''A educação é o ponto em
que decidimos se amamos o nosso mundo o bastante para assumirmos a
responsabilidade por ele e, com tal gesto, salvá-lo da ruína que seria inevitável
não fosse a renovação e vinda dos novos e dos jovens. A educação é, também,
onde decidimos se amamos nossas crianças o bastante para não expulsá-las de
nosso mundo e abandoná-las a seus próprios recursos, e tampouco arrancar de
suas mãos a oportunidade de empreender alguma coisa nova e imprevista para nós.”
(ARENDT, Hannah. Entre
o passado e o futuro. São Paulo: Perspectiva, 1972.)
Para além de uma Educação Domesticadora: Um Diálogo com Noam Chomsky
Donaldo Macedo
University of Massachussets Boston, USA.
Excerto da
Entrevista com NOAM CHOMSKY
"Regressemos ao ponto inicial: as escolas
evitam verdades importantes. É da responsabilidade intelectual dos professores
– e de qualquer indivíduo honesto – procurar dizer a verdade. Isto não é,
certamente, controverso. É um imperativo moral procurar e dizer a verdade, na
medida das possibilidades, acerca de coisas relevantes, ao público certo. É uma
perda de tempo dizer a verdade ao poder, no sentido literal das palavras, e o
esforço de o fazer pode frequentemente ser uma forma de auto complacência. A
meu ver, é uma perda de tempo, um empreendimento inútil dizer a verdade a
pessoas como Henry Kissinger ou o Presidente do Conselho de Administração da
AT&TNT3, ou outros que exerçam poder em instituições com políticas de
coerção – a maioria deles já conhecem estas verdades. Gostaria de justificar o
que acabei de dizer. Se e quando as pessoas que exercem o poder nas respectivas
funções institucionais se dissociam do ambiente institucional e se tornam seres
humanos, agentes morais, nessa altura podem juntar-se ao resto das pessoas. Mas
não vale a pena dialogar com eles no seu papel de indivíduos detentores de
poder. É um desperdício de tempo. Vale tanto a pena dizer a verdade ao poder quanto
ao pior e mais criminoso dos tiranos, que também será um ser humano, independentemente
de quão terríveis sejam as suas ações. Dizer a verdade ao poder não é uma
vocação particularmente honrosa.
Deve-se procurar um público que interesse.
Para os professores, esse público são os estudantes. Estes não devem ser vistos
como uma mera audiência, mas como fazendo parte de uma comunidade de interesse
partilhado, na qual esperamos poder participar de um modo construtivo. Não
devemos falar para, mas com. Isso é algo que já se
tornou uma segunda natureza em qualquer bom professor, e também o deveria ser
em qualquer escritor ou intelectual. Um bom professor sabe que a melhor maneira
de ajudar os alunos a aprender é deixá-los descobrir a verdade por eles
próprios. Os estudantes não aprendem por mera transferência de conhecimento
através da memorização mecânica e posterior regurgitação. O verdadeiro
conhecimento vem através da descoberta da verdade e não através da imposição de
uma verdade oficial. Isso nunca conduz ao desenvolvimento do pensamento crítico
e independente. Todos os professores têm a obrigação de ajudar os estudantes a descobrir
a verdade e não suprimir informação e conhecimentos que possam ser embaraçosos
para as pessoas ricas e poderosas que criam, concebem e fazem as políticas das
escolas.
