Da Grande Guerra à Primeira Guerra
A guerra de 1914 a 1918 repercutiu no
mundo de maneira tão impactante que, para muitos historiadores, representa o início
do século XX. Hoje usamos o nome de "Primeira Guerra Mundial", mas
não foi sempre assim. Quando a guerra começou, muitos Líderes políticos e
militares europeus acreditavam que o conflito duraria pouco tempo. Porem, essa
previsão estava completamente equivocada- houve a participação de muitos países,
a guerra se estendeu no tempo e no espaço, com consequências destrutivas para
as sociedades envolvidas.
Quando a guerra acabou, em 1918, os
europeus tomaram consciência de suas dimensões e passaram a chamá-la de
"Grande Guerra". Esse nome perdurou ate a eclosão de outro conflito
bélico, de 1939 a 1945, que também envolveu inúmeros países. Em um curto
período, o mundo enfrentou duas grandes guerras, com imensas destruições
materiais e milhares de mortes. Com isso, a "Grande Guerra" foi
renomeada, sendo conhecida como "Primeira Guerra Mundial"; a
seguinte, que durou de 1939 a 1945, foi chamada de "Segunda Guerra
Mundial".
Portanto, somente após a eclosão e
expansão desse conflito, a guerra de 1914 a 1918 passou a ser chamada de
Primeira Guerra Mundial.
Com a Grande Guerra, ou Primeira Guerra,
ocorreu uma importante alteração na forma de combate, com inovações
tecnológicas a serviço do extermínio humano em grande escala. Alguns inventos
aperfeiçoados durante a guerra foram a pistola de mão e o avião, no qual foi
acoplada uma metralhadora, fazendo surgir a aviação de caça.
O tanque de guerra foi uma invenção
inglesa logo adotada pelos franceses. Inicialmente, os soldados dentro do tanque
utilizavam fuzis e metralhadoras; depois, foi instalado um canhão de pequeno
calibre. Os alemães desenvolveram o submarino, cuja atuação era restrita a
segurança e vigilância, com pouca mobilidade, permanecendo pouco tempo
submerso. A mais mortífera e cruel invenção tecnológica foram os gases
venenosos usados pelos alemães. Calcula-se que o uso do gás mostarda - assim
chamado devido a seu cheiro - tenha causado a morte de 100 mil soldados nas
trincheiras.
Outra terrível característica na guerra de
1914 a 1918 foi a vitimização em grande escala das populações civis. Milhares
de homens, mulheres e crianças indefesos foram massacrados. Em algumas
situações, ocorreram verdadeiros genocídios, como no caso armênio.
O Massacre Dos Armênios
A Primeira Guerra Mundial também foi palco
de um grande genocídio, cujas vítimas foram os armênios residentes no Império
Turco Otomano. Estima-se que, entre 1915 e 1918, cerca de 1 milhão de armênios
tenham morrido em campos de concentração ou em fuzilamentos sumários de homens,
mulheres e crianças.
Os militares turcos acusavam os armênios
de apoiarem secretamente a Rússia, pois em sua maioria eram cristãos ortodoxos.
Porém, o massacre dos armênios resultou de um preconceito antigo dos turcos
contra essa minoria, rejeitada por razões étnicas e religiosas.
Detalhes desse massacre, com requintes de
crueldade, aparecem no filme
Rua Paraíso, dirigido por Henri
Verneuil. (Franca, 1992), que conta a história de uma família armênia que
fugiu da Turquia para Paris, em 1921.
A sociedade das trincheiras, pelos soldados.
A Primeira Guerra Mundial ficou conhecida
pelos horrores das trincheiras. Milhares de soldados, de ambos os lados, ficavam
durante meses confinados nas trincheiras, padecendo com a fome, as doenças, o
medo e a degradação humana. Alguns relatos dos próprios soldados impressionam.
Leia alguns:
O
campo de batalha é terrível. Há cheiro de azedo, pesado e penetrante de cadáveres.
Homens que foram mortos no último outubro estão meio afundados no pântano e nos
campos de nabo em crescimento. (...) Um pequeno veio de água corre através da
trincheira, e todo mundo usa a água para beber e se lavar: e a única agua
disponível. Ninguém se importa com o inglês pálido que apodrece alguns passos
adiante. No cemitério de Langermark os restos de uma matança foram empilhados e
os mortos ficaram acima do nível do chão. As bombas alemãs, caindo sobre o
cemitério, provocam uma horrível ressurreição.
(De Um fatalista na Guerra, de
Rudolf Binding, que serviu em uma das divisões da Jungdeutschland.)
Estamos tão cansados que dormimos mesmo
sob intenso barulho. A melhor coisa que poderia acontecer seria os ingleses
avançarem e nos fazerem prisioneiros. Ninguém se importa conosco. Não somos
revezados. Os aviões lançam projeteis sobre nós. Ninguém mais consegue pensar.
As rações estão esgotadas - pão, conservas, biscoitos, tudo terminou! Não há
uma única gota de agua. É o próprio inferno!
(De uma carta encontrada no bolso
de um praça alemão na batalha de Somme.)
Ao ouvir alguns gemidos quando eu ia para
as trincheiras, olhei para um abrigo ou buraco cavado ao lado e achei nele um
jovem alemão. Ele não podia se mover porque suas pernas estavam quebradas.
Implorou-me que lhe desse agua,
eu corri atrás de alguma coisa e encontrei um pouco de café que logo lhe dei
para beber. Ele dizia todo o tempo "Danke, Kamerad, danke, danke"
(Obrigado, Camarada, obrigado, obrigado). Por mais que odeie os boches (gíria de origem francesa que
designa o alemão de forma insultuosa)
,quando você esta combatendo, a primeira reação que ocorre ao vê-los caídos por
terra e feridos é sentir pena (...).
