“E agora que vocês viram no que a coisa deu, jamais esqueçam como foi que tudo começou” (Bertolt Brecht)

quinta-feira, 17 de janeiro de 2013

Ofícios de outrora

Em Minas,museu dedicado ao trabalho resgata profissões derrubadas pelas indústrias.
     Por onde andam os calceteiros, tropeiros e funileiros? Varridas do mapa desde que as grandes indústrias começaram a pipocar pelo mundo, profissões como essas deixaram seu rastro no Museu de Artes e Ofícios (MAO). Com ferramentas que fazem as novas gerações franzirem a testa, o acervo conta a história da labuta desde o século XVIII aos dias de hoje.
     São mais de dois mil objetos confeccionados em madeira, ferro, couro e cerâmica. Tudo feito na munheca, conforme pediam aqueles tempos. A localização do museu é adequada: fica na Praça Rui Barbosa, s/n, Centro, colado à Estação Central de Belo Horizonte, por onde passam milhares de trabalhadores todos os dias. Visitas às terças, quintas e sextas, das 12h às 19h, fins de semana das 11h às 17h e quartas-feiras das 12h às 21h. Ingressos a R$ 4 (meia-entrada para estudantes e idosos). Aos sábados, a entrada é franca.
     Mais informações no site do MAO ou pelo telefone: (31) 3248-8600.

Telefonista
Além de solícitas, as telefonistas tinham que ser discretas: afinal, precisavam ouvir a conversa inteira dos assinantes para que, após a despedida, encerrassem a ligação.
     “Número, faz favor”, atendia a voz doce, que às vezes ouvia não o número a ser chamado, mas uma declaração de amor vinda do outro lado da linha. Além de solícitas, as telefonistas tinham que ser discretas: afinal, precisavam ouvir a conversa inteira dos assinantes para que, após a despedida, encerrassem a ligação.
     A profissão que empregou milhares de mulheres no Brasil durante a primeira metade do século XX surgiu nos Estados Unidos em 1876: no início, eram homens que faziam a conexão para as conversas quando notavam a luz piscando no painel da central telefônica. Depois a função passou a ser predominantemente feminina. Além de terem a voz suave, facilmente reconhecível nas chamadas ainda cheias de ruídos, as damas eram consideradas mais educadas e “faladoras”. Num momento em que a mulher começava a entrar no mercado de trabalho, ser telefonista não trazia muitos problemas em casa, já que o expediente tinha horário fixo e a tarefa era executada em espaço fechado, junto a outras moças.
     Durante a Segunda Guerra (1939-1945), telefonistas do mundo inteiro trabalharam dia e noite para transmitir recados urgentes, que poderiam salvar vidas. “Nesses instantes dramáticos em que o seu esforço é incompreendido, a telefonista lança ao mundo a súplica dos heróis humildes, obscuros, esquecidos”, escreveu um repórter na revista Sino Azul, em maio de 1943. Nos anos 1970, com a difusão de aparelhos eletrônicos, o serviço de telefonista começou a cair em desuso, assim como boa parte do romantismo da profissão original. Migrando para “centrais de atendimento ao cliente” de empresas, e em vez de ouvirem conversas de outras pessoas, aturam irritadas reclamações, quase sempre passando o problema adiante.

Acendedor de lampiões e Cocheiro
Profissões que desaparecem ou se transformam podem ajudar a contar a história de uma sociedade. Relembre os ofícios de acendedor de lampiões e cocheiro.

Acendedor de lampiões
     “Lá vem o acendedor de lampiões da rua!/ Parodiar o sol e associar-se à lua”, saudava o poeta Jorge de Lima em 1909. Hoje poucos sabem, mas antes de as cidades serem amplamente iluminadas pela luz elétrica, lampiões eram colocados em pontos estratégicos da cidade. E acendê-los era uma função muito apreciada.
     Os acendedores de lampiões entravam em cena no finzinho da tarde, com uma vara especial dotada de uma esponja de platina na ponta. Ao amanhecer, apagavam, limpavam os vidros e abasteciam, quando necessário. Em 1830, na cidade de São Paulo, usavam azeite como combustível. Somente na metade do século o gás chegou à capital paulista. No Rio de Janeiro, em 1850, o célebre barão de Mauá iluminou a atual Av. Presidente Vargas da mesma maneira.
     O lampião a gás foi inventado em 1792, na Inglaterra, e serviu para aumentar a jornada de trabalho nas fábricas. Mas seu impacto foi ainda maior no dia a dia das cidades. Com eles, a noite ganhou vida. Teatros, cafés, restaurantes – a vida social passou a não depender mais da luz do sol. Nas noites de lua cheia, quando era possível aproveitar a luz natural, os acendedores eram dispensados de sua função. Até que em 1879 a iluminação elétrica foi anunciada em grande escala. Durante um bom tempo, os dois sistemas coexistiram, mas, pouco a pouco, a novidade ganhou mais espaço. No último dia de 1933, seguindo o curso inevitável da modernidade, apagou-se o último candeeiro na cidade do Rio de Janeiro. Junto com ele desaparecia a simpática profissão de acendedor de lampiões.

Cocheiro
     Antes da chegada da família real, não era fácil se deslocar no Brasil. Andava-se a pé, em carros de boi ou no lombo de animais. A partir de 1808... continuou difícil. Mas, em compensação, que classe! Junto com a nobreza europeia vieram coches, carruagens, seges e cabriolets, que fizeram a alegria dos mais abastados. Para o resto da população, a única maneira de utilizar os novos meios de transporte era conseguindo o emprego de cocheiro.
     Nas décadas seguintes, a profissão ganhou espaço, com o surgimento de novas opções de transporte, como veículos coletivos e carroças. Os cocheiros estavam por toda parte, mas não tinham vida fácil. Em protesto contra os baixos salários, multas e excesso de horas trabalhadas, eles organizaram várias greves. João do Rio, em A alma encantadora das ruas (1908), descreve outros problemas: “O ofício, longe de tornar ágeis os corpos, faz lesões cardíacas, atrofia as pernas, hipertrofia os braços”.
     A chegada dos automóveis, produzidos em larga escala, praticamente decretou o sumiço dos cocheiros nos centros urbanos. Hoje eles são vistos naquelas cerimônias metidas a chiques que resolvem ressuscitar as carruagens. Provavelmente, meros atores contratados para o papel. Para encontrar um mais próximo do “original”, melhor buscar, numa cidade do interior, o clássico passeio de charrete. 

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