“E agora que vocês viram no que a coisa deu, jamais esqueçam como foi que tudo começou” (Bertolt Brecht)

sexta-feira, 20 de abril de 2012

Para além de uma Educação Domesticadora: Um Diálogo com Noam Chomsky


''A educação é o ponto em que decidimos se amamos o nosso mundo o bastante para assumirmos a responsabilidade por ele e, com tal gesto, salvá-lo da ruína que seria inevitável não fosse a renovação e vinda dos novos e dos jovens. A educação é, também, onde decidimos se amamos nossas crianças o bastante para não expulsá-las de nosso mundo e abandoná-las a seus próprios recursos, e tampouco arrancar de suas mãos a oportunidade de empreender alguma coisa nova e imprevista para nós.”
(ARENDT, Hannah. Entre o passado e o futuro. São Paulo: Perspectiva, 1972.)


Para além de uma Educação Domesticadora: Um Diálogo com Noam Chomsky
Donaldo Macedo
University of Massachussets Boston, USA.
Excerto da Entrevista com NOAM CHOMSKY

     "Regressemos ao ponto inicial: as escolas evitam verdades importantes. É da responsabilidade intelectual dos professores – e de qualquer indivíduo honesto – procurar dizer a verdade. Isto não é, certamente, controverso. É um imperativo moral procurar e dizer a verdade, na medida das possibilidades, acerca de coisas relevantes, ao público certo. É uma perda de tempo dizer a verdade ao poder, no sentido literal das palavras, e o esforço de o fazer pode frequentemente ser uma forma de auto complacência. A meu ver, é uma perda de tempo, um empreendimento inútil dizer a verdade a pessoas como Henry Kissinger ou o Presidente do Conselho de Administração da AT&TNT3, ou outros que exerçam poder em instituições com políticas de coerção – a maioria deles já conhecem estas verdades. Gostaria de justificar o que acabei de dizer. Se e quando as pessoas que exercem o poder nas respectivas funções institucionais se dissociam do ambiente institucional e se tornam seres humanos, agentes morais, nessa altura podem juntar-se ao resto das pessoas. Mas não vale a pena dialogar com eles no seu papel de indivíduos detentores de poder. É um desperdício de tempo. Vale tanto a pena dizer a verdade ao poder quanto ao pior e mais criminoso dos tiranos, que também será um ser humano, independentemente de quão terríveis sejam as suas ações. Dizer a verdade ao poder não é uma vocação particularmente honrosa.
     Deve-se procurar um público que interesse. Para os professores, esse público são os estudantes. Estes não devem ser vistos como uma mera audiência, mas como fazendo parte de uma comunidade de interesse partilhado, na qual esperamos poder participar de um modo construtivo. Não devemos falar para, mas com. Isso é algo que já se tornou uma segunda natureza em qualquer bom professor, e também o deveria ser em qualquer escritor ou intelectual. Um bom professor sabe que a melhor maneira de ajudar os alunos a aprender é deixá-los descobrir a verdade por eles próprios. Os estudantes não aprendem por mera transferência de conhecimento através da memorização mecânica e posterior regurgitação. O verdadeiro conhecimento vem através da descoberta da verdade e não através da imposição de uma verdade oficial. Isso nunca conduz ao desenvolvimento do pensamento crítico e independente. Todos os professores têm a obrigação de ajudar os estudantes a descobrir a verdade e não suprimir informação e conhecimentos que possam ser embaraçosos para as pessoas ricas e poderosas que criam, concebem e fazem as políticas das escolas.
     Vejamos mais de perto o que significa ensinar a verdade e as pessoas distinguirem mentiras de verdades. Eu acho que não é preciso mais do que bom senso, o mesmo bom senso que nos permite adotar uma posição crítica perante os sistemas de propaganda das nações que consideramos nossas inimigas. Já sugeri antes que os eminentes intelectuais estadunidenses não seriam capazes de nomear nenhum dissidente conhecido das tiranias da esfera do nosso controle, por exemplo El Salvador. Contudo, esses mesmos intelectuais não teriam qualquer dificuldade em fornecer uma longa lista de dissidentes da antiga União Soviética. Também não teriam qualquer problema em distinguir mentiras da verdade e em reconhecer as distorções e perversões que são usadas para proteger a população da verdade nos regimes inimigos. As competências críticas que eles utilizam para desmascarar as falsidades propagadas nas nações a que chamam “hostis” desaparecem quando se trata de criticar o nosso próprio governo e as tiranias por nós suportadas. As classes instruídas têm essencialmente apoiado o aparelho de propaganda ao longo da história, e quando desvios da doutrina são reprimidos ou marginalizados, a máquina propagandística tem geralmente grande sucesso. Isso foi bem compreendido por Hitler e por Stalin, e até hoje tanto sociedades abertas como fechadas procuram e recompensam a cumplicidade da classe instruída.
     A classe instruída tem sido denominada uma “classe especializada”, um pequeno grupo de pessoas que analisam, executam, tomam decisões e gerem as coisas nos sistemas político, econômico e ideológico. A classe especializada é geralmente composta por uma pequena percentagem da população; eles têm de ser protegidos do grosso da população, a quem Walter Lippmann chamou de “rebanho desnorteado”. Esta classe especializada leva a cabo as “funções executivas”, o que significa que são eles que pensam, planejam e percebem os “interesses comuns”, que para eles são os interesses da classe empresarial. A grande maioria das pessoas, o “rebanho desnorteado”, devem funcionar na nossa democracia como “espectadores”, não como “participantes na ação”, de acordo com as crenças liberais democráticas que Lippmann articula com clareza. Na nossa democracia, de vez em quando é permitido aos membros do “rebanho desnorteado” participar na aprovação de um líder através daquilo a que chamamos “eleição”. Mas, uma vez confirmado um ou outro membro da classe especializada, devem retirar-se e voltar a ser espectadores.
     Quando o “rebanho desnorteado” tenta ser mais do que simples espectadores, quando as pessoas tentam tomar-se participantes nas ações democráticas, a classe especializada reage àquilo que chama “crise de democracia”. E por isso que existiu tanto ódio entre as elites dos anos 1960, quando grupos de pessoas que historicamente sempre foram marginalizadas, começaram a organizar e a interferir com as políticas da classe especializada, em particular na guerra do Vietnã, mas também na política social interna.
     [...]Os membros do “rebanho desnorteado” devem ser profundamente doutrinados nos valores e interesses corporativos privados e controlados pelo estado. Aqueles que são bem sucedidos em instruir-se nos valores da ideologia dominante e que provam a sua lealdade ao sistema doutrinal podem tornar-se parte da classe especializada. O resto do “rebanho desnorteado” deve ser mantido na linha, longe de problemas e mantendo-se sempre, quanto muito, espectadores da ação e distraídos das verdadeiras questões que interessam. A classe instruída considera-os demasiado estúpidos para gerirem os seus próprios assuntos, e por isso precisam da classe especializada para se assegurarem de que não terão a oportunidade de agir com base nos seus “equívocos”. Segundo a classe especializada, os 70 por cento das pessoas que consideram que a Guerra do Vietnã foi moralmente errada devem ser protegidos dos seus “equívocos” ao oporem-se à guerra: eles devem acreditar na opinião oficial de que a Guerra do Vietnã foi apenas um erro.
     Para proteger o “rebanho desnorteado” de si próprio e dos seus “equívocos”, numa sociedade aberta a classe especializada precisa de se virar cada vez mais para a técnica da propaganda, para a qual se usa o eufemismo “relações públicas”. Por outro lado, em estados totalitários o “rebanho desnorteado” é mantido no lugar por um martelo que paira sobre as suas cabeças, e se alguém se desvia, tem sua cabeça esmagada. Uma sociedade democrática não se pode apoiar na força bruta para controlar a população. Por isso, é preciso confiar mais na propaganda como forma de controlar a mente pública. A classe instruída toma-se indispensável na diligência de controle da mente e as escolas têm um papel importante neste processo”.

