“E agora que vocês viram no que a coisa deu, jamais esqueçam como foi que tudo começou” (Bertolt Brecht)

quinta-feira, 30 de agosto de 2018

O delírio de um Brasil nazista

Novo livro de embaixador revela plano de Hitler: dividir a América do Sul, com o apoio da Argentina, em quatro países-satélites do III Reich.
          Durante a Segunda Guerra, numa rua do Rio de Janeiro, um agente secreto inglês esbarrou num cidadão alemão, que teve morte instantânea. Dentro da sua pasta foi encontrado um mapa exibindo um novo desenho da América do Sul. Por ele, vários países desapareceriam, e o território da Argentina, a grande beneficiária da divisão, cresceria consideravelmente, avançando em direção à Amazônia.
          Como os Aliados ganharam a guerra, o delírio nazista de transformar a América do Sul em colônia do III Reich não foi em frente. Mas forneceu ao acadêmico e embaixador Sérgio Corrêa da Costa os elementos para um livro interessantíssimo: Crônica de uma guerra secreta, que está sendo lançado [...] pela Editora Record. Misturando espionagem política, mistério, aventuras e impressões pessoais, o autor faz revelações surpreendentes sobre uma aliança entre a Argentina, na época governada por Juan Domingo Perón, e a Alemanha nazista, com vistas ao domínio da América do Sul.
          Jovem diplomata servindo em Buenos Aires entre 1944 e 1946, Corrêa de Castro teve acesso, "muito antes de James Bond nos ter ensinado o caminho", aos "recintos mais vigiados" do Archivo General de la Nación e conseguiu fotografar documentos ultrassecretos, nas suas palavras "altamente comprometedores do governo argentino".
          De fato, algumas frases de Perón reunidas pelo autor soam hoje quase inacreditáveis. "Uma vez caído o Brasil, o continente sul-americano será nosso", escreveu o então coronel Perón no manifesto do Grupo de Oficiais Unidos (GOU), em 1943, poucas semanas antes de assumir o governo. E acrescentou: "A luta de Hitler, na paz e na guerra, nos servirá de guia". A rivalidade histórica da Argentina em relação ao Brasil ganhou força quando o nazismo ascendeu ao poder na Alemanha.
          A ideia de Hitler não era dominar nosso país militarmente, mas por uma eficiente estratégia de infiltração que incluía pesados investimentos em propaganda. Disse ele: "Não desembarcaremos tropas como Guilherme, o Conquistador, para dominar o Brasil pela força das armas. Nossas armas não são visíveis. Nossos 'conquistadores' [...] têm uma tarefa mais difícil que a dos originais, razão pela qual disporão de armas igualmente mais difíceis".
          A seguir, trechos do capítulo 11 de Crônica de uma guerra secreta, que no livro se intitula "O desmembramento do Brasil". Nossa História agradece ao autor e à Editora Record pela autorização para a publicação.

"Criaremos no Brasil uma nova Alemanha. Encontraremos lá tudo de que necessitamos."
Adolf Hitler, 1933

          O jornalista francês Pierre Dehillotte, antigo redator do Temps e do Journal des Débats, dedicou-se intensamente ao estudo da Gestapo, sua organização, estruturas de comando e, notadamente, as atividades dos agentes enviados ao exterior. Correspondente em Berlim e, a seguir, em Viena e Praga, entre 1932 e 1938, pôde acompanhar muito de perto a ascensão de Hitler e a montagem dos planos nazistas de domínio da Europa. Foi, portanto, testemunha ocular dos dramas que sacudiram, consecutivamente, a Alemanha democrática, a Áustria independente e a Tchecoslováquia livre. Suas antevisões e profecias foram argutas e precisas, evidência de acuidade do observador político.