Vejamos mais de perto o que significa
ensinar a verdade e as pessoas distinguirem mentiras de verdades. Eu acho que
não é preciso mais do que bom senso, o mesmo bom senso que nos permite adotar
uma posição crítica perante os sistemas de propaganda das nações que
consideramos nossas inimigas. Já sugeri antes que os eminentes intelectuais estadunidenses
não seriam capazes de nomear nenhum dissidente conhecido das tiranias da esfera
do nosso controle, por exemplo El Salvador. Contudo, esses mesmos intelectuais
não teriam qualquer dificuldade em fornecer uma longa lista de dissidentes da
antiga União Soviética. Também não teriam qualquer problema em distinguir
mentiras da verdade e em reconhecer as distorções e perversões que são usadas
para proteger a população da verdade nos regimes inimigos. As competências
críticas que eles utilizam para desmascarar as falsidades propagadas nas nações
a que chamam “hostis” desaparecem quando se trata de criticar o nosso próprio
governo e as tiranias por nós suportadas. As classes instruídas têm essencialmente
apoiado o aparelho de propaganda ao longo da história, e quando desvios da doutrina
são reprimidos ou marginalizados, a máquina propagandística tem geralmente grande
sucesso. Isso foi bem compreendido por Hitler e por Stalin, e até hoje tanto sociedades
abertas como fechadas procuram e recompensam a cumplicidade da classe instruída.
A classe instruída tem sido denominada uma
“classe especializada”, um pequeno grupo de pessoas que analisam, executam,
tomam decisões e gerem as coisas nos sistemas político, econômico e ideológico.
A classe especializada é geralmente composta por uma pequena percentagem da
população; eles têm de ser protegidos do grosso da população, a quem Walter
Lippmann chamou de “rebanho desnorteado”. Esta classe especializada leva a cabo
as “funções executivas”, o que significa que são eles que pensam, planejam e percebem
os “interesses comuns”, que para eles são os interesses da classe empresarial.
A grande maioria das pessoas, o “rebanho desnorteado”, devem funcionar na nossa
democracia como “espectadores”, não como “participantes na ação”, de acordo com
as crenças liberais democráticas que Lippmann articula com clareza. Na nossa
democracia, de vez em quando é permitido aos membros do “rebanho desnorteado”
participar na aprovação de um líder através daquilo a que chamamos “eleição”. Mas,
uma vez confirmado um ou outro membro da classe especializada, devem retirar-se
e voltar a ser espectadores.
Quando o “rebanho desnorteado” tenta ser
mais do que simples espectadores, quando as pessoas tentam tomar-se
participantes nas ações democráticas, a classe especializada reage àquilo que
chama “crise de democracia”. E por isso que existiu tanto ódio entre as elites
dos anos 1960, quando grupos de pessoas que historicamente sempre foram marginalizadas,
começaram a organizar e a interferir com as políticas da classe especializada,
em particular na guerra do Vietnã, mas também na política social interna.
[...]Os membros do “rebanho
desnorteado” devem ser profundamente doutrinados nos valores e interesses
corporativos privados e controlados pelo estado. Aqueles que são bem sucedidos
em instruir-se nos valores da ideologia dominante e que provam a sua lealdade ao
sistema doutrinal podem tornar-se parte da classe especializada. O resto do
“rebanho desnorteado” deve ser mantido na linha, longe de problemas e
mantendo-se sempre, quanto muito, espectadores da ação e distraídos das
verdadeiras questões que interessam. A classe instruída considera-os demasiado
estúpidos para gerirem os seus próprios assuntos, e por isso precisam da classe
especializada para se assegurarem de que não terão a oportunidade de agir com
base nos seus “equívocos”. Segundo a classe especializada, os 70 por cento das
pessoas que consideram que a Guerra do Vietnã foi moralmente errada devem ser protegidos
dos seus “equívocos” ao oporem-se à guerra: eles devem acreditar na opinião oficial
de que a Guerra do Vietnã foi apenas um erro.
Para proteger o “rebanho desnorteado” de
si próprio e dos seus “equívocos”, numa sociedade aberta a classe especializada
precisa de se virar cada vez mais para a técnica da propaganda, para a qual se
usa o eufemismo “relações públicas”. Por outro lado, em estados totalitários o
“rebanho desnorteado” é mantido no lugar por um martelo que paira sobre as suas
cabeças, e se alguém se desvia, tem sua cabeça esmagada. Uma sociedade democrática
não se pode apoiar na força bruta para controlar a população. Por isso, é
preciso confiar mais na propaganda como forma de controlar a mente pública. A
classe instruída toma-se indispensável na diligência de controle da mente e as
escolas têm um papel importante neste processo”.
