinte. A Folha também circulou nesse dia com um suplemento especial intitulado “64 – O Brasil continua”, repleto de anúncios de grandes empresas, mostrando que o Brasil cresceria em 1964, que esse seria um novo tempo. Cadernos como este – lançando previsões – normalmente circulam no início do ano. A data de publicação comprova que a sua elaboração ocorreu antes do início do golpe militar.
     No dia seguinte ao golpe, o jornal afirmou que Goulart governou com os comunistas, tentou eliminar o Congresso atacando a Constituição, e, desta forma, a intervenção militar teria sido justa. Para a Folha, “não houve rebelião contra a lei. Na verdade, as Forças Armadas destinam-se a proteger a pátria e garantir os poderes constitucionais, a lei e a ordem”.
     Com a subida de Castello Branco ao poder, a Folha do dia 16 de abril não poupou elogios ao novo presidente em seu editorial. “É com satisfação que registramos ter seu discurso de posse reafirmado todas as nossas expectativas e revigorado a nossa esperança de que uma nova fase realmente se descerrou para o Brasil”.
     Durante o governo Goulart, o jornal atacava o presidente e seu governo como uma ameaça aos direitos legais. Mas o editorial do dia seguinte ao golpe, “O sacrifício necessário”, defendia a necessidade de suprimir direitos constitucionais: “Nossas palavras dirigem-se hoje (...) aos que se acham dispostos ao sacrifício de interesses, de bens, de direitos, para que a nação ressurja, quanto antes, plenamente democratizada.” 
     No dia 3 de abril, o Estadão, estampou a seguinte manchete: “Democratas dominam toda a Nação”. É inegável que houve um árduo trabalho por parte dos jornais para desestabilizar o governo Goulart.
     Tanto o Estadão quanto a Folha defenderam a deposição de um presidente eleito pelo povo e derrubado pelas Forças Armadas como “defesa da lei e do regime”. A imprensa paulistana, apresentando-se como porta-voz da opinião pública, saudou a instalação de um governo autoritário e ilegítimo como se fosse democrático e legal. Os aspectos éticos dessa “ação jornalística” e a falta de críticas – ou autocrítica – aos jornais e jornalistas é tema que merece reflexão.
Luiz Antonio Dias é professor da PUC-SP e autor de “Informação e Formação: apontamentos sobre a atuação da grande imprensa paulistana no golpe de 1964. O Estado de S. Paulo e a Folha de S. Paulo”. In: ODÁLIA, Nilo e CALDEIRA, João Ricardo de Castro (orgs.).  História do Estado de São Paulo: a formação da unidade paulista. São Paulo: Imprensa Oficial/Editora Unesp/Arquivo do Estado, 2010.

Saiba Mais - Bibliografia
GASPARI, Elio. A Ditadura Envergonhada. São Paulo: Cia. das Letras, 2002.
TOLEDO, Caio Navarro de. O governo Goulart e o golpe de 64. São Paulo: Brasiliense, 1982.

Saiba Mais - Filmes
O Ano em que Meus Pais Saíram de Férias
Em 1970, Mauro (Michel Joelsas) é um garoto de doze anos, que adora futebol e jogo de botão. Um dia, sua vida muda completamente, já que seus pais saem de férias de forma inesperada e sem motivo aparente para ele. Na verdade, os pais de Mauro foram obrigados a fugir por serem militantes da esquerda, os quais eram perseguidos pela ditadura militar, e por essa razão decidiram deixá-lo com o avô paterno. Porém, o avô falece no mesmo dia que Mauro chega a São Paulo, o que faz com que Mauro tenha que ficar com Shlomo (Germano Haiut), um velho judeu solitário que é seu vizinho. Enquanto aguarda um telefonema dos pais, Mauro precisa lidar com sua nova realidade, que tem momentos de tristeza pela situação em que vive e também de alegria, ao acompanhar o desempenho da seleção brasileira na Copa do Mundo de 1970 e fazer novas amizades no seu novo lar.
Direção: Cao Hamburger
Ano: 2006
Áudio: Português
Duração: 103 minutos

