Ficção ou
realidade?
“Salve D. João IV de Portugal!” Em 1640,
quando a notícia da Restauração da monarquia portuguesa na Europa chegou à
Bahia, este grito foi repetido muitas vezes. Após 60 anos de submissão à Coroa
espanhola, finalmente os lusitanos retomavam o controle de suas terras. A
novidade, embora comemorada em Salvador, capital de suas colônias americanas,
não foi bem recebida em todos os lugares.
A vila de São Paulo teve uma reação, no
mínimo, peculiar. Para alguns espanhóis habitantes do local, a conexão com a Espanha
precisava ser restabelecida. Solução: incitar os colonos à separação de
Portugal coroando um rei paulista. No dia 1º de abril de 1641, Amador
Bueno foi aclamado pela população, mas recusou o trono e ainda convenceu os
revoltosos a desistir do projeto separatista.
Ninguém sabe ao certo se essa história
aconteceu de fato – qualquer semelhança com as brincadeiras do “1º de abril” é
mera coincidência. Talvez seu enredo tenha um pouco de invenção, mas o contexto
não é tão fictício assim: desde o início daquele século, o distanciamento do
litoral fez com que os paulistas conquistassem uma grande autonomia em relação
à metrópole. A volta da monarquia portuguesa poderia significar uma ameaça a
essa liberdade. Assim, um rei paulista não seria uma má ideia.
Os reis do
beijo
Uma grande fila se estendia pelos corredores do Palácio de São
Cristóvão. Todos os tipos de pessoas aguardavam com ansiedade. Uma por uma,
ajoelhadas e inclinadas, elas manifestavam seu respeito e submissão à Coroa
beijando a mão do monarca D. João VI. Esse contato pessoal era sinal de
obediência, mas também a hora de pedir alguns favores.
O beija-mão chegou ao Brasil com a Corte
portuguesa em 1808. Logo o rei tratou de torná-lo popular. Era uma boa maneira
de fazer seus súditos se sentirem pertencentes ao reino. Porém, nos anos da
Regência (1831-1840) – sem um imperador no trono –, o rito caiu em desuso, do
mesmo modo que outras práticas ligadas à tradição monárquica, como os bailes e
jantares reais.
O ritual só foi retomado quando D. Pedro
II estava prestes a atingir a maioridade. O objetivo era restabelecer a vida de
corte, importante para manter os laços sociais e as lealdades. Embora tivesse
funcionado com certa regularidade por um tempo, a tradição não durou muito. Em 27 de
abril de 1872, o imperador mandou divulgar o decreto que abolia de vez
a prática, oficializando o fim de um símbolo já decadente.
Casa de
histórias
Uma biblioteca com 37.000 volumes de
caráter enciclopédico, 1.400 peças de mobiliário, objetos e relíquias, 60.000
itens do acervo pessoal e uma bela casa. Pertencentes ao recém-falecido Rui
Barbosa (1849-1923), todos esses elementos, somados ao nome do notável
político, forneciam o que o governo federal precisava para inaugurar a primeira
casa-museu do Brasil.
Com sua morte, em 1923, o país viu a
necessidade de preservar o legado daquele que havia sido um símbolo da
intelectualidade brasileira, atuando como jurista, escritor, jornalista e
diplomata. O nome do patrono serviu como uma luva para fazer deslanchar um
velho projeto da República: uma instituição que tivesse como objetivo maior
valorizar o conhecimento e a memória do país.
Em 4
de abril de 1927 foi criado o
Museu Rui Barbosa, que um ano depois ganharia do então presidente Washington
Luís o nome de Casa de Rui Barbosa, título conveniente, diante do esforço para
se reconstituir a moradia tal como havia sido. Muitos anos depois, a
instituição continua ativa, preservando o motivo pelo qual foi criada.
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