          Ao analisar o expansionismo alemão, deu-se logo conta de que não se limitava ao continente europeu. Concentrou, por isso, sua alça de mira nas organizações do Partido Nazista no exterior (AO), sob o comando do Gauleiter Ernst Wilhelm Bohle, com sede em Munique, a Auslanddeutschesverein. Como jornalista francês, Dehillotte procurou pretextos para visitar a sede da organização. Observou que nas salas contíguas ao gabinete do Gauleiter trabalhavam equipes de estatísticos, sociólogos, etnógrafos, técnicos e especialistas do Lebensraum (espaço vital) empenhados em planos de organização e emprego das populações nas áreas que integrariam a futura Grande Alemanha.
          O coordenador dos serviços com quem se entreteve chamava-se Herr Kurtfalkenraum, cordial e atento, cabelos grisalhos e uniforme da Wilhelmstrasse. Não recorreu a subterfúgios ou escusas e discorreu, com naturalidade, sobre os trabalhos em curso. Àquela altura - alguns anos antes do início do conflito - parecia normal que o Terceiro Reich procurasse a melhor maneira de dotar o povo alemão do espaço vital de que necessitava. Segundo os slogans hitleristas, uma vez que a distribuição das terras havia sido feita ao azar das conquistas de ontem - portanto de maneira injusta e antieconômica -, o status quo não deixava margem a uma distribuição equitativa das matérias-primas. O continente sul-americano, sobretudo o Brasil, com seus 8 milhões de quilômetros quadrados quase desabitados e inexplorados, bastava para comprovar a validade do teorema nazista dos espaços vitais a conquistar e a redistribuir. "A América do Sul", afirmavam os apóstolos do Lebensraum de ultramar, "fornecerá a solução definitiva ao problema demográfico europeu." Logo que "esse continente de mestiços se tornar um protetorado alemão", expressão atribuída a Adolf Hitler, "a emigração europeia deverá ser intensificada por um organismo especial e se dirigirá de preferência aos países latino-americanos".
          "Aqueles fichários, dossiês e atlas", escreveu Dehillotte, "cogitavam nada menos que da reorganização e emprego das futuras populações conquistadas da Grande Alemanha Nacional-socialista. Nesta seção especial e discreta", concluiu com fino humor, "pacientes estatísticos cortavam e recortavam as peles dos ursos árticos e antárticos antes de tê-los matado."
          (...)
          Como acabamos de ver, é antigo o gosto alemão pela geografia política, posta a serviço de desígnios de expansão territorial. Muito antes da confecção do mapa nazista em que foi redesenhada a América do Sul, outros ensaios foram feitos, invariavelmente levados a sério.
          Começo esta evocação do caso brasileiro pelos estudos do pensador pangermânico, Otto Richard Tannenberg, considerado, nas vésperas da Primeira Guerra Mundial, o mais autorizado porta-voz do esquema de hegemonia mundial. No seu GrossDeutschland, die Arbeit des 20. Jahrhunderts (A Grande Alemanha, obra do século XX), publicado em Leipzig, 1911, Tannenberg estabelece o princípio da repartição das Américas Central e do Sul entre as grandes potências imperialistas, reservando para a Alemanha a zona subtropical banhada pelo Atlântico.
          Por que tantos "estados" nas Américas Central e do Sul? Simplesmente - pontifica Tannenberg porque Espanha e Portugal "se mostraram incapazes de governar países no ultramar". Ora, continua, os habitantes nada conseguiram de bom, pois tampouco se encontram em condições de se governarem. Um déspota tenta suplantar o outro, o que explica as contínuas revoluções e sangrentas guerras em proveito de algum tiranete, ávido de glória e de riqueza, enquanto se mantém o povo oprimido e na ignorância. Em contraste com a América anglo-saxã, em que os indígenas desapareceram quase por completo, nos demais países são os brancos que se encontram em via de desaparição. No Paraguai e no Peru, exemplifica, constituem apenas 14% da população. No Equador, o percentual desce a 7%, na Colômbia a 6%. O restante da população "se compõe, aproximadamente e em igual proporção, de mestiços e gente de cor, índios ou negros".