Nossos homens são muito bons para com os alemães feridos. Na verdade, gentileza e
compaixão com os feridos foram talvez as únicas coisas decentes que vi na
guerra. Não é raro ver um soldado inglês e outro alemão lado a lado num mesmo
buraco, cuidando um do outro, fumando calmamente.
(Tenente Arthur Conway Young,
França, 16 de setembro de 1919.)
(Relatos extraídos de: MARQUES,
Adhemar; BERUTI, Flavio; FARIA, Ricardo. História contemporânea através de
textos. São Paulo: Contexto, 2003. p. 119-120.)
O Brasil e a
Grande Guerra
O Brasil sofreu as consequências pela
Grande Guerra europeia, embora o presidente Hermes da Fonseca tenha declarado a
neutralidade do Brasil no conflito. Adotou, entre outras medidas, a proibição
de que navios de guerra entrassem nos portos brasileiros e a convocação de
brasileiros para lutar na Europa.
Com a declaração de neutralidade, a
Alemanha não poderia atacar navios mercantes brasileiros que levavam café para
Inglaterra e França. Apesar disso, as exportações brasileiras de café caíram
sensivelmente quando a Alemanha impôs o bloqueio marítimo a esses dois países.
Os cafeicultores brasileiros sofreram
grandes prejuízos. O governo também foi prejudicado com a queda na arrecadação,
já que o principal imposto incidia sobre as exportações. Como alternativa para
reduzir o prejuízo, o governo aumentou os impostos pagos pela população.
Também devido a guerra, o Brasil ficou
impossibilitado de importar produtos industrializados da Europa. Então, o
governo passou a apoiar indústrias que produzissem bens para substituir as
importações. Os benefícios incluíam tarifas protecionistas e subsídios. Assim,
a produção industrial brasileira aumentou nos setores têxteis, de papel, de
borracha, de cimento e de maquinas elétricas.
Apesar da neutralidade brasileira, em
fevereiro de 1917, o comando de guerra alemão decidiu aumentar o bloqueio naval
a Inglaterra e passou a atacar inclusive os navios de países neutros. Mesmo com
o protesto do governo brasileiro, um submarino alemão torpedeou o cargueiro
Paraná, carregado com 4,5 toneladas de café, em 5 de abril desse ano. Depois
que o navio afundou o submarino ainda disparou tiros de canhão contra os marinheiros
sobreviventes.
Nesse contexto, no dia 11 de abril, o
Brasil, acompanhando os Estados Unidos, rompeu relações diplomáticas com a
Alemanha. Em maio, dois outros navios brasileiros foram atacados, mas o governo
manteve a postura de neutralidade. Porém, nas ruas surgiram movimentos de
protesto, exigindo uma reação do governo. Então, o presidente Wenceslau Brás
suspendeu a neutralidade do Brasil na guerra, autorizando que navios dos países
que combatiam a Alemanha atracassem em portos brasileiros.
Em 26 de outubro de 1917, o governo
brasileiro declarou guerra à Alemanha. A iniciativa mais importante foi a
criação da Divisão Naval em Operações de Guerra (DNOG), formada por dois
cruzadores leves e quatro contratorpedeiros, com o total de 1.502 homens, com a
missão de patrulhar o circuito entre São Vicente, Dacar (no Senegal,
África) e o estreito de Gibraltar. A pequena frota partiu em 16 de julho de
1918 para Dacar, mas a missão foi prejudicada por problemas mecânicos nos
navios e pela gripe espanhola. De Dacar, a frota foi para Gibraltar, mas quando
chegou a guerra já tinha acabado.
As
Consequências...
As consequências da Grande Guerra foram
trágicas para as sociedades europeias. Calcula-se que o número de alemães
mortos teria ultrapassado 1 milhão, enquanto a França teria perdido cerca de 1
milhão e 500 mil homens, a maioria jovens com menos de 25 anos de idade. Cerca
de 10 milhões de pessoas morreram no conflito, entre militares e civis. Milhões
de mulheres tornaram-se viúvas, com filhos para criar. Os países europeus
envolvidos no conflito, sobretudo a Alemanha, saíram da guerra arruinados.
A partir de então, os países da Europa
conheceram certo declínio econômico. A Inglaterra, apesar de seu extenso e rico
império colonial, perdeu um pouco da posição de grande potencia mundial. Já os
Estados Unidos, que se industrializavam a passos largos desde fins do século
XIX, aceleraram sua ascensão econômica. Entrando na guerra somente em 1917,
lucraram muito com o conflito, vendendo mercadorias e fornecendo empréstimos
para os países envolvidos, principalmente os da Tríplice Entente.
Outra importante consequência da guerra em
boa parte da Europa foi o desgaste dos ideais liberais como caminho para a
prosperidade das nações. A democracia liberal passou a sofrer fortes criticas
e, a partir da década de 1920, ganharam prestigio as ideologias autoritárias de
direita e de esquerda.
Como resultado, as décadas seguintes
seriam marcadas pelo confronto aberto entre partidos nacionalistas radicais e
partidos comunistas vinculados à orientação soviética. Depois da Primeira
Guerra Mundial, as democracias liberais ficaram desacreditadas e, em alguns
casos, condenadas, como na Itália e na Alemanha.
FONTE: "História: o mundo por um
fio: do século XX ao XXI, vol.3/Ronaldo Vainfas...(et.al.) SP. Saraiva 2010.
Saiba Mais – Link:
A Primeira Guerra Mundial (1914-1918)
Saiba Mais – Link:
A Primeira Guerra Mundial (1914-1918)
Hello,
ResponderExcluirI'm afraid I don't speak any Portuguese, but I wondered if you might know of any Portuguese war slang used by Brazilian soldiers during the First World War?