O setor financeiro internacional recebeu
apenas em 2008, quase dez vezes mais recursos públicos do que todos os países
pobres do planeta nos últimos cinquenta anos. O dado foi divulgado pela
campanha da Organização das Nações Unidas (ONU) pelas Metas do Milênio,
destinada a combater a fome e a pobreza no mundo. Enquanto os países pobres
receberam, em meio século, cerca de US$ 2 trilhões em doações de países ricos,
bancos e outras instituições financeiras ganharam, em apenas um ano, US$ 18
trilhões em ajuda pública.
A ONU alertou que a crise econômica
mundial piorará ainda mais a situação dos países mais pobres, lembrando que, na
semana passada, a Organização para a Agricultura e Alimentação (FAO) afirmou
que a crise deixará cerca de 1 bilhão de pessoas passando fome no mundo.
A revelação foi feita no início de uma
conferência entre países ricos e pobres, que ocorre na sede da ONU, em Nova
York, para debater o impacto da crise. Segundo o diretor da Campanha pelas
Metas do Milênio, Salil Shetty, esses números mostram que a destinação de
recursos públicos ao desenvolvimento dos países mais pobres não é uma questão
de falta de recursos, mas sim de vontade política.
“Sempre digo que se você fizer uma
promessa e não cumprir é quase um pecado, mas se fizer uma promessa a pessoas
pobres e não cumprir, então é praticamente um crime”, disse Shetty à BBC. “O
que é ainda mais paradoxal”, acrescentou, “é que esses compromissos (firmados
pelos países ricos para ajudar o mais pobres) são voluntários”. “Ninguém os
obriga a firmá-los, mas logo eles são renegados”, criticou o funcionário da
ONU.
Um dos efeitos desta perversa distorção
foi apontado pela FAO: a quantidade de pessoas desnutridas aumentará no mundo
em 2009, superando a casa de um bilhão. “Pela primeira vez na história da humanidade,
mais de um bilhão de pessoas, concretamente 1,02 bilhão, sofrerão de
desnutrição em todo o mundo”, advertiu a entidade. A FAO considera subnutrida a
pessoa que ingere menos de 1.800 calorias por dias.
Do total de pessoas subnutridas hoje no
mundo, 642 milhões concentram-se na Ásia e na região do Pacífico e outras 265
milhões vivem na África Subsaariana. Na América Latina e Caribe, esse número é
de 53 milhões de pessoas. Em 2008, o total de desnutridos tinha caído de 963
milhões para 915 milhões. O motivo foi uma melhor distribuição dos alimentos.
Mas com a crise, o quadro de fome no mundo voltará a se agravar. Segundo a
estimativa da ONU, um milhão de pessoas deverão passar fome no mundo nos próximos
meses.
Saiba
Mais – Documentários
Trabalho
Interno (Inside Job)
Dirigido por
Charles Ferguson e retrata os lados obscuros de Wall Street. Narrado pelo ator
Matt Damon, revela verdades incômodas da crise que teve início com a quebra do
banco americano Lehman Brothers.
Com base em uma
extensa pesquisa e séries de entrevistas com políticos, economistas,
jornalistas e personalidades do setor financeiro – como o mega investidor
George Soros –, o filme revela as corrosivas relações e o jogo de interesses
entre governantes, agentes reguladores do sistema financeiro e o mundo
acadêmico.
Os depoimentos – em
certos momentos concedidos de forma exaltada – e as entrevistas com alguns dos
envolvidos no episódio – nitidamente contrariados diante das questões colocadas
pelo diretor Charles Ferguson –, revelam ainda o esquema de mentiras e condutas
criminosas, inflado pelos altos salários e pelos bônus bilionários oferecidos
aos executivos do mercado financeiro.
Ferguson não poupa
republicanos nem democratas: culpa ex-presidentes dos dois partidos, começando
por Ronald Reagan, que assumiu o comando dos Estados Unidos em 1981 – ou seja,
27 anos antes da eclosão da crise –, passando pelos governos Bush (pai) e Bush
(Jr.), Bill Clinton até Barack Obama.
Segundo o
documentário, no governo Reagan teve início o processo de desregulação do setor
financeiro, com a suspensão de diversas barreiras de segurança que poderiam ter
evitado as operações de risco e as fraudes financeiras nas demonstrações
contábeis dos bancos.
Esse descaso em
nome de uma suposta melhoria nas condições de competição do sistema financeiro
americano criou situações assombrosas, como a existência de um único
funcionário responsável na Securities and Exchange Commission (SEC) – o órgão
similar à Comissão de Valores Mobiliários (CVM) no Brasil - por toda a gestão e
fiscalização de exposição ao risco do mercado financeiro. Ferguson revela
também as medidas desastrosas do Federal Reserve, o Banco Central dos EUA,
potencializadas por uma condução governamental perigosa para a sustentabilidade
econômica, num caldeirão com boas doses de corrupção, vista grossa e irresponsabilidade.
Direção: Charles Ferguson
Duração: 108 minutos
Grande
Demais Para Quebrar (Too Big to Fail)
Direção: Curtis Hanson
Duração: 98 minutos
1929: A
Grande Quebra (1929: The Great Crash)
Direção: Joanna
Bartholomew
Áudio: Inglês/Legendado
Duração: 60 min
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