FILMES:

Entre os Muros da Escola
Vencedor da Palma de Ouro no Festival de Cannes, em 2008, o filme é baseado no livro homônimo de François Bégaudeau (lançado no Brasil pela Martins Editora), que retrata a experiência de um professor ginasial – ele próprio – às voltas com uma turma que, à primeira vista, não parece muito a fim de cooperar. Interpretado também por François, o personagem central da história tem de lidar não só com a falta de interesse dos alunos em sua disciplina, mas com as diferenças sociais e o choque entre culturas africana, árabe, asiática e, claro, europeia, dentro das quatro paredes da sala de aula.
      Rodado durante sete semanas em um colégio do leste de Paris, “Entre os muros da escola” tem ares de documentário e um elenco todo de não atores – alunos, professores e pais. Louise é a princesinha da classe; Arthur, o emo de poucas palavras; Souleymane, o garoto marrento que chega às vias de fato com o professor e que, por isso, pode acabar expulso da escola... não fosse a aliança com Khoumba e Esmeralda, as amigas inseparáveis e tagarelas a quem, num momento de irritação, François chama de “vadias” – deslize este que pode acabar com mais uma expulsão: a do professor.
Direção: Laurent Cantet
Ano: 2008
Áudio: Francês/Legendado
Duração: 122 minutos
Tamanho: 705 MB