FILMES:
Vencedor da Palma de Ouro
no Festival de Cannes, em 2008, o filme é baseado no livro homônimo de François
Bégaudeau (lançado no Brasil pela Martins Editora), que retrata a experiência
de um professor ginasial – ele próprio – às voltas com uma turma que, à
primeira vista, não parece muito a fim de cooperar. Interpretado também por
François, o personagem central da história tem de lidar não só com a falta de
interesse dos alunos em sua disciplina, mas com as diferenças sociais e o
choque entre culturas africana, árabe, asiática e, claro, europeia, dentro das
quatro paredes da sala de aula.
Rodado durante sete semanas em um colégio
do leste de Paris, “Entre os muros da escola” tem ares de documentário e um
elenco todo de não atores – alunos, professores e pais. Louise é a princesinha
da classe; Arthur, o emo de poucas palavras; Souleymane, o garoto marrento que
chega às vias de fato com o professor e que, por isso, pode acabar expulso da
escola... não fosse a aliança com Khoumba e Esmeralda, as amigas inseparáveis e
tagarelas a quem, num momento de irritação, François chama de “vadias” –
deslize este que pode acabar com mais uma expulsão: a do professor.
Ano: 2008
Áudio: Francês/Legendado
Duração: 122 minutos
Tamanho: 705 MB
Escritores da Liberdade
Direção: Richard LaGravenese
Áudio: Português
Duração: 123 minutos
Tamanho: 694 MB
O Grande
Desafio
Incentivados pelo
professor (Denzel Washington), os jovens Henry Lowe (Nate Parker), Samantha
Booke (Jurnee Smollett) e James Farmer Jr. (Denzel Whitaker) formaram uma
equipe praticamente imbatível de debatedores (daí o título original, “The Great
Debaters”; “os ótimos debatedores” em português) entre os anos 20 e 30,
primeiro derrotando as principais universidades para negros, e depois, conseguindo
um confronto histórico com a toda poderosa Harvard, formada por alunos
brancos.
A competição reúne duas equipes de estudantes
que precisam argumentar e convencer jurados sobre temas pré-definidos.
Com um elenco notável, que inclui dois vencedores
do Oscar (Washington e Forest Whitaker), e jovens talentosos, O
Grande Desafio é um filme digno, admirável e tem
grandes momentos de interpretação.
Como exemplo, a cena em que James Farmer
(Whitaker) atropela um porco e precisa se desculpar com dois homens brancos,
que o humilham. Ou quando o mesmo confronta Melvin B. Tolson. Ambos são
homens e profissionais de posturas e opiniões diferentes, mas têm respeito
um pelo outro e sabem que, apesar das diferenças, desejam o mesmo: igualdade
social.
Indicado ao Globo de Ouro na categoria
Melhor Filme Dramático em 2008, e vencedor, no mesmo ano, do prêmio Stanley
Kramer do Sindicato dos Produtores.
No filme presenciamos a vida real de pessoas
que fizeram o bem, romperam barreiras sem precisar fazer uso de armas,
contando “apenas” com o dom da sabedoria e a fé em suas atitudes.
Direção: Denzel Washington
Áudio: Português
Duração: 127 minutos
Tamanho: 691 MB
O Clube do
Imperador
Direção: Michael Hoffman
Áudio: Português
Duração: 109 minutos
Tamanho: 599 MB
Pink Floyd: The Wall
Órfão de pai (morto durante a Segunda Guerra
Mundial), o jovem Pink Floyd (Bob Geldof) tem a infância marcada pela
perseguição de seu professor e pela superproteção da mãe. Adulto, ele se torna
um astro do rock e entra em depressão. Para salvar sua consciência e a própria
vida, Pink terá de lidar diretamente com os fantasmas do passado.
Direção: Alan Parker
Ano: 1982
Duração: 95 minutos
Tamanho: 709 MB
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