A cena é apenas narrada, sem imagens de
arquivo, mas mesmo assim, tocante. No fim do documentário “Pierre Verger:
mensageiro entre dois mundos”, um amigo do fotógrafo e etnógrafo conta que um
cabisbaixo Verger, já encerrando o expediente nessa vida, encontrou-se com ele
e a esposa. Quando a esposa perguntou o que Verger queria para melhorar o ânimo,
ele respondeu que uma guloseima que a sua mãe fazia, mas que seria impossível
de reproduzir. Ao descrever o que seria tal quitute, a mulher do amigo
percebeu: era rabanada! Correu para a cozinha para fritar o pão embebido de
leite e ovos, tascou açúcar e canela e o francês mais baiano da História comeu
chorando.
Talvez nem todas as histórias em relação à
rabanada sejam tão emocionantes, mas haverá quem diga que sempre “come
chorando” uma fatia dourada dessas. Além disso, se os momentos não são tão
marcantes assim, a oportunidade em que, hoje em dia, se come rabanada é única:
o Natal. Ou alguém – com exceção dos espanhóis – se empanturra de
pão-frito-doce no carnaval?
O antropólogo Raul Lody autor do “Dicionário do doceiro brasileiro”, além de “À mesa com Gilberto Freyre”, é outro desses que come o doce em qualquer época do ano. Ele explicou em um texto que a rabanada nasceu dentro de um contexto de reaproveitamento do pão, um ingrediente sagrado para os católicos por representar o corpo de cristo.
“Então, é costume não se jogar o pão fora, e se algum pedaço é desperdiçado deverá ser beijado, verdadeira reverência ao sagrado”, escreve ele.
O antropólogo Raul Lody autor do “Dicionário do doceiro brasileiro”, além de “À mesa com Gilberto Freyre”, é outro desses que come o doce em qualquer época do ano. Ele explicou em um texto que a rabanada nasceu dentro de um contexto de reaproveitamento do pão, um ingrediente sagrado para os católicos por representar o corpo de cristo.
“Então, é costume não se jogar o pão fora, e se algum pedaço é desperdiçado deverá ser beijado, verdadeira reverência ao sagrado”, escreve ele.
Como a grande maioria das tradições
natalinas, a rabanada também é importada. A origem é incerta, o mais provável
seja uma incorporação de hábitos franceses – daí como os anglófilos a chamam: French
toast. Há informações contraditórias, porém. Há
quem diga
- americanos, em geral - que seria uma receita espanhola da Idade Média. Outros dizem que fritar pão não tem
exatamente uma origem única, porque seria uma forma generalizada de melhorar o
gosto do alimento nosso de cada dia. Nesse caso, a primeira referência, segundo
o famoso dicionário de inglês Oxford, dataria de 1660.
Por último, há os partidários de que a citação original
de uma receita sobre fritar pão estaria em Apicius: "Aliter dulcia:
siligineos rasos frangis, et buccellas maiores facies. in lacte infundis,
frigis [et] in oleo, mel superfundis et inferes." – numa tradução bem
livre: "Um outro doce: Corte sigilinos [um tipo de pão de trigo] em
pedaços grandes. Banhe no leite, frite no óleo, mergulhe em mel e sirva".
Um outro nome dado para essa rabanada pré-cristã é pan dulcis.
Mesmo que não se tenha uma certeza, a
expressão como os conterrâneos de Verger chamam o quitute pode explicar um
pouco sua origem: pains perdus, que quer dizer “pão perdido”
literalmente. Apesar de hoje já venderem pão para rabanada e usarem outros
tipos de pães, brioches ou panetones como matéria-prima, o único ingrediente
que se repete na imensa maioria das receitas é: pão do dia seguinte. As
receitas se referem ao pão que não se pode mais comer porque está duro, um pão
dormido, um pão perdido. Portanto, a rabanada é uma forma de salvar o
pão. Muito natalino, não?
Outro termo que tem um pouco da explicação da origem – ou pelo menos, de um dos usos – da rabanada é como parte de Portugal as chama: pão parida, ou somente fatias de parida, ou o nome inteiro: pão de mulher parida. Misture pão (trigo), ovos, leite, açúcar e frite, e você tem, além de rabanadas, uma bomba calórica, cheio de energia. Dizem que era bom para mulheres amamentando porque daria leite. E também explica um pouco o costume de comer as Fatias douradas (outro nome português que é autoexplicativo) no nevado Natal europeu: se esquentar de dentro para fora.
Por fim, a origem de “rabanada”. O mais provável seja uma adaptação do espanhol “rebanada” que quer dizer... fatias. Imagine fritar uma baguete?
Como qualquer texto sobre rabanadas não estaria completo sem uma boa receita, clique aqui para saber uma do padeiro francês Olivier Anquier.
Outro termo que tem um pouco da explicação da origem – ou pelo menos, de um dos usos – da rabanada é como parte de Portugal as chama: pão parida, ou somente fatias de parida, ou o nome inteiro: pão de mulher parida. Misture pão (trigo), ovos, leite, açúcar e frite, e você tem, além de rabanadas, uma bomba calórica, cheio de energia. Dizem que era bom para mulheres amamentando porque daria leite. E também explica um pouco o costume de comer as Fatias douradas (outro nome português que é autoexplicativo) no nevado Natal europeu: se esquentar de dentro para fora.
Por fim, a origem de “rabanada”. O mais provável seja uma adaptação do espanhol “rebanada” que quer dizer... fatias. Imagine fritar uma baguete?
Como qualquer texto sobre rabanadas não estaria completo sem uma boa receita, clique aqui para saber uma do padeiro francês Olivier Anquier.
Saiba Mais: Documentário
Pierre Verger: mensageiro entre dois mundos
Verger:
Mensageiro entre Dois Mundos traz um importante trabalho de pesquisa realizado
pelo diretor Lula Buarque e o roteirista Marcos Bernstein (Central do Brasil),
que estiveram na África, na França e na Bahia em busca da trajetória do
fotógrafo e etnógrafo francês Pierre Verger.
Gilberto
Gil é quem narra e apresenta Verger: Mensageiro entre Dois Mundos. O filme traz
a última entrevista de Pierre Verger (filmada um dia antes de seu falecimento,
em 11 de fevereiro de 1996), além de extenso material fotográfico, textos
produzidos por Verger e depoimentos de amigos como o documentarista Jean Rouche
(Musée de l´Homme, Paris), Jorge Amado, Zélia Gattai, Mãe Stella, Pai Agenor Maurice
Baquet, Mestre Braga, Mestre Zé Carlos, Mestre Curió, Mestre João Grande,
Mestre Neco, Mestre Pastinha, Mestre João Pequeno e o historiador Cid Teixeira.
A
tão famosa ponte criada por Verger entre a cultura negra na Bahia e na África,
rompida desde os anos 40, é reestabelecida no filme quando Gilberto Gil refaz o
papel de Mensageiro e percorre os mesmos caminhos do fotógrafo.
Outra
descoberta de Verger apresentada no filme, são os descendentes da única
colonização feita por brasileiros: os "Agouda", africanos, habitantes
do Benin e da Nigéria, que ainda hoje cultivam influências brasileiras trazidas
por ex-escravos que retornaram do Brasil ao continente africano
Direção: Lula Buarque de Hollanda
Áudio: Português/Legendado
Duração: 83 minutos
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