Escritores da Liberdade
Hilary Swank, duas vezes premiada com o Oscar, atua nessa instigante história, envolvendo adolescentes criados no meio de tiroteios e agressividade, e a professora que oferece o que eles mais precisam: uma voz própria. Quando vai parar numa escola corrompida pela violência e tensão racial, a professora Erin Gruwell combate um sistema deficiente, lutando para que a sala de aula faça a diferença na vida dos estudantes. Agora, contando suas próprias histórias, e ouvindo as dos outros, uma turma de adolescentes supostamente indomáveis vai descobrir o poder da tolerância, recuperar suas vidas desfeitas e mudar seu mundo. Escritores da Liberdade é baseado no aclamado best-seller O Diário dos Escritores da Liberdade.
Direção: Richard LaGravenese
Ano: 2007
Áudio: Português
Duração: 123 minutos
Tamanho: 694 MB

O Grande Desafio
Incentivados pelo professor (Denzel Washington), os jovens Henry Lowe (Nate Parker), Samantha Booke (Jurnee Smollett) e James Farmer Jr. (Denzel Whitaker) for­ma­ram uma equipe praticamente imbatível de debatedores (daí o título original, “The Great Debaters”; “os ótimos debatedores” em português) entre os anos 20 e 30, primeiro derrotando as principais universidades para negros, e depois, conseguindo um con­fronto his­tó­rico com a toda pode­rosa Harvard, for­mada por alunos brancos.
A com­pe­ti­ção reúne duas equi­pes de estu­dan­tes que pre­ci­sam argu­men­tar e con­ven­cer jura­dos sobre temas pré-definidos.
Com um elenco notá­vel, que inclui dois ven­ce­do­res do Oscar (Washington e Forest Whitaker), e jovens talen­to­sos, O Grande Desafio é um filme digno, admi­rá­vel e tem gran­des momen­tos de inter­pre­ta­ção.
Como exem­plo, a cena em que James Farmer (Whitaker) atro­pela um porco e pre­cisa se des­cul­par com dois homens bran­cos, que o humi­lham. Ou quando o mesmo con­fronta Melvin B. Tolson. Ambos são homens e pro­fis­si­o­nais de pos­tu­ras e opi­niões dife­ren­tes, mas têm res­peito um pelo outro e sabem que, ape­sar das dife­ren­ças, dese­jam o mesmo: igual­dade social.
Indicado ao Globo de Ouro na cate­go­ria Melhor Filme Dramático em 2008, e ven­ce­dor, no mesmo ano, do prê­mio Stanley Kramer do Sindicato dos Produtores.
No filme pre­sen­ci­amos a vida real de pes­soas que fize­ram o bem, rom­pe­ram bar­rei­ras sem pre­ci­sar fazer uso de armas, con­tando “ape­nas” com o dom da sabe­do­ria e a fé em suas atitudes.
Direção: Denzel Washington
Ano: 2007
Áudio: Português
Duração: 127 minutos
Tamanho: 691 MB

O Clube do Imperador
William Hundert (Kevin Kline) é um professor da St. Benedict's, uma escola preparatória para rapazes muito exclusiva que recebe como alunos a nata da sociedade americana. Lá Hundert dá lições de moral para serem aprendidas, através do estudo de filósofos gregos e romanos. Hundert está apaixonado por falar para os seus alunos que "o caráter de um homem é o seu destino" e se esforça para impressioná-los sobre a importância de uma atitude correta. Repentinamente algo perturba esta rotina com a chegada de Sedgewick Bell (Emile Hirsch), o filho de um influente senador. Sedgewick entra em choque com as posições de Hundert, que questiona a importância daquilo que é ensinado. Mas, apesar desta rebeldia, Hundert considera Sedgewick bem inteligente e acha que pode colocá-lo no caminho certo, chegando mesmo a colocá-lo na final do Senhor Julio Cesar, um concurso sobre Roma Antiga. Mas Sedgewick trai esta confiança arrumando um jeito de trapacear.
Direção: Michael Hoffman
Ano: 2002
Áudio: Português
Duração: 109 minutos
Tamanho: 599 MB

Pink Floyd: The Wall
Órfão de pai (morto durante a Segunda Guerra Mundial), o jovem Pink Floyd (Bob Geldof) tem a infância marcada pela perseguição de seu professor e pela superproteção da mãe. Adulto, ele se torna um astro do rock e entra em depressão. Para salvar sua consciência e a própria vida, Pink terá de lidar diretamente com os fantasmas do passado.
Direção: Alan Parker
Ano: 1982
Áudio: Inglês/Legendado
Duração: 95 minutos
Tamanho: 709 MB 

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