“E agora que vocês viram no que a coisa deu, jamais esqueçam como foi que tudo começou” (Bertolt Brecht)

sábado, 28 de abril de 2012

Outros abris

Uma revolta separatista digna de primeiro de abril, a fundação da Casa de Rui Barbosa e até o fim de uma tradição beijoqueira foram alguns dos acontecimentos que marcaram este mês em tempos passados.

Ficção ou realidade?
     “Salve D. João IV de Portugal!” Em 1640, quando a notícia da Restauração da monarquia portuguesa na Europa chegou à Bahia, este grito foi repetido muitas vezes. Após 60 anos de submissão à Coroa espanhola, finalmente os lusitanos retomavam o controle de suas terras. A novidade, embora comemorada em Salvador, capital de suas colônias americanas, não foi bem recebida em todos os lugares.
     A vila de São Paulo teve uma reação, no mínimo, peculiar. Para alguns espanhóis habitantes do local, a conexão com a Espanha precisava ser restabelecida. Solução: incitar os colonos à separação de Portugal coroando um rei paulista. No dia 1º de abril de 1641, Amador Bueno foi aclamado pela população, mas recusou o trono e ainda convenceu os revoltosos a desistir do projeto separatista.
     Ninguém sabe ao certo se essa história aconteceu de fato – qualquer semelhança com as brincadeiras do “1º de abril” é mera coincidência. Talvez seu enredo tenha um pouco de invenção, mas o contexto não é tão fictício assim: desde o início daquele século, o distanciamento do litoral fez com que os paulistas conquistassem uma grande autonomia em relação à metrópole. A volta da monarquia portuguesa poderia significar uma ameaça a essa liberdade. Assim, um rei paulista não seria uma má ideia. 

Os reis do beijo
     Uma grande fila se estendia pelos corredores do Palácio de São Cristóvão. Todos os tipos de pessoas aguardavam com ansiedade. Uma por uma, ajoelhadas e inclinadas, elas manifestavam seu respeito e submissão à Coroa beijando a mão do monarca D. João VI. Esse contato pessoal era sinal de obediência, mas também a hora de pedir alguns favores.
     O beija-mão chegou ao Brasil com a Corte portuguesa em 1808. Logo o rei tratou de torná-lo popular. Era uma boa maneira de fazer seus súditos se sentirem pertencentes ao reino. Porém, nos anos da Regência (1831-1840) – sem um imperador no trono –, o rito caiu em desuso, do mesmo modo que outras práticas ligadas à tradição monárquica, como os bailes e jantares reais.
     O ritual só foi retomado quando D. Pedro II estava prestes a atingir a maioridade. O objetivo era restabelecer a vida de corte, importante para manter os laços sociais e as lealdades. Embora tivesse funcionado com certa regularidade por um tempo, a tradição não durou muito. Em 27 de abril de 1872, o imperador mandou divulgar o decreto que abolia de vez a prática, oficializando o fim de um símbolo já decadente.

Casa de histórias
     Uma biblioteca com 37.000 volumes de caráter enciclopédico, 1.400 peças de mobiliário, objetos e relíquias, 60.000 itens do acervo pessoal e uma bela casa. Pertencentes ao recém-falecido Rui Barbosa (1849-1923), todos esses elementos, somados ao nome do notável político, forneciam o que o governo federal precisava para inaugurar a primeira casa-museu do Brasil.
     Com sua morte, em 1923, o país viu a necessidade de preservar o legado daquele que havia sido um símbolo da intelectualidade brasileira, atuando como jurista, escritor, jornalista e diplomata. O nome do patrono serviu como uma luva para fazer deslanchar um velho projeto da República: uma instituição que tivesse como objetivo maior valorizar o conhecimento e a memória do país.
     Em 4 de abril de 1927 foi criado o Museu Rui Barbosa, que um ano depois ganharia do então presidente Washington Luís o nome de Casa de Rui Barbosa, título conveniente, diante do esforço para se reconstituir a moradia tal como havia sido. Muitos anos depois, a instituição continua ativa, preservando o motivo pelo qual foi criada.

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