          Contra esse pano de fundo, Tannenberg descreve os contornos da grande "Alemanha do Sul", a ser implantada no nosso subcontinente. De acordo com seu mapa, abrangeria todas as terras ao sul de uma linha que começa no litoral atlântico do Brasil, na altura do Rio de Janeiro, e termina no Pacífico, em Antofagasta, o grande porto chileno exportador de cobre e nitratos. País fabuloso, abrangeria o Paraná, Santa Catarina, Rio Grande do Sul ("onde reina a cultura alemã"), Paraguai, o terço meridional da Bolívia ("por integrar a bacia do rio da Prata"), o Uruguai e as ricas províncias do nordeste argentino:
          "A América meridional alemã nos proporcionará, na zona temperada, um espaço de colonização onde nossos emigrantes conservarão sua língua e autonomia. Exigiremos, porém, que o alemão seja ensinado nas escolas como segunda língua. O Sul do Brasil, o Paraguai e o Uruguai são países de cultura alemã. O alemão passará a ser a língua nacional."
          Seria este o "Primeiro Estado Alemão Americano Independente". Primeiro, porque concebido como pedra angular de um outro, especialíssimo - a "Alemanha Antártica", menina dos olhos de vários geopolíticos alemães.
          Tal como no texto de Tannenberg, o atlas Deutschland und die Welt (Alemanha e o mundo), concluído pouco antes do início da Segunda Guerra, indica também as fronteiras da Alemanha Sul-Americana, em que o Sul do Brasil volta a aparecer, nitidamente, como colônia alemã.
          Ao evocar essa e outras demonstrações do imperialismo germânico, um ilustre pensador político uruguaio, Hugo Fernandez Artucio, assinala que, a despeito das aparências fantasiosas, vinham sendo objeto de séria consideração havia um século, talvez mais. Cita o grande estadista e pensador argentino Domingo Faustino Sarmiento, que transcreveu, no El Nacional, comentário de La Revue Politique et Littéraire, de 13 de maio de 1882, a propósito de dois artigos na revista Deutsche Rundschau sobre as futuras colônias alemãs. O primeiro procura demonstrar a necessidade de a Alemanha dispor de suas próprias colônias para receber os emigrantes que levam trabalho e indústria a países estrangeiros. As províncias do Rio Grande do Sul e do Paraná seriam particularmente adequadas, já dispondo de importante componente germânico. Argentina, Uruguai e Paraguai são também citados como ideais para a colonização alemã.
          "Não será necessário o emprego da força, pois o governo alemão somente interviria para assegurar aos seus nacionais os direitos consagrados nos tratado. A tarefa será empreendida por uma empresa privada, de enorme capital, a qual espalhará suas raízes em toda a Alemanha. O espírito que inspira o empreendimento fará com que, após um certo tempo, os países colonizados se transformem - ipso facto - em colônias alemãs. Tal como disse Bismarck: 'O fato cria o direito'."
          (...)
          Radicados no Brasil segundo planos traçados pelo governo alemão, os colonos encontraram um país em que o governo, se pouco ou quase nada fazia por eles, também não impunha restrições ao desenvolvimento de suas atividades. Portanto, um cenário ideal para os planos de subversão nazista. De modo geral, os colonos manifestavam discreto interesse pelo país, evitavam disputar cargos eletivos, procurando seguir com muito maior interesse o que se passava na mãe pátria. Casos como os de Lauro Muller e Adolfo Konder, governadores de Santa Catarina, eram relativamente raros. Lauro Muller, ministro das Relações Exteriores em 1913, renunciou ao cargo em protesto contra a decisão brasileira de romper com o Império Alemão, na Primeira Guerra Mundial.
          (...)
