“E agora que vocês viram no que a coisa deu, jamais esqueçam como foi que tudo começou” (Bertolt Brecht)

sábado, 24 de agosto de 2013

Não esquecer, para nunca mais acontecer

É lançado na internet o projeto 'Brasil: Nunca Mais', que disponibiliza mais de 900 mil páginas de documentos produzidos durante a ditadura civil-militar

Minha jangada vai sair pro mar
Vou trabalhar, meu bem querer
Se Deus quiser quando eu voltar do mar
Um peixe bom eu vou trazer
Meus companheiros também vão voltar
E a Deus do céu vamos agradecer
Dorival Cayimmi, “Suíte do Pescador”
    
     Os versos acima costumavam ser cantarolados por presos políticos da ditadura militar na tentativa de animar aqueles que eram chamados da cela para a sala de tortura. Isso foi o que contou Eliana Rolemberg - presa pela Operação Bandeirantes (Oban) em 28 de fevereiro de 1970 -, durante o Ato Público de Repatriação dos documentos do projeto Brasil: Nunca Mais, ocorrido em 2011. A iniciativa, que teve o objetivo de documentar o que ocorria nas prisões políticas do regime, gerou mais de 900 mil páginas de documentos que estarão disponíveis online, para consultas e pesquisas, a partir desta quarta-feira, 9 de agosto.
     Em 1979, um grupo de religiosos do Conselho Mundial de Igrejas (CMI) e uma equipe do escritório de advocacia de Sobral Pinto deram início ao ambicioso projeto de obter, junto ao Superior Tribunal Militar (STM), em Brasília, informações e evidências de violações de direitos humanos praticadas por agentes do aparato repressivo do Estado durante a ditadura militar, a fim de compilar essa documentação em uma espécie de livro-denúncia.
     Inseridos no contexto de uma delicada conjuntura nacional – um momento em que a ditadura ainda estava em curso –, surgiu a preocupação com a apreensão do material pela repressão. A alternativa encontrada foi microfilmar tudo e enviar a documentação para o exterior. A reprodução dos 707 processos judiciais consultados totalizou cerca de 1 milhão de cópias em papel e 543 rolos de microfilmes que, em 2011, foram oficialmente devolvidos pelo Center for Research Libraries, de Chicago, e que, logo mais, estarão à disposição de toda a sociedade no site Brasil: Nunca Mais Digital.
     A digitalização tem como mote a preservação de um valioso acervo que integra o patrimônio histórico e cultural brasileiro. A manutenção, no Brasil, de todo o material relativo ao Brasil: Nunca Mais é, também, parte fundamental do processo de afirmação do direito à verdade, à informação e à memória. Nas palavras da advogada Eny Raimundo Moreira, responsável pelo pontapé inicial no projeto, “a luta contra o poder é a luta da memória contra o esquecimento”.

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