Lamarca
Filme de 1994, baseado no livro de José Emiliano e Miranda Oldack, “Lamarca, o capitão da guerrilha”, uma biografia do militar e guerrilheiro Carlos Lamarca. A história começa em dezembro de 1970, quando o ex-capitão do exército brasileiro e grande atirador Carlos Lamarca (Paulo Betti) e seu grupo político rebelde negociam com a Ditadura Militar a soltura de presos políticos em troca da vida do embaixador da Suíça (Giovanni Butcher), mantido por eles em cativeiro. Trinta presos são soltos e a "repressão" aumenta a perseguição aos guerrilheiros, comandada por um general do Exército e o delegado civil Flores (referência ao delegado da vida real Fleury), que se apresenta como o matador de Marighella e outros "subversivos" e não hesita em torturar seus prisioneiros para obter informações. Os dirigentes do grupo de Lamarca querem que ele saia do Brasil, mas ele não aceita. Lamarca vai então para a Bahia, acompanhado da amante e também militante Clara (Iara Iavelberg), para se encontrar com os aliados da guerrilha Zequinha e seus irmãos. Eles o escondem em um sítio no interior do estado. Enquanto espera para se encontrar com os demais guerrilheiros para organizarem um levante rural, Lamarca lembra de momentos do seu passado, da experiência marcante de quando serviu como soldado da ONU no Canal de Suez que o fez se revoltar contra os "capitalistas", da sua mulher e filhos que enviara para Cuba e do campo de treinamento de guerrilheiros que criara no Vale do Paraíba em São Paulo.
Direção: Sérgio Rezende
Ano: 1994
Áudio: Português
Duração: 129 minutos

Vlado-30 anos depois
No dia 25 de Outubro de 1975, o jornalista Vladmir Herzog a apresentou-se ao DOI-CODI (órgão da repressão política do regime militar) para prestar um depoimento. No fim da tarde do mesmo dia, a família e amigos de Vlado recebem a terrível notícia: Vlado estava morto e, segundo fonte oficial, teria cometido suicídio na prisão. O filme revela, a partir de depoimentos de amigos, familiares, a amplitude das perseguições daqueles momentos, a trajetória do jornalista, desde sua infância, na Iugoslávia, com sua família de origem judaica, fugindo da perseguição nazista, suas ideias políticas, sua militância, seu senso de ética, até sua posse como Diretor de Jornalismo na TV Cultura de São. Embora existam algumas imagens de arquivo ilustrando a época e os acontecimentos, Vlado - 30 Anos Depois encontra a sua força no depoimento de diversas personalidades como Paulo Markun, Alberto Dines, Mino Carta, Fernando Morais e Sérgio Gomes, que foram amigas do jornalista, além da viúva Clarice Herzog. São sempre depoimentos emocionados de pessoas que sentiram na pele os horrores de lutar para livrar o País da ditadura. Todos lembram os horrores da repressão vigente depois do AI-5. Markun conta, entre outras coisas, o quanto era difícil não fraquejar ao saber que sua mulher estava sendo torturada na sala ao lado. Muitos concordam que ver amigos torturados é tão doloroso quanto ter o seu corpo agredido. São testemunhos de uma época obscura de nossa história, que merece ser lembrada e mostrada àqueles que não a viveram.
Direção: João Batista de Andrade
Ano: 2005
Áudio: Português
Duração: 85 minutos

MPB Nos Tempos da Repressão
O programa Ensaio (TV Cultura) preparou em 2004 uma edição especial denominada “A MPB dos Tempos da Repressão”, que reunia grandes personalidades da Música Popular Brasileira, que estiveram fortemente ligadas à luta contra a ditadura militar instaurada no Brasil. Chico Buarque, Caetano Veloso, Théo Barros, Carlos Lyra, Maria Bethânia, João do Vale e Zé Ketti compõem o elenco convidado para essa edição especial, feita em 4 blocos. Durante a ditadura esses artistas passavam, por meio de suas composições, mensagens de liberdade política que não agradavam os militares. Por esse motivo, muitas canções foram barradas pela censura. O programa é marcado pela interpretação de músicas que possuem alto teor crítico e político.
Direção: Raimundo Faro
Ano: 2004
Áudio: Português
Duração: 52 minutos