           A conjuntura brasileira em 1933-34 - primeiros anos do reinado de Hitler - oferecia um cenário particularmente favorável aos planos sinistros do nacional-socialismo. Os efeitos da depressão americana de 1929 ainda se faziam sentir. Nossas exportações continuavam em níveis baixíssimos, o governo Vargas ainda buscando se consolidar no poder, uma vez vencida a guerra civil paulista, porém sem lograr inverter a persistência de distúrbios aqui e acolá no imenso país. (...)
          Em São Paulo, os nazistas se deram conta de que se impunha cautela especial, por julgarem ser o estado mais "democrático" do país e representar a mais vigorosa oposição ao regime Vargas. O Partido Nacional-socialista, representado por K. von Spanus, era organizado em círculos, blocos e células. Chr. Wifler era o responsável pelos círculos, sendo os principais os do norte, leste, sul e oeste do estado, sob os codinomes "Sellge", "Syanpius", "Andriessen" e "Eisdendecker". As ordens do partido eram transmitidas exclusivamente por mensageiros e cada responsável usava um codinome e número de telefone também em código. Durante certo tempo, o partido chegou a manter colaboração estreita com a polícia estadual, o que não escapou ao atilado major Aurélio da Silva Py. Sua detida investigação da infiltração fascista no Sul do país revela que se alguém ousasse levantar a voz contra o Partido Nazista em reunião sindical, ou em qualquer outra, no estado de São Paulo, seria pouco depois detido pela polícia para averiguações. Líderes trabalhistas, estudantes e intelectuais de esquerda foram sequestrados, porém invariavelmente dados como "desaparecidos". O caso de maior repercussão foi o do assassinato de Tobias Warchawski, denunciado pela imprensa independente como mais um crime monstruoso de nazi-integralistas.
          Para a Alemanha, os imigrantes e seus descendentes - um milhão, ou quase, de pessoas de raça ariana - eram súditos do Reich, portanto com os mesmos direitos e obrigações dos que viviam na mãe pátria. Nessa dicotomia, obviamente, se encontrava a principal razão de choque com as leis brasileiras. Segundo o raciocínio alemão, Buenos Aires e Montevidéu, onde contavam com apoios amplos e seguros, somados a São Paulo, a Detroit sul-americana, ofereciam a possibilidade de transformar, a curto prazo, os respectivos parques industriais em potente indústria bélica. (...)
          Como já assinalei, um dos programas de Adolf Hitler era a incorporação pura e simples à Alemanha de todos os territórios onde houvesse minoria alemã. Em primeiro lugar, na Europa. Logo a seguir, na América do Sul, onde as atenções se concentraram na Argentina, no Brasil e no Chile, todos já com uma apreciável base étnica germânica. Dos três, a Argentina mereceu atenção prioritária. Além de ser o único país europeu na região, culturalmente superior aos demais, não tinha, por exemplo, o complicador do gigantismo brasileiro.
          O gigantismo, porém, poderia ser facilmente corrigido. Desde logo, os três estados do Sul, já devidamente germanizados, não tinham por que permanecer atrelados ao imenso complexo luso-afro-ameríndio. O Reich não abriria mão do milhão de Reichsãeutschen ou Volksdeutschen radicados no Brasil, todos sob proteção alemã. "Cada gota de sangue alemão precisa ser preservada", proclamava Ernst Wilhelm Bohle, Gauleiter da organização dos alemães no exterior. "Não pode haver pecado maior que o de renunciar voluntariamente ao sangue alemão!"
          Megalomania ou não, o fato é que as tensões teuto-brasileiras criadas pelo nosso programa de nacionalização das áreas de forte presença estrangeira deram lugar a reações extremas, inclusive à cogitação de - a curto prazo - separar do Brasil os estados sulinos. Em estranho relatório enviado a Berlim, o embaixador Karl Ritter estuda a posição geopolítica e estratégica desses estados, salientando a "inexistência de comunicações ferroviárias com o resto do país". Assim sendo, as autoridades centrais não teriam condições de restabelecer o controle sobre a região "em caso de ataque argentino (sic). Nesse caso", conclui, "somente os Estados Unidos poderiam opor-se a um ataque de Buenos Aires". Não se trata de invenção minha. O que acabo de assinalar se encontra, com todas as letras, em Documentos Diplomáticos da Alemanha, dossiê "Politische Abteilung", doe. N. Pol. IX, 341, de 3 de março de 1938.
          Nesse mesmo relatório, o embaixador Ritter comunica a existência de uma corrente no seio da colônia alemã, de que seria porta-voz um certo senhor Plugge, convencido de que a única possibilidade oferecida ao Reich de proteção ao elemento alemão consistia em separar a região do resto do país. Em outras palavras, os três estados do Sul se transformariam em colônia de Berlim, expressão literal usada. (...)
          Dizer que a Argentina poderia ter sido o trampolim para uma invasão do Sul do Brasil, com apoio alemão, e que o Rio Grande, Santa Catarina e Paraná, então isolados fisicamente do Brasil, viessem a constituir uma colônia alemã deve nos parecer hoje fantasia. Não, porém, se tivermos em mente que, em 1940-41, o Terceiro Reich era senhor absoluto da Europa, dispunha de bases na África, justo em frente do Brasil, frotas de submarinos, e contava com a cooperação das poderosas e bem-organizadas colônias alemãs na Argentina e no Sul do Brasil, já com seções do Partido Nazista em plena atividade.
          Não é segredo que gerações sucessivas de militares brasileiros estiveram persuadidas da inevitabilidade de uma guerra com a Argentina. Nossa região militar mais bem-equipada foi sempre a terceira, no Rio Grande do Sul, e o traçado de nossas estradas visou, por muito tempo, a não facilitar a penetração do inimigo.
          O fato de o Brasil ter mais do que o triplo da área e da população da Argentina constituiu, naturalmente, motivo de preocupação para gerações consecutivas de homens públicos, empenhados na reversão dessa cruel realidade.
          (...)
          Mesmo se Hitler perdesse - era o raciocínio -, os súditos do Eixo poderiam se deslocar com seus recursos financeiros e técnicos para a Argentina. Mas, se ganhasse, a Argentina seria a única nação americana com o direito de atravessar fronteiras e resolver definitivamente seus problemas geopolíticos, firmando-se no continente como a nação líder. Comentário de Mário Martins, o jornalista que renunciou à função burocrática no nosso escritório comercial em Buenos Aires para se concentrar na investigação do que estava realmente acontecendo à sua volta: "A Casa Rosada acompanhava a guerra na Europa como se fosse um espetáculo de bolsa de valores". A fórmula encontrada foi a cooperação subterrânea, via pseudoneutralidade que permitisse montar na América um trampolim contra as nações vizinhas, a começar pelo Brasil, que se preparava para lutar na Europa pela causa aliada, deixando as costas desguarnecidas e voltadas para as baionetas de Buenos Aires.

Fonte: Revista Nossa História - Ano 1 nº 12 - Outubro 2004

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Sem Palavras
Sem Palavras resgata as vivências dos descendentes de alemães sobre a perseguição ocorrida durante a Segunda Guerra Mundial no Sul do Brasil, região colonizada por alemães no século 19. A Campanha de Nacionalização do presidente Getúlio Vargas e a entrada do Brasil na Guerra em 1942, contra os países do Eixo, aumentou a repressão aos estrangeiros e imigrantes daqueles países. O documentário mostra um dos lados da história, relatado por quem era criança e descendente de alemão nos anos 1940. A memória é subjetiva, porém verdadeira, mesmo quando parece distorcida dentro da história oficial, essa sim muito mais complexa.
 Direção: Kátia Klock
Ano: 2009
Áudio: Português
Duração: 52